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21/08/2017 - 07h36min

Seminário em Braço do Norte aborda diagnóstico e inclusão social do autista

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Seminário em Braço do Norte debate diagnóstico e inclusão social do autista.

Aproximadamente 350 pessoas, entre profissionais das áreas de educação, saúde e assistência social, representantes de entidades sociais e pais de autistas, reuniram-se no Centro de Convivência de Idosos do município de Braço do Norte nesta sexta-feira (18), para participar do seminário "Transtorno do Espectro Autista (TEA): Conhecer para Incluir",

O evento foi promovido pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, com o apoio da Associação Catarinense de Autismo (Asca), prefeitura e Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Braço do Norte.

Na abertura, o deputado José Nei Ascari (PSD), que preside a Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, afirmou que a proposta do seminário é possibilitar que pais e educadores saibam identificar o mais cedo possível eventuais sinais de autismo nas crianças, ampliando assim as possibilidades de tratamento do problema. "Este é o 15º evento que realizamos somente ao longo deste ano, nos quais compareceram cerca de 8 mil profissionais, o que demonstra a importância de levarmos estas capacitações para todo o estado. Sempre com o objetivo de disseminar as informações necessárias para a realização do diagnóstico precoce, que salva vidas e melhora a qualidade de vida das pessoas."

Aspectos clínicos do autismo
O seminário realizado em Braço do Norte teve como base as palestras ministradas pelo psicólogo e professor mineiro José Raimundo Facion, que possui pós-doutorado em TEA na Alemanha e é considerado um dos maiores especialistas do tema no Brasil.

No período da manhã, Facion traçou um histórico do desenvolvimento do conhecimento acerca do autismo, suas principais características, e os passos básicos para diagnosticá-lo.

Falando a um auditório lotado, o palestrante descreveu o autismo como um distúrbio  neurológico caracterizado por um comprometimento da interação social, comunicação verbal  e não-verbal, e comportamento estereotipado (restrito e repetitivo). De acordo com ele, o problema atinge quatro vezes mais meninos que meninas e, nos casos mais graves, a criança pode desenvolver ainda comportamentos destrutivos e autoagressivos, hiperatividade e retardo mental.

Ele observou que grande parte do que se conhece sobre o transtorno, entretanto, ainda é muito baseado na experiência prática, já que a medicina ainda não sabe com precisão o que o origina. "São constatações que foram feitas, mas até agora não sabemos exatamente o motivo, as causas exatas do autismo. Só sabemos que ninguém adquire autismo, a pessoa já nasce com ele e que há uma pré-disposição genética."

Sobre os diferentes casos de autismo, o especialista afirmou que ainda segue a quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-4, na sigla em inglês), elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria, considerado por ele mais preciso sob o ponto de vista científico.

A normativa reconhece diversas subclassificações para o autismo, tais como a Síndrome de Asperger e o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento. Já o atual DSM, em sua quinta versão, unifica todas estas variantes como um único transtorno, admitindo apenas variações no seu grau de intensidade (leve, moderado e grave). "Fizeram uma miscelânea [no DSM-5] por pressão americana e da indústria farmacêutica. Não consigo conceber misturar no Transtorno do Espectro Autista diversos quadros que têm semelhanças, mas não são iguais", argumentou.

Em seguida, ele apresentou os 14 passos para a identificação do TEA. "Se a criança apresentar pelo menos três, ela já pode ser considerada autista. E quanto mais forem identificados, maior o grau de acometimento da síndrome, o que pode se traduzir em possível associação de retardo mental e prejuízo na possibilidade de evolução do quadro", sentenciou.

  • Não se mistura com outras crianças;
  • Age como se fosse surdo ou hipersensibilidade ao barulho;
  • Resiste ao aprendizado;
  • Não demonstra medos de perigos reais;
  • Resiste a mudanças de rotina;
  • Usa as pessoas como ferramentas;
  • Risos e movimentos não apropriados;
  • Resiste ao contato físico;
  • Acentuada hiperatividade física;
  • Não mantém contato visual;
  • Apego não apropriado a objetos;
  • Gira objetos de maneira bizarra e peculiar;
  • Às vezes é agressivo e destrutivo;
  • Modo e comportamento indiferente e arredio.

Processo de inclusão
Dando sequência ao seminário, Facion abordou, no período da tarde, as condutas pedagógicas e terapêuticas envolvidas no processo de inclusão social e escolar do autista.

De início, o especialista ressaltou que ainda não existe cura para o autismo, mas que alguns procedimentos e tratamentos medicamentosos podem amenizá-lo. Especialmente determinados sintomas que se pretende mitigar, tais como agressividade, hiperatividades, estereotipias, transtornos alimentares e do sono, capacitando a criança a ingressar em terapias psicossociais. "A farmacologia tenta administrar alguns sintomas e não curar o paciente, visto que, não se sabe até hoje as causas destes transtornos. E não são todos os sintomas que terão um tratamento prioritário, mas sim os que põem em risco a vida das pessoas e os que prejudicam a sua aprendizagem."

Os chamados tratamentos complementares, tais como musicoterapia, equoterapia, reorganização neurológica, comunicação facilitada (PECS comunicação por figura), vitaminas, dietas, também podem trazer bons resultados à criança autista, afirmou.  "Ainda que nem todas já tenham comprovação científica, elas podem sim ajudar no aumento das oportunidades de comunicação, desenvolvendo a interação social e proporcionando conquistas."

Ao mesmo tempo, disse, a inclusão do autista não depende somente dele, mas também da sociedade, que deve rever sua visão sobre a pessoa com deficiência. "É preciso acabar com o estigma de que o deficiente é incapaz, é dependente, que não se integra socialmente, enfim, reconhecer o diferente, valorizando suas limitações e dentro dessas, planejar ações baseadas num desempenho significativo a favor do seu progresso, físico, social ou intelectual."

Neste sentido, ele ressaltou que a elaboração de um sistema que possibilite educar de forma inclusiva é complexo, demandando tempo e o engajamento de toda a equipe de profissionais envolvida. "Este é um trabalho coletivo, que envolve discussões, debates entre as mais diferentes esferas, como governo, sociedade, escola e individuo. Onde possamos discutir que escola queremos construir e que indivíduos pretendemos formar."

Ele finalizou sua fala ressaltando o papel do professor e a necessidade do seu contínuo aperfeiçoamento, para a promoção do desenvolvimento do estudante autista.  "O processo de inclusão proporcionado pelo professor é um desafio contínuo, no qual ele tem que responder às novas e crescentes expectativas projetadas sobre ele. Faz-se necessário, portanto, investir na sua capacitação, que favorecerá não só o aluno, mas também a família e a própria escola."

Homenagem
Ainda durante o seminário o deputado José Nei Ascari foi homenageado pelo trabalho realizado em prol das pessoas com deficiência.

As homenagens partiram do Conselho da Encosta da Serra, composto pelas Apaes da região;  dos paratletas José Ricardo Camilo Zapelini e Felipe da Rosa Borba, medalhistas nas últimas olimpíadas universitárias brasileiras, realizadas em julho deste ano; e da Associação de Pais e Amigos dos Autistas da Região Carbonífera. "Isso tudo serve como um estímulo muito grande para continuarmos nosso trabalho. Mas eu não tenho o conhecimento para tratar desses temas, só tenho vontade política para isto, por isso quem deveria ser homenageado são vocês, que lidam com todas as dificuldades do dia a dia e estão sempre dispostas a construir algo melhor", disse Ascari.

Ainda em sua fala ele anunciou que continuará apoiando todas as iniciativas que possibilitem a inclusão das pessoas com deficiência, sejam elas por meio das artes, mercado de trabalho, ou atividade esportivas.

Também participaram do seminário o secretário regional de Braço do Norte, Ricardo Medeiros; o presidente da Apae de  Braço do Norte, Bertilo Schlickmann; a secretária Municipal de Educação de Braço do Norte, Claudinéia Niehues; a promotora de Justiça do Ministério Público estadual em Braço do Norte, Luciana Pilati Polli; a  presidente da Associação de Pais e Amigos dos Autistas da Região Carbonífera (Amarec) Jandira Tomé Vieira; e a vice-prefeita de Cocal do Sul, Cilene Gonçalves Scarpato.

Alexandre Back
Agência AL

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