Filme mostra luta de operários que mudou a história da mineração
O cineasta Pena Filho está prestes a concretizar um projeto idealizado há mais de 20 anos quando conheceu a história da mineração catarinense. O filme “Das Profundezas”, de sua autoria e direção, vai contar nas telonas a saga dos mineiros que em 1987 paralisaram suas atividades e fecharam a ferrovia Tereza Cristina por melhores condições de trabalho nas minas da região de Criciúma. Como resultado, o grupo de trabalhadores conquistou a simpatia da população local, que fez coro nas suas reivindicações, e também o direito de administrar a massa falida da empresa que os empregava – transformando-a na Cooperativa de Extração de Carvão Mineral dos Trabalhadores de Criciúma (Cooperminas).
“O sindicato assumiu aquela massa falida e surpreendeu com a capacidade de organização e gestão. Devolveram o emprego a todos os trabalhadores, abriram novas frentes e cumpriram o compromisso de continuar retirando o carvão. Não conheço nada parecido no movimento sindical brasileiro. O nome do filme - Das Profundezas - reflete este movimento”, descreve o cineasta.
O filme está sendo gravado nas instalações desativadas da Mina 3, da Cooperminas, na cidade de Forquilhinha, e vai contar nas telonas a luta dos trabalhadores através do retrato ficcional de uma família de mineiros, entre 1964 e 1987. O sindicalismo de um dos filhos, o desaparecimento político do pai e as péssimas condições de trabalho nas minas dão o tom do longa-metragem.
Saúde dos mineiros
Na mesma época em que os mineiros organizaram e promoveram a greve contada no filme “Das Profundezas”, a prevalência de pneumoconiose (doença conhecida como pulmão negro) era de 5,6% entre trabalhadores de subsolo ativos. Os dados foram levantados pelo médico Eduardo Algranti, chefe de Serviço de Medicina da Fundacentro (órgão do Ministério do Trabalho ligado à saúde e segurança do trabalhador) e membro da Comissão de Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
O especialista desenvolveu uma tese sobre os efeitos das doenças pulmonares nos mineiros da região de Criciúma. Algranti afirma que hoje é possível extrair carvão em subsolo com a garantia da saúde do trabalhador, “desde que seguidas normas de higiene e segurança adequadas”. Porém, o médico ressalta como complicador na proteção dos trabalhadores o fato de os equipamentos de segurança serem desconfortáveis, dificultando a manutenção de um programa de segurança adequado.
Pesquisas para o filme
O cineasta Pena Filho contou com o apoio do ex-deputado estadual Milton Mendes (PT), natural de Criciúma, e do Sindicato dos Mineiros, para as pesquisas sobre o carvão, iniciadas em meados de 1993. A trajetória de lutas dos operários e os conflitos que marcaram a greve em 1987 foram o ponto de partida para a concepção do roteiro. O filme venceu o Prêmio Cinemateca Catarinense da Fundação Catarinense de Cultura de longa-metragem, relativo ao edital promovido pelo governo de Santa Catarina de 2010. A premiação veio confirmar a força para o projeto. “Não tivemos apoio do empresariado, pois para eles não é interessante mostrar a história dos trabalhadores”, reclama Pena Filho, ao defender o projeto, considerado modesto do ponto de vista de recursos para a produção.
Figurantes locais participam das gravações
O filme está sendo gravado até o fim de abril nas instalações da Cooperminas e na mina desativada. A produção conta 80 profissionais, entre técnicos e elenco, em quase sua totalidade catarinense. Outro destaque é a participação da comunidade no longa-metragem. Mais de 500 figurantes reais devem participar das gravações que remeterão aos conflitos da greve dos mineiros. Trabalhadores do carvão e a Polícia Militar também têm presença confirmada no set de filmagem. Uma réplica dos trilhos da ferrovia Tereza Cristina foi construída para compor o cenário do conflito.
“Das Profundezas” ainda não tem data para estrear nas telonas. Mas deve fazer parte de festivais de cinema a partir do segundo semestre. Segundo Pena Filho, o objetivo é ganhar apoio da crítica e espaço para exibição nas salas comerciais. “É uma história verdadeira e um projeto que está na contramão da linha atual do cinema brasileiro, que tem uma linha escapista. Este tipo de filme não costuma chegar ao grande público. O destino é ficar uma semana em cartaz. Nós somos estranhos em nosso próprio ninho”, lamenta.
Rádio AL
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