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19/04/2013 - 16h30min

A evolução no trabalho dos mineiros: da picareta ao controle remoto

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Homens do carvão: a evolução no trabalho dos mineiros. Foto: Miriam Zomer

“Não troco a mineração por nada. Posso dizer que tenho a mineração nas veias. Leandro, você trocaria a mineração por outro trabalho?!”, pergunta um engenheiro de segurança enquanto faz uma inspeção no interior de uma mina de carvão da região Sul de Santa Catarina. “Sim! Só troco por minha aposentadoria”, responde Leandro Borges de Oliveira, técnico em Segurança no Trabalho, que está na mineração há oito anos. O jovem de 29 anos, que deve se aposentar aos 36, é um exemplo de que a profissão de mineiro está longe da escravidão e continua atraindo muita gente ao setor carbonífero que gera mais de R$ 750 milhões por ano na economia catarinense.

As seis mineradoras que atuam na região de Criciúma empregam diretamente cerca de 4 mil funcionários, distribuídos em diversas funções que vão desde a extração do carvão no subsolo até o beneficiamento e o transporte. Em toda a cadeia produtiva do minério as novas tecnologias ganham espaço tornando viável a produção aliada à sustentabilidade ambiental e às melhorias constantes na qualidade das condições de trabalho dos mineiros.

Leandro já planeja a aposentadoria porque aqueles que estão em subsolo como ele, no desmonte do carvão das galerias subterrâneas a 150 metros da superfície, podem se aposentar com 15 anos de trabalho. “Comecei na pá, juntando restos de carvão. Depois fui ajudante de teto, de cabeçote e queimador. Decidi estudar e cresci aqui dentro”, comemora Leandro, que projeta cursar engenharia ambiental e seguir com consultorias após se aposentar como mineiro.

Jornada de 36 horas semanais
Os passos que Leandro planeja já foram dados por Valmir Gonçalves de Souza, o engenheiro de segurança que abriu esta reportagem. Valmir, com 42 anos, está há 22 na mineração do carvão. A satisfação está no semblante dele e no orgulho ao falar da profissão. “Tem conforto na medida do possível e bom salário. Não é preciso ter muito estudo. Aqui temos de realizar as atividades com o coração, respeito e companheirismo. Saber ouvir é muito importante.

Temos de ter cuidado, por se tratar de uma atividade de risco. Se é de risco, temos de oferecer a melhor segurança possível. Quando as pessoas entendem isso, trabalham melhor. As pessoas descem à mina com mais tranquilidade”, descreve.

A jornada semanal é de 36 horas. Algumas mineradoras, como a de Leandro e Valmir, têm turnos de sete horas e doze minutos, o que garante dois dias de descanso aos mineiros nos fins de semana. O trabalho é de 24 horas ininterruptas nas minas. Turnos de detonação, transporte do minério e manutenção das máquinas são intercalados.

Cigarro e bebida alcoólica são extremamente proibidos no subsolo. “É demissão por justa causa. Tem bafômetro também”, alerta Valmir. Há uma área de descanso e refeições com mesa e bancos, microondas para aquecer o lanche e bebedouro com água gelada para os trabalhadores. Eles descem e só voltam ao final do expediente. Se surgir emergência, há telefones conectados à base no solo.

Tecnologia na extração do carvão
Um sistema de esteiras transporta o carvão pelas galerias até a superfície. Os túneis têm em média 2,2 metros de altura e cinco de largura. Há funções específicas para os grupos de trabalho, oficinas, máquinas transportadoras e escavadeiras. “Tem gente que só opera controles remotos”, explica o engenheiro de segurança. Há uma sincronia perfeita e necessária no local iluminado com lâmpadas fluorescentes. Todos usam protetores auriculares e máscaras, pois o barulho é contínuo e há poeira. Os mineiros andam com lanternas nos capacetes e usam botas.

A temperatura constante no interior da mina é de 28°C. Tubos de exaustão e ventilação garantem ar puro lá em baixo. Os técnicos têm medidores para saber os níveis de gases tóxicos em determinados pontos da mina. “Antigamente, os equipamentos de segurança e de trabalho pesavam dez quilos. Hoje chegam aos quatro”, informa Leandro.

Segundo a Federação Interestadual dos Mineiros do Sul do País, o número de empregos indiretos na mineração catarinense chega a 35 mil. “A nossa visão é que as questões ambientais e tecnológicas para a produção e a das melhorias das condições de trabalho para os mineiros podem andar juntas”, afirma o presidente do órgão, Genoir José dos Santos, que vê como positivas as melhorias conquistadas pelos trabalhadores ao longo dos anos. O salário médio inicial do mineiro é de R$ 1.800, considerado alto na região. Alguns têm participação nos lucros das empresas.

50 candidatos por vaga aberta
Funções estratégicas e experiência garantem um salário ainda maior. Para técnicos de segurança, como Leandro, o salário médio é de R$ 4 mil. Engenheiros como Valmir recebem mais de R$ 10 mil por mês. “Meu filho me perguntou o que deveria estudar. Aconselhei o ensino técnico em mineração”, confessa Valmir. Ele também atua com consultorias para empresas do setor sobre as normas ambientais da ISO. “Para cada vaga que abre, aprecem pelo menos 50 para trabalhar”, afirma o engenheiro ao defender a profissão de mineiro.

As máquinas que dominam as minas de hoje eram um sonho na década de 1950 quando milhares de mineiros desciam ao subsolo sem as condições adequadas de segurança. Ruy Hülse, hoje presidente do Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina (Siecesc), lembra do tempo que usava uma picareta para extrair o carvão no subsolo.

“O desmonte do carvão era braçal. Praticamente não havia mecanização nenhuma”, lembra Ruy, hoje com 87 anos. Ele trabalhou quatro nas minas de Criciúma na época em que a furação para a retirada do carvão era seca, sem o uso de água, quando eram mais do que comuns os casos de doenças pulmonares graves que acometiam os mineiros, devido à poeira e falta de máscaras de proteção.

“Faz mais de 15 anos que não temos mais registros de casos de pneumoconiose”, comemora Ruy. A doença também é conhecida como pulmão negro, causada pela inalação da poeira tóxica do carvão. “Esperamos ainda mais tecnologia para melhorar a vida do trabalhador. A mineração não é um trabalho escravo. É difícil, mas é gratificante também”, assegura. Este cenário considerado digno pela maioria dos mineiros é o que deve receber o filho do engenheiro Valmir. O jovem, hoje com 15 anos, deve manter a tradição familiar do trabalho nas minas, comum na região Sul de Santa Catarina.

*Na última reportagem sobre o carvão confira por que a produção do minério e a luta dos trabalhadores viraram tema de filme, gravado na região de Criciúma com a participação de 500 figurantes locais.

Rony Ramos
Rádio AL

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