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23/04/2018 - 17h11min

Autismo: especialista recomenda empoderamento da família

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FOTO: Solon Soares/Agência AL

A doutora Márcia Regina Valiati, terapeuta ocupacional e pedagoga, recomendou o empoderamento das famílias dos autistas para minimizar as dificuldades. A sugestão foi dada durante o seminário “Autismo: inclusão e desafios atuais”, realizado nesta segunda-feira (23) no auditório da Udesc, campus de Laguna.

“A criança vai para a escola, para a terapeuta ocupacional, fonoaudióloga, psicóloga, natação, mas as terapias de nada servem se os pais não estiverem integrados e empoderados, porque as necessidades são das crianças e dos pais. No meu consultório não tem sala de espera, os pais têm de ver o que estou fazendo para poder trabalhar em casa”, explicou a terapeuta.

Márcia Valiati destacou as alterações que um autista causa na dinâmica familiar.

“Cada família reage de uma forma, fazendo com que a criança se desenvolva ou não. Primeiro vem o choque, depois a negação, em seguida a fase da reação, com altos e baixos, irritação, culpa e depressão e finalmente a fase de adaptação e de orientação”, indicou.

A terapeuta ocupacional ressaltou a sobrecarga na agenda dos pais, o desaparecimento dos amigos, o isolamento social e o comprometimento do lazer e da diversão familiar.

“Vamos mexer com essa família, ‘venham aqui, vamos ajudar vocês a trabalhar e a trocar experiências, tuas experiências podem ser úteis para outra famílias, vamos estabelecer uma estratégia para enfrentar o estresse’”, ensinou a pedagoga.

Além disso, Valiati reforçou a necessidade de interação entre a família do autista e a escola.

“A família não pode esconder da escola que ele toma medicamentos, que é agressivo ou alérgico. E a escola  precisa informar os pais ‘olha, estamos aprendendo sobre o mapa mundi’. É direito dos pais saberem o que os professores estão trabalhando, eles precisam saber para reforçar e ajudar em casa”, argumentou a especialista. 

Por último, Valiati pediu à família valorizar as potencialidades e minimizar as limitações.

“Os pais devem olhar mais para a criança e menos para as dificuldades, devem lembrar que não existe um manual, que cada ser humano é único, com suas potencialidades, competências e limitações”.

Inclusão na escola
Valiati enfatizou a promoção da inclusão através da escola, mas cobrou uma visão sistêmica, que junte os professores e os outros profissionais que trabalham com autistas.

“A convivência na escola pode ser desastrosa se não soubermos o que fazer e como fazer. Sou favorável à inclusão, mas temos de saber como fazer e neste processo os profissionais de saúde e de educação não podem trabalhar separados, temos de ter uma visão sistêmica”, garantiu Valiati, acrescentando que “incluir significa trabalhar com todos dentro das suas habilidades diferenciadas, aprimorá-las e desafiá-las”.

Por outro lado, segundo a especialista, a escola precisa se preparar para receber os alunos autistas.

“A escola tem de possibilitar ao professor capacitação, preparação, organização e adaptação, precisa dar ao professor suporte necessário à sua ação pedagógica, porque a criança não tem de se adaptar ao programa, mas o programa tem de se adaptar ao ritmo da criança, inclusão é isso”.

Estratégias em sala de aula
Valiati enumerou diversas estratégias que podem ser úteis em sala de aula, entre elas a alteração da disposição física da criança na sala e a sua estimulação, apresentando fotos, figuras e vídeos para acompanhar o conteúdo das aulas expositivas.

A pedagoga sugeriu o uso do computador, de quadro interativo, DVD, tablete, bem como o estabelecimento de um quadro de rotinas, com horários e sequências das atividades.

“A programação de rotinas proporciona previsibilidade, autonomia e tranquilidade, minimizando assim a ansiedade e estimulando a aprendizagem”, justificou Valiati.

Também orientou o uso de uma linguagem adequada à criança; o constante monitoramento do desempenho; o reforço positivo do bom comportamento e da aprendizagem.

Recomentou prazos curtos para as atividades; não oferecer muitos materiais; reduzir enunciados; usar frases objetivas e apenas com palavras-chave; propor menos exercícios por página; e substituir as questões dissertativas por atividades práticas.

Segundo professor de turma
Edite Sehnem, especialista em educação especial, explicou os casos em que os pais devem reivindicar um segundo professor na sala de aula.

“Quem tem direito ao segundo professor? As turmas com alunos com deficiência intelectual, transtorno do espectro autista e ou deficiência múltipla que apresentem comprometimento significativo nas interações sociais e na funcionalidade acadêmica. É importante que uma turma tenha dois profissionais na sala, mas se não trabalharem em conjunto, não adianta muito”, declarou Sehnem.

Autismo na adolescência
“O adolescente autista tem necessidades especiais, é um período individualista, quando afasto as pessoas que não quero, quando começo a fazer escolhas, então o autista adolescente se sente excluído, sabe que não pertence ao grupo, daí a importância de reconhecer as habilidades e o potencial, se não é bom com matemática, mas toca violino, é com violino que vai conquistar o outro”, ensinou a pedagoga.

Sexualidade na adolescência
Valiati insistiu que o autista não é doente e pode ter um desenvolvimento normal, inclusive sexualmente.

“O que ele vai fazer com a sexualidade é que é diferente. Se ele tiver uma ereção, pode se masturbar em qualquer lugar, o que ele precisa é de terapia comportamental cognitiva, para ensinar onde pode e onde não pode”, afirmou a especialista.

Um dia maravilhoso
Ricardo Alberto Jacob e Leila Hulmann Jacob ficaram encantados com o seminário. Eles são pais de uma criança de seis anos, cujo diagnóstico de autismo não foi conclusivo.

“Nosso filho ainda não tem diagnóstico fechado, tem o laudo do neurologista dizendo que os sintomas são compatíveis. Pode ser autismo leve ou asperger, ele é super inteligente, tem hiperfoco, fala bastante em inglês, conhece os modelos de carros e pontos turísticos do mundo todo”, descreveu Ricardo.

“Foi um dia maravilhoso, sempre tentamos pesquisar para conhecer mais sobre o autismo e hoje aprendemos muito”, revelou Leila, que elogiou a iniciativa da Assembleia Legislativa e da Secretaria de Educação de Laguna.

Parceria que dá certo
O seminário “Autismo: inclusão e desafios atuais” foi idealizado pela Escola do Legislativo Lício Mauro da Silveira e pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em parceria com a Associação Catarinense de Autismo (ASCA), Prefeitura Municipal de Laguna e Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE).

Prestigiaram o seminário os deputados Ricardo Guidi (PSD), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, e Valmir Comin (PP), além de professores da rede pública de Laguna e região, bem como pais e profissionais que trabalham com autistas.

 

 

Vítor Santos
Agência AL

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