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22/07/2015 - 00h00min

Vinícolas superam desafios no Vale do Rio do Peixe

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Diplomas atestam qualidade da produção vinícola catarinense. FOTO: Fábio Queiroz / Agência AL

Entre serras verdes e íngremes ou em meio à cidade, o enoturismo – turismo baseado na degustação do vinho, associado à cultura de vinhedos e à tradição regional – começa a se desenvolver no Vale do Rio do Peixe. Em destaque, as iniciativas das vinícolas Panceri, de Tangará, Kranz, de Treze Tílias e Santa Augusta, de Videira. “Só vinho não dá, é inviável, mas ele precisa sustentar a marca, o melhor possível e cada vez melhor”, afirmou Walter Kranz, proprietário da vinícola Kranz. Para Celso Panceri, da vinícola homônima, as alternativas são produzir sucos e espumantes, exportar e desenvolver o enoturismo. “Somente o vinho não é sustentável, apesar de muitos acreditarem na sua sustentabilidade”, advertiu o vitivinicultor, completando que o turismo “diversifica o negócio e aumenta a receita”.

O setor, porém,  enfrenta os desafios do pioneirismo. Além da vinícola, bar e loja, quem transpôr as primeiras dobras da Serra do Marari, em Tangará, ficará surpreso com o Museu do Vinho e sua valiosa coleção de objetos e equipamentos utilizados pelos pioneiros italianos no Novo Mundo. “A infraestrutura é o principal complicador, estou isolado no meio das montanhas, vir aqui é uma aventura, os visitantes são verdadeiros heróis, vêm porque têm muita afinidade”, reconheceu Celso, referindo-se à precariedade da estrada de terra que, saindo de Ibiam, conduz às terras da família.

A manutenção dessa estrada é um caso kafquiano. Como o terreno dos Panceri está localizado na divisa entre Tangará e Ibiam, há uma celeuma sobre a responsabilidade administrativa. “Em Tangará me dizem que o visitante entra por Ibiam e que só no final da estrada, no topo do morro, é que começa o município. E em Ibiam me falam que pago impostos em Tangará. É um dilema”, descreveu o empresário. Ibiam pertence à Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) de Campos Novos e Tangará, à SDR de Videira. “Achei que seria mais simples resolver esse problema”, declarou Celso, que é obrigado a incorporar os cantoneiros do passado, pegar a picareta e abrir valas na beira da estrada para escoar a água e minimizar os estragos causados pelas chuvas. “Fazemos isso várias vezes por ano”.

Já a Santa Augusta enfrenta dificuldade com a estrutura receptiva. “O turista sai da vinícola e não sabe para onde ir comer ou dormir”, afirmou Taline De Nardi, diretora do empreendimento, que oferece aos visitantes a opção de hospedagem em uma casa a poucos metros da sede. Além disso, a propriedade dos De Nardi dispõe de fonte de água termal, atualmente utilizada em um sofisticado ofurô, inspirado nas termas greco-romanas e instalado sob uma cúpula de vidro debaixo de árvores nativas. “Temos planos de construir um hotel”, revelou Taline.

Para driblar essas fragilidades, Walter Kranz ergueu sua vinícola no centro de Treze Tílias. “O objetivo foi dar acessibilidade ao turista, que não pode dirigir depois de beber”, observou o vitivinicultor, aproveitando o fluxo contínuo de visitantes e a rede hoteleira do tirol brasileiro para alavancar o negócio. “Não havia enoturismo em Treze Tílias, hoje recebo cerca de duzentas pessoas nos fins de semana. É um turista diferenciado, tem dinheiro, entra aqui por causa do vinho, sabe o que quer”, explicou Kranz. A vinícola não oferece ao visitante o contato direto com a parreira, mas exibe instalações e equipamentos tão funcionais e tecnologicamente avançados quanto uma planta de produção de automóveis. 

Já as casas Panceri e Santa Augusta têm vinhedos contíguos às sedes e proporcionam, conforme a estação do ano, o acompanhamento da poda, da floração e da colheita, três momentos marcantes da cultura da uva. “Eles chegam, conhecem a vinícola, experimentam vinhos e espumantes e depois vão para as parreiras, fazem até piquenique sob o parreiral”, contou Celso Panceri, que preside o Sindicato da Indústria do Vinho de Santa Catarina (Sindivinho). Para o dirigente sindical, o setor precisa de apoio do governo. “Minha leitura de mercado diz que o enoturismo tem de ser incentivado e divulgado, para difundir o potencial e a qualidade dos vinhos de altitude que produzimos”, avaliou Panceri. O empresário citou uma reportagem da Folha de São Paulo que elogiou o vinho Cabernet Sauvignon, Reserva, 2002, produzido pela vinícola. “Eram 3 mil garrafas, no dia que saiu a matéria vendi mais de 50% do estoque a R$ 54 a garrafa”.

O presidente do Sindivinho sugeriu aos órgãos públicos estaduais e municipais seguirem o exemplo da Federação das Indústrias (Fiesc), que serve apenas vinhos catarinenses nas festas e coquetéis que patrocina. Segundo o produtor, os departamentos de compras dos órgãos públicos não valorizam os vinhos nacionais. “Estive em muitas embaixadas e consulados brasileiros, eles têm vinhos franceses. Uma vez levamos vinhos para um evento da embaixada do Brasil na Finlândia e o embaixador não quis servir. Os jornalistas finlandeses viram tudo, tem coisa mais esdrúxula?”, questionou.

Panceri acredita que a solução para as vinícolas é intensificar o fluxo de turistas para aumentar as vendas de balcão. “Queria estar nos Estados Unidos, poderia ser uma vinícola sem expressão, produzindo vinhos médios. Lá eles vendem 50% da produção na sede, não gastam com distribuição. É que os americanos têm o hábito de ir até a vinícola”, explicou Celso, enfatizando que resolvendo problemas de acesso, de estrutura receptiva e divulgando o enoturismo, também os catarinenses e outros brasileiros se acostumarão a visitar vinícolas para comprar vinhos e espumantes.

Vítor Santos
Agência AL

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