Tecnologia e qualidade, marcas da Vinícola Kranz, em Treze Tílias
Em reportagens especiais ao longo da semana, conheça empresas catarinenses inovadores e que investem em produção de alta qualidade aliada ao turismo regional
Visitar a Vinícola Kranz, em Treze Tílias, proporciona uma experiência única. Os olhos quedam admirados à tecnologia utilizada e a funcionalidade da linha de produção, da mesma forma que as papilas são surpreendidas com os sabores dos vinhos e espumantes da grife Kranz. “Fui atrás de tecnologia industrial”, revelou o engenheiro Walter Kranz, um brasileiro obcecado pela qualidade, que antes de construir uma vinícola no centro da cidade em que nasceu, dirigiu a primeira planta da Mercedes Benz na China. “Estou fazendo um vinho especial, com identidade visual e qualidade, algo diferenciado de qualquer coisa produzida no Brasil, sou interessado nos detalhes”, explicou o empresário, admitindo que a produção de vinho não é autossustentável. “Por isso não comecei só com vinho, mas também com espumantes, sucos, geleias e doces. Vinhos e delicatessem”, contou.
O público alvo são os amantes do vinho e turistas que visitam o tirol brasileiro. “Todos os projetos foram executados em parceria com o Sebrae, a Epagri ou a Embrapa”, contou o empreendedor, que faturou o Prêmio Nacional de Inovação 2013, promovido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Além disso, Walter Kranz fez mais de 50 modificações e registrou 16 patentes nas máquinas italianas utilizadas para processar uvas e outras frutas. “Passo know-how para a Embrapa. Meus experimentos são criações, estudo e também faço a parte prática”, explicou Kranz, cujo talento compreende o engenho e a arte – é o autor da ideia e o agente da sua execução.
Entre as modificações se destaca a redução da velocidade das esteiras que levam as uvas da câmara fria até o estágio anterior ao bombeamento para os tanques. A seleção final das uvas é feita sobre essas esteiras, quando os selecionadores, posicionados dos dois lados da máquina, retiram manualmente os grãos consideradas fora do padrão. “Os cachos aqui no Brasil são mais comprometidos que na Europa e requerem mais tempo para selecionar”, esclareceu Kranz, que atribui em grande parte a qualidade dos vinhos e espumantes que produz à rigorosa seleção. “São 14 pessoas selecionando grãos maduros e sadios, escolhidos como grãos de feijão”, comparou.
Outra alteração simples, mas importante para a funcionalidade da vinícola, foi a introdução de rodas em todos os equipamentos. A mobilidade permite alinhar as máquinas para processar uvas de manhã e modificar a disposição delas para maçã, morango ou laranja à tarde. A analogia com uma linha de montagem de automóveis é inevitável. “O controle de temperatura e umidade é automatizado, acompanho pelo celular”, afirmou o empresário, que também implantou um sistema de rastreabilidade das uvas e de numeração das garrafas.
Santa Catarina é destaque nacional na produção de vinhos de altitude, muitos deles premiados internacionalmente. Mas será que para tomar um bom vinho é necessário gastar muito? O produtor de Treze Tílias Walter Kranz responde:Esse vídeo é parte de reportagem produzida pela Diretoria de Comunicação Social sobre a produção de vinhos de altitude em Santa Catarina, área que não para de crescer e já assume posição de ponta no país, gerando renda e empregos no estado.
#destaqueSC #vinhonacional #economia #produção #TVAL #AgênciaAL #RádioALSanta Catarina é destaque nacional na produção de vinhos de altitude, muitos deles premiados internacionalmente. Mas será que para tomar um bom vinho é necessário gastar muito? O produtor de Treze Tílias Walter Kranz responde:Esse vídeo é parte de reportagem produzida pela Diretoria de Comunicação Social sobre a produção de vinhos de altitude em Santa Catarina, área que não para de crescer e já assume posição de ponta no país, gerando renda e empregos no estado. O material vai ao ar em breve nos veículos da Assembleia Legislativa, aguarde!
Posted by Assembleia Legislativa de Santa Catarina - Alesc on Quinta, 9 de abril de 2015
Descobrindo o vinho
Foi na China que Walter Kranz descobriu o vinho. “As bebidas lá são muito alcoólicas”, justificou. Logo que retornou ao Brasil, o empresário colocou em ação um plano de negócios, entre eles uma vinícola. “Fui o primeiro a buscar uva no parreiral com câmara fria. Tiravam sarro, hoje todo mundo usa câmara fria. Mando as caixas desinfetadas e não deixo colocá-las no chão. Não pode haver contaminação, depois é quase impossível descontaminar”, descreveu. A Vinícola Kranz não tem parreirais próprios e a matéria-prima é fornecida por produtores parceiros. “As uvas vêm dos vinhedos Susin e Hiragami, de São Joaquim e, até 2013, também da Casa Pisani, da Serra do Marari, em Tangará”, revelou o vitivinicultor. “São produtores tecnologicamente mais avançados. Temos uma parceria, metade do vinho é deles”.
Um dos mais recentes parceiros é o produtor Nelson Edson Ubaldo, de Campos Novos, um impulsionador do plantio e produção de vinhos finos em Santa Catarina. “Estamos fazendo o Ubaldo by Kranz, anunciou o vitivinicultor, explicando que se trata de um Cabernet Sauvignon. “Cerca de 5 mil garrafas”, estimou. Apesar do acordo cooperativo com os produtores, Kranz pretende plantar videiras na região. “Não vou plantar o que já tem no mercado, quero uvas para tempero”, declarou o empresário, referindo-se à varietais como Petit Verdot, utilizada em pequenas proporções para dar mais qualidade a um corte (mistura de vinho da mesma varietal, porém de parreirais diferentes, ou de dois ou mais tipos de uvas).
Como fazer melhor?
Segundo Kranz, não há mais “pulo do gato” na elaboração de vinhos e espumantes. “Antigamente cercavam as parreiras com muros altos, ninguém sabia o que os caras faziam lá dentro. Hoje todo mundo sabe. A diferença não está mais no muro de quatro metros de altura, mas em ganhos no processo, uma soma de pequenas coisas”, afirmou o empresário. A matéria-prima dos vinhos Kranz, por exemplo, passa por três etapas de seleção. “A primeira acontece no parreiral, a segunda nos cachos e a terceira é grão por grão”, relatou o produtor, explicando que o mosto é estabilizado a frio e que o vinho não é filtrado. “Depois vai para barricas de carvalho francês”. As garrafas também são francesas, as rolhas portuguesas e a cápsula do espumante é italiana. “Não vou economizar na rolha, cada coisa me dá um milímetro de ganho, no final tenho 10 milímetros a mais do que os concorrentes”, declarou Kranz, garantindo que nos vinhos que produz não há adição de açúcar. “São vinhos honestos, confiáveis, mas conquistar mercado leva tempo”.
Em 2014 a produção foi de 70 mil garrafas. “Mas pode chegar a 10 mil”, observou Kranz, atribuindo a possibilidade de redução à qualidade da safra. O empresário comentou que não possui distribuidora e que as vendas são diretas, pela internet, ou na vinícola. “Não tenho intermediário”, comemorou. A estratégia de Kranz é fidelizar o consumidor. “Vou fazer melhor em 100 anos”, brincou.
O preço do vinho
Kranz contou à reportagem da Agência AL que desde os tempos de inflação utiliza a pizza como moeda de referência. “Trouxe a pizza para o vinho. Veja o Merlot 2009, estou vendendo a R$ 45, uma superoferta. A garrafa, a rolha, um rótulo bonito, o selo para sustentar o governo e o vinho dentro, envelhecido por seis anos, isso tudo custa uma pizza”, comparou. Para o vitivinicultor, o produto é “injustiçado pelo governo”, uma vez que metade do preço corresponde a impostos. “Lutar para baixar imposto? Não vai acontecer”, analisou. De acordo com o empresário, a margem de lucro do Merlot 2009 vendido a R$ 45 gira em torno de 20%. “Mas o mercado do vinho está melhorando, aquecendo”, destacou, enfatizando que as vinícolas do Vale do Rio do Peixe estão localizadas em uma “espécie de Califórnia brasileira”, o Meio Oeste. “O enoturismo cresce junto, um tchã a mais”.
Qualidade dói
Para o criador da Vinícola Kranz, o maior desafio não é alcançar altos padrões de qualidade, mas manter esses padrões. “Conforme o vinho vai ficando conhecido, a qualidade não aumenta, diminui”, reconheceu o produtor, que criticou a atitude dos empresários brasileiros de “passar a perna na qualidade”. “Por enquanto o mercado interno ainda absorve os malandrinhos, mas os desonestos não têm futuro”, previu, destacando que não há no país uma mentalidade de consumir qualidade. “Mas ela está vindo”, prognosticou.
Kranz citou um fato ocorrido na vinícola. “A mangueira que leva o mosto até o tanque escapou da máquina e cairam no chão uns 20 quilos de uvas moídas no chão. Dava para comer, mas caiu, o que vamos fazer? Todo mundo parou e olhou para mim. O lógico era juntar e colocar no tanque, mas jogamos fora. Qualidade dói”, ensinou.
Industrializar é preciso
Kranz defendeu a industrialização das frutas, como a maçã, produzida em larga escala na Serra barriga verde. “A produção mundial de maçã é de 63 milhões de toneladas. O Brasil produz 1,2 milhão de toneladas. Em média, o mundo industrializa de 30% a 40% da produção, enquanto o Brasil apenas 14%, o resto vai para consumo in natura”, lamentou Kranz. Para o empresário, o país deveria incentivar o consumo de sucos. “Imagine o Sul e o Sudeste com 50% das crianças tomando um suquinho por semana. São cerca de 10 milhões de crianças, mais de 30 milhões de maçãs por semana, 120 milhões de frutas por mês, 1,4 bilhão de frutas por ano, quase mil famílias plantando”, estimou o empreendedor. Atualmente, a Vinícola Kranz trabalha na formulação de sucos mistos. “Quando comecei com sucos de maçã me disseram ‘ninguém toma suco de maçã no Brasil’. Respondi ‘não tomam porque o suco não é bom’. Hoje posso dizer que sou o pai do suco de maçã no Brasil”.
Vinhos e espumantes Kranz
A equipe da Agência AL degustou um espumante Rosê Brut, elaborado com uvas Cabernet Sauvignon e Merlot. “Este não está a venda”, revelou o produtor, justificando que aguardava o rótulo com a inscrição “Charmat longo”. “Ficou 24 meses sobre o mosto, enquanto o processo normal é de oito ou nove meses”, comparou. A experiência impressiona paladares. A bebida é suave o bastante para o provador conferir o rótulo, “é brut mesmo?” A acidez só é perceptível porque a saliva entra em ação para reequilibrar o pH da boca. “É economicamente inviável, produzimos 6 mil garrafas no lote de 2012”, afirmou Kranz. A reportagem também provou o Merlot 2009. O vinho superou a expectativa. Está no mesmo nível de bons merlots argentinos vendidos em Bernardo de Irigoyen, na fronteira com Dionísio Cerqueira, por R$ 50, valor superior aos R$ 45 cobrados pela Vinícola Kranz, tanto pela internet, quando na sede, em Treze Tílias.
Uma constatação e um convite
“O maior inimigo do vinho nacional é o desconhecimento sobre o vinho nacional. Não há confiança porque falta conhecimento. Venha conhecer a Vinícola Kranz, em Treze Tílias”, desafiou o empresário.
Reportagem de Vítor Santos/Agência AL
Vídeos e fotografias de Fábio Queiroz/Agência AL
Agência AL