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22/07/2015 - 17h20min

A experiência da casa Panceri: de 1953 a 2015

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Celso Panceri, vitivinicultor e presidente do Sindivinho, aposta no cultivo de uvas mais rústicas para aumentar a produtividade. FOTO: Fábio Queiroz /

A família Panceri cultiva videiras na Serra do Marari, em Tangará, desde 1953. “Meu pai, Nilo, veio da cidade para o interior para cultivar uvas em terras altas, tinha preocupação com a geada. Ele também sabia de um fator fundamental, insolação, por isso o parreiral está voltado para o norte, para ter mais sol”, contou Celso Panceri, que com o irmão Luiz, toca o negócio da família. Atualmente, dos 16 hectares de parreirais saem uvas Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot, Montepulciano e Teroldego. Até 1990 os irmãos vendiam as frutas in natura e produziam vinho para consumo próprio, mas a necessidade de aumentar a renda levou-os a industrializar a produção. “A partir daí começamos um trabalho de divulgação, participando de concursos e premiações”, revelou Celso, explicando que na época faziam vinhos de mesa.

No final dos anos 1990, a sugestão de um empresário do Sul do estado mudou o foco dos Panceri. “O Dilor Freitas nos visitou e incentivou nosso trabalho. Vendíamos o vinho a R$ 8 a garrafa, ele experimentou e disse ‘vale mais, pelo menos R$ 20’”. A observação de Freitas, que na época iniciava a construção da Vila Francioni, em São Joaquim, despertou nos irmãos o apetite pelos vinhos finos e antecipou a busca pela qualidade. Em 2002 a Vinícola Panceri contratou o primeiro enólogo. Dois anos depois já exportava vinhos. “Em 2004 um grupo de produtores começou a viajar o mundo mostrando o potencial dos vinhos nacionais. Fui junto. Hoje temos negócios em Londres, nos Estados Unidos, exportamos sucos para aAmérica Central e fomos os primeiros produtores de vinho a entrar na Guatemala”, revelou.

Em 2014 as exportações representaram 5% do faturamento da vinícola. “Não é muito significativo, mas o nome vai e o marketing que isso traz leva ao reconhecimento da marca, não somente nos Estados Unidos, mas também pelo brasileiro”. Celso contou que certo dia atendeu um telefone da República Tcheca. “Eram brasileiros que encontraram o vinho Panceri em um restaurante de Praga. Ficaram loucos, acharam exótico, ligaram na hora e tempos depois vieram aqui”. Apesar da dificuldade de acesso, a Vinícola Panceri recebe turistas de todo país. “Eles vêm para comprar vinhos, para conhecer nossa história, o que fizemos, de onde viemos e para aonde queremos ir”.

Qualidade e produtividade

Na vitivinicultura, como em outros setores agroindustriais, há uma corrida pela qualidade e pela produtividade. As varietais mais comuns na região, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Shiraz, Cabernet Franc, segundo Panceri, têm baixa produtividade no chamado terroir catarinense de altitude. “Essas variedades foram mal escolhidas, são mais sensíveis ao clima, produzem menos e o manejo é mais complicado”, descreveu. Além disso, muitos produtores de uvas utilizadas na elaboração de vinhos de altitude recorreram à técnica da diminuição da produtividade para melhorar a qualidade dos grãos. A indução de uma menor produção de cachos faz com que a videira concentre todo o esforço para perpetuar a espécie em uma quantidade menor de frutos, aumentando a qualidade da uva.

Essa redução forçada em varietais que naturalmente são menos produtivas na serra catarinense impactou ainda mais o custo de produção. “Na Argentina, que não chove, a produtividade chega a 30 toneladas por hectare, enquanto no Brasil fica em torno de seis toneladas”, comparou Panceri. “Não é o imposto que faz com que o vinho nacional seja mais caro, é o custo de produção. Lá a tributação é sobre um custo de R$ 5 e aqui é sobre R$ 10”, exemplificou. A solução? Os irmãos estão optando por variedades rústicas, mais produtivas na serra catarinense, de fácil manejo e com ciclo curto. “Uva que vinifica e já coloca no mercado, sem necessidade de amadurecer”, ressaltou o produtor, que preside o Sindicato da Indústria do Vinho de Santa Catarina (Sindivinho).

Dentro dessa especificação, segundo o enólogo da casa Panceri, Marcel Giovani Salante, destacam-se as variedades Barbera, Bonarda e Teroldego. “Estamos avaliando  o que é possível mudar com novas variedades. Todo mundo produz Cabernet Sauvignon, somos mais um, mas um Teroldego poucos têm para oferecer”, analisou Salante. As características frutadas e harmônicas dos vinhos derivados dessas uvas, segundo observou Panceri, são mais adequadas ao gosto do brasileiro. “Estive no Piemonte, na Itália, vi o cultivo da Barbera e quero introduzir a variedade no Brasil, na verdade reintroduzir, porque já a cultivávamos antes dos anos 1970”, afirmou.

Dificuldade para cair no gosto

O presidente do Sindivinho reconheceu que a experiência dos brasileiros com o vinho nacional “não é lá aquelas coisas” e que essa frustração com a qualidade contribuiu para manter baixos os níveis de consumo da bebida no Brasil. “Ainda não temos o hábito de consumir vinho, mas estamos avançando”, afirmou. Para o produtor, a partir da abertura às exportações, em 1990, uma grande variedade de vinhos, principalmente originários do Mercosul, entrou no país, repercutindo no hábito e no paladar do consumidor. “O brasileiro adaptou seu gosto aos vinhos argentinos, chilenos, uruguaios, mais leves e harmônicos, enquanto os vinhos nacionais são mais ácidos, mais tânicos, mais adequados para amadurecer”, avaliou Panceri. Por isso a aposta nas varietais Barbera, Bonarda e eroldego. “Vou investir nessas variedades para chegar a um bom vinho, para atender o gosto do brasileiro.”

Problemas de distribuição

Celso Panceri afirmou que as vinícolas enfrentam sérios problemas para distribuir a produção. “A logística de venda é complicada. O restaurante quer que você leve três ou quatro caixas e dê uma de presente para degustação. Compram barato e vendem caro, a R$ 100, R$ 150, eu sei que não custa isso”, lamentou, admitindo que o preço alto afasta o consumidor do vinho nacional e o aproxima do importado.Além disso, segundo Panceri, o mercado do vinho está praticamente dominado pelas importadoras. “São as importadoras que fazem a venda”. E entre vender um vinho nacional e um importado, a opção é pelo lá de fora. “Por que vou vender um vinho e ganhar R$ 10 a garrafa, se posso vender um importado e faturar R$ 30, R$ 50, ou até mais?”, questionou o empresário.

Interesse dos italianos

Panceri também contou à reportagem da Agência AL que os italianos que engarrafam pró-seco (um tipo de espumante) estão interessados em adquirir  terras na América do Sul. “Estão prospectando na região de Campos Novos e Curitibanos e no pampa uruguaio. Na Itália não tem mais área cultivável e precisam aumentar a produção para atender o mercado chinês, mas querem terras mecanizáveis”, explicou. De acordo com o produtor de Tangará, a mecanização do cultivo da uva já atinge 70% do processo. “Hoje tem poda mecânica, controle de pragas, pulverizações, limpeza, manejo da folha, a máquina quase substitui o homem, sobrou o detalhe”, afirmou. Na serra catarinense ainda predomina o manejo manual da parreira.

Vinhos e espumante Panceri

A equipe da Agência AL degustou dois vinhos tintos e um espumante da grife Panceri. O espumante foi elaborado a partir de uvas Sauvignon Blanc que fermentaram nove meses sobre as borras. A bebida é cremosa e suave. “É harmonioso”, definiu o enólogo Giovani Salante. Já para o dono da vinícola, o espumante proporciona maior rentabilidade. “O retorno financeiro é rápido, no máximo dois anos”, estimou o empresário. Em seguida Celso serviu um Merlot, Reserva, 2006, um vinho maduro. “Não era bom no início, colocamos na promoção porque não tinha expressão, mas de repente começou a modificar”, contou, explicando que no caso desse vinho era preciso decorrer o tempo de amadurecimento. “A longevidade é um ponto forte desse Merlot, mas tem frescor e aroma”, garantiu o enólogo. Por último, a equipe provou o vinho símbolo da vinícola, um Teroldego, Reserva, 2008, denominado Nilo em homenagem a um dos pioneiros do cultivo da uva na Serra do Marari e pai dos irmãos Celso e Luiz. “É um vinho encorpado, aveludado, com aromas de frutas”, analisou o primeiro, enfatizando que se trata de um vinho diferente dos tradicionalmente elaborados em Santa Catarina.

Vítor Santos
Agência AL

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