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23/10/2017 - 15h37min

Segundo especialista, o ensino pode modificar o comportamento do autista

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FOTO: Solon Soares/Agência AL

De acordo com a professora Alzira Cândido Lopes, especialista em educação especial, é possível modificar o comportamento do autista através do ensino. A afirmação ocorreu durante o seminário “Desafios e potencialidades dos autistas”, realizado nesta segunda-feira (23) no Clube Navemar, em Navegantes.

“O comportamento do autista pode ser modificado através do ensino, não precisa nascer e morrer do mesmo jeito, pode aprender a ser diferente, mas para ensinar é preciso conhecer o autista, estudar, se especializar e respeitar cada um do jeito que é”, argumentou Alzira Lopes.

A professora exemplificou. “Sabe aquela criança que só come danoninho? Ela está dizendo para a mãe ‘só aceito comida com textura pastosa, cheirando a morango e gelado’. Então tudo o que tiver cor rosa, for gelado, cremoso e com sabor de morango a criança vai aceitar comer”, informou a especialista, que enfatizou que se a tendência for detectada no período de estimulação, “é possível modificar o comportamento”.

Além disso, Alzira Lopes defendeu o atendimento individual e personalizado dos autistas. “Cada caso é um caso. Vejam vocês a história de um menino de três anos que não dormia sem sapato e não suportava água, imagina dar um banho! Com dois anos de trabalho ele brincava descalço, dormia descalço, tomava banho, brincava com bola molhada e corríamos no campo orvalhado descalços. Ele continua sendo autista, mas eliminou essas esquisitices, claro tem outras tantas, mas deixa ele viver”, destacou Alzira.

Segundo a educadora, o ensino dos autistas também depende do envolvimento da família. “A família tem de participar do processo, os professores precisam ouvir o que as famílias têm a dizer para verificar do que o autista gosta, o que o incomoda, o que o satisfaz, isso vai fazer com que a gente atenda melhor as nossas crianças”, garantiu a pedagoga.

Troca de professor
Alzira Lopes ainda destacou a descontinuidade do trabalho do professor quando há mudança de turma e de série. “Essa descontinuidade atrapalha e muito a vida da criança, principalmente quando ela começa a se desenvolver. Mas este sujeito vai ter que passar por isso, é da vida, cabe a nós preparar essa transição, que não pode ser fria. Aí entra de novo a família, ‘olha, você não conhece meu filho, suas rotinas, então vamos sentar nós três, o professor antigo e novo, para conhecer melhor a criança”.

Tratamento do autismo
Alzira Lopes ressaltou que o tratamento depende do grau do autismo, do início da intervenção e da metodologia aplicada. “Não sou contra o uso do medicamento, mas acho que o remédio deve entrar quando já esgotamos os recursos para mudar o comportamento”, avaliou a professora.

Asperger (autismo leve) x autismo de alto funcionamento
Alzira relacionou características que determinam se o autismo é leve (Asperger) ou de alto funcionamento.
O Asperger tem coeficiente intelectual acima do normal; o diagnóstico geralmente ocorre depois dos três anos; todos são verbais, com gramática e vocabulário acima da média; desejam ter amigos e se sentem frustrados pelas suas dificuldades sociais; desenvolvimento físico normal; interesses obsessivos de alto nível; quase não apresentam estereotipias; pensamentos obsessivos; memória superior à da população; aprendem a ler sozinhos; e frequentam escolas regulares.

Já no autismo de auto funcionamento o coeficiente intelectual é geralmente abaixo do normal; atraso no aparecimento da linguagem, 75% não falam e só 25% são verbais; gramática e vocabulário limitados; desinteresse com as relações sociais; nenhum interesse obsessivo de alto nível; os pais detectam os sinais por volta dos 18 meses; estereotipias frequentes em mais de 90% dos casos; podem ser alfabetizados; e podem ter memória superior à média da população.

Fique atento se ...
Entre dois e três meses a criança não faz contato com os olhos e tem choro intenso; seis meses e não sorri e não dá gargalhadas; oito meses e não acompanha você com o olhar quando se afasta dela; nove meses e não balbucia palavras e não estende os braços quando a mãe entra no quarto.

Um ano e não procura pela mãe e não dá tchauzinho; um ano e meio e ainda não pronunciou uma palavra inteligível; dois anos e ainda não elaborou nenhuma frase com começo, meio e fim.

O caso Felipe
“Felipe sofria muito bullying, mas o autista não está nem aí para os outros, ele não queria ter turminha, não queria fazer parte do grupo, queria ser ele. Aí cansaram de rir das esquisitices dele”.

“Tudo o que ele queria era passar no vestibular para Engenharia. Qual era a barreira? Fazer a redação, tudo que é abstrato, é difícil. Para o autista é pão-pão, queijo-queijo, então ele treinou frases e passou na redação”.

“Mas criança é como videogame, a próxima fase é sempre mais difícil! Não deu outra, seis meses depois a UFSC pediu ajuda. ‘Não temos paciência para lidar com as esquisitices do Felipe, chega se sacudindo, se mordendo’. Fui na sala conversar com alunos e perguntei ‘qual de vocês pretende ter filhos?’ Uns seis levantaram. ‘Quem levantou venha aqui na frente dizer que tem certeza de que seus filhos vão ser normais’. Ninguém veio para a frente”.

“Aí começaram a falar. ‘Ah professora, brigar por carteira não combina com um rapaz de 18 anos’. Ora, quando o Felipe entra, ele quer a carteira vazia, é o espaço dele, onde se sente seguro, porém os colegas chegavam antes para sentar no lugar dele, deixando-o desestruturado e ansioso, daí o professor não conseguia dar aula. Que bom que não me chamaram mais, muitas vezes o problema está colocado por conta da desinformação”.

Desafios à vista
José Nei Ascari (PSD), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, prestigiou a abertura do seminário sobre “as potencialidades do autismo” e relacionou as duas principais metas que desafiam pais e professores.

“Ainda há muita coisa a ser buscada, como uma condição financeira mais apropriada para garantir uma parceria significativa com as associações de pais e amigos do autista (AMAs), algo parecido com a verba repassada para as Apaes”, explicou José Nei.

O deputado também ressaltou a execução parcial da Lei Estadual nº 13.036/2013, de sua autoria, que criou a politica estadual do transtorno do espectro autista. “Precisamos trabalhar para colocar em prática os direitos constantes na lei, porque neste país leis não faltam, se elas fossem colocadas em prática viveríamos outra realidade”, argumentou o parlamentar, que admitiu que boa parte dos dispositivos da lei “não está sendo cumprida”.

Ascari convocou a comunidade a participar da luta em prol dos autistas. “As propostas, ideias e críticas das pessoas e instituições fizeram com que evoluíssemos muito nos últimos anos, quando assumi como deputado sequer tinha ouvido falar do autismo e hoje cerca de 30 entre as mais de 60 leis que aprovamos estão vinculadas ao segmento das pessoas com deficiência”, revelou o parlamentar.

Participação massiva
Cerca de 330 pessoas participaram do seminário sobre autismo promovido pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. O evento contou com a parceria da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, da Associação Catarinense de Autismo, da Associação de Pais e Amigos do Autista (Ama) de Navegantes e de Itajaí e da Prefeitura Municipal de Navegantes.


 

Vítor Santos
Agência AL

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