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23/07/2013 - 17h59min

Fragmentos da História: Irmoto Feuerschutte, o médico que virou prefeito

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Entrevista com Irmoto Feuerschuette, Ex-prefeito de Tubarão. Foto: Rony Alves de Ramos

Reportagem e fotos de Rony Ramos

 

Ele nasceu em Tubarão e cresceu ouvindo as conversas do pai e do irmão sobre medicina. Ainda no científico, Irmoto Feuerschutte assistia e auxiliava o irmão Ruy nas madrugadas no exercício da medicina, profissão que marcaria sua vida, ao lado da carreira política, apesar do conselho firme do pai, ainda muito claro na memória de Irmoto: “Você pode ser o que quiser. Só não seja político, meu filho!”

Como explicar então os dois mandatos de prefeito de Tubarão (1973-1976 e 1993-1996), o mandato de vice (1989-1992) e a suplência de deputado estadual (1978)? “Queria que Tubarão tivesse um ginásio de esportes. No dia da assinatura, fui receber o Dr. Colombo (Salles, governador) no aeroporto. De presente, ele me trouxe o livro de filiação da Arena”, lembra sorrindo Irmoto, que, além de jogador de vôlei e médico, se tornaria prefeito de Tubarão aos 31 anos de idade. “Eu era jovem e com muitas ideias. Era isso que o partido queria”.

A vontade de construir ginásios e quadras de esporte na cidade foi interrompida pela devastadora enchente de 1974 (segundo ano do seu primeiro mandato como prefeito), que fez muitas vítimas e destruiu a cidade. “A solução para o rio baixar foi dinamitarmos o canal Barra do Camacho para a água sair para o mar”, lembra Irmoto, ao creditar a recuperação da cidade ao apoio do então governador Colombo Salles e do presidente da República, general Ernesto Geisel. “Não me conformo até hoje de eles não terem um marco erguido na cidade em sua homenagem”, lamenta.

Se Colombo e Geisel não têm, seu pai, Otto Feuerschutte, tem um busto numa praça central de Tubarão, uma rua e um ginásio em sua homenagem. “Ele foi o maior médico que o Sul já teve”, orgulha-se ao falar do pai, cuja biografia está escrevendo. Filho de alemães, Otto dedicou-se por meio século ao exercício da medicina em toda a região. A amizade com nomes fortes da história política catarinense, como Hercílio Luz e Adolpho Konder, fez o médico seguir por este caminho e o levaram ao cargo de prefeito de Tubarão de 1923 a 1930 e à Assembleia Legislativa em 1928.

Legado na Saúde
Irmoto conta com orgulho das vezes que viu seu pai prestar tratamento médico de graça a pessoas carentes da região Sul. Tudo o que viu e aprendeu do pai e do irmão o fizeram seguir e se apaixonar pela medicina, na qual segue até hoje, aos 72 anos, como médico ginecologista. “Na minha profissão é muito bom poder tirar a dor de alguém. Ver um paciente em choque, tratar, operar e ver saindo do hospital andando novamente é muito bom”, resume ao justificar seu amor pela profissão.

Esta doação pela medicina acompanhou Irmoto durante sua passagem pela gestão da Secretaria Estadual da Saúde, durante o governo de Esperidião Amin (PP), em 1986 e 1987. Ele lembra modernização dos hospitais regionais de São José, Joinville, Araranguá, Ibirama e Chapecó em sua gestão.

“Fui com uma missão de operacionalizar os hospitais regionais. Pra mim, foi a maior obra que consegui fazer. Nos deu uma qualidade de medicina muito boa, porque o dinheiro empregado foi aplicado em equipamentos de ponta. Era tudo novo. Veio tudo da Alemanha. Lembro que a gente sentava e controlava 12 leitos de uma UTI de um painel”.

Faltam médicos, sobram especialistas
Irmoto tem uma opinião bem clara sobre a falta de médicos no interior do estado e do país, situação que fez o governo federal assinalar para a vinda de médicos do exterior. “Acho que precisamos formar médicos. Não estamos formando médicos e sim especialistas. Se suspeitam de uma coisa pela manhã, tem que esperar o especialista que só vem à tarde. Temos muitos especialistas e não temos médicos. Você tem que conhecer o ser humano primeiro para depois cuidar do coração dele ou fazer um parto”, critica o médico, que também leciona na Faculdade de Medicina na Unisul. “Não é problema monetário. Se tivéssemos mais clínicos e menos especialistas eles iriam para o interior”.

O cidadão Irmoto critica a falta de planejamento urbano nos dias atuais em sua cidade. Diz que há muitos carros e o planejamento não é para o futuro. “Precisamos pensar como na Europa. Quando fui vice-prefeito, fizemos uma grande ciclovia. As cidades têm de ser planejadas para o cidadão e nós pensamos para o automóvel”.

Povo nas ruas
O médico acredita na força do povo e elogia as manifestações ocorridas no país nos últimos dias. Porém, critica com força os atos de vandalismo praticados por alguns manifestantes em várias cidades do Brasil. “O governo está conduzindo muito macio este problema. O cara vai lá e quebra, rouba. Você sabe quem são os caras, que são presos e liberados”, analisa. Para ele, a TV perdeu a força para a influência da internet, o que tem levado os milhares de jovens às ruas. “O pessoal está cansado de ser anunciado, anunciado e não vê coisa alguma”, justifica.

Sobre a possibilidade levantada pelo governo federal de se fazer uma constituinte específica para a reforma política, Irmoto deixa bem clara a sua opinião. “Acredito no processo, se a constituinte for completa. Não como a de 1988, quando deixaram mais de 600 artigos para serem revisados. Uma constituinte completa, de combate à corrupção, iria contar com o apoio do povo”, acredita.

O estilo atual da política e dos políticos, especialmente dos partidos, é criticado por Irmoto. “Se o político não for profissional, não sobrevive. Ninguém subsiste sem apoio, se não for de acordo com o governo. Você não tem mais oposição”. No estado, há o mesmo cenário, segundo ele. “O governador Colombo terá uma dificuldade de reeleição com a quantidade de partidos que o apoiam. Tem uma série de partidos e ainda tem que apoiar o PT”, pontua.

No tempo em que era político, as alianças também faziam a diferença. Para concorrer nas eleições que o elegeram para o segundo mandato em 1992, Irmoto precisou conquistar no Supremo Tribunal Eleitoral o direito de seguir no pleito. O motivo: “As executivas partidárias iriam decidir os candidatos. Por isso fui impugnado”.  Ele ficou um mês em Brasília acompanhando o processo, enquanto aliados faziam corpo a corpo político na cidade. “Quando vencemos, foi aquela festa. Voltei e tive 13 dias para a campanha. Acho que por isso que venci. As pessoas esperavam esta vitória”.

Legado político
Na segunda gestão como prefeito, ele orgulha-se de ter investido em oportunidades para as indústrias, o que gerou emprego na cidade e mais crescimento econômico. “Tinha dinheiro para fazer asfalto, mas comprei terreno para as indústrias. As grandes que temos hoje, Alcoa, Crecisa e Itagres, vieram na minha época”.   

Sobre o resultado de suas administrações, Irmoto se diz realizado e satisfeito, principalmente pelo legado que deixou para o esporte, citando as duas edições dos Jogos Abertos de SC realizadas na cidade (1973 e 1996). Ele tem apenas uma ressalva. “Meu sonho era ter feito uma quadra coberta em cada escola”.

Sobre os gastos da próxima Copa do Mundo, ele dispara. “Jogar um estádio lá no Amazonas? Não tenho nada contra os amazonenses, mas não tem porquê. Serão quatro elefantes brancos. Se este dinheiro fosse colocado em pequenas quadras nas escolas do país, fabricaríamos muito mais atletas. O investimento nos jovens pelo esporte traz resultados”.

Rony Ramos
Rádio AL

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