Educação Inclusiva é tema de seminário em Campos Novos
Aproximadamente 650 profissionais das áreas de educação, saúde e assistência social, representantes de entidades sociais e pais de autistas participaram, nesta quinta-feira (17), do seminário "Educação inclusiva: desafios, complexidades e inovações pedagógicas".
Alunos da Associação de Amigos Autistas da cidade emocionaram o público com a apresentação da música Aquarela, na abertura do encontro.
O evento foi promovido pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, presidida pelo deputado José Nei Ascari (PSD), e Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Campos Novos, com parceria da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira e apoio da prefeitura local e da Secretaria de Estado da Educação.
O deputado Romildo Titon (PMDB), presidente da Escola do Legislativo, ressaltou que “a parceria do Legislativo é fundamental para o aprimoramento de políticas públicas”.
Segundo a assessora da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Janice Krasniak, “o trabalho da comissão a cada ano atinge mais catarinenses e coloca o Parlamento na condição de protagonista do debate sobre inclusão, desafios e inovações pedagógicas”.
A identificação do autismo logo nos primeiros anos de vida da criança é crucial para aumentar a eficácia do tratamento, podendo, em alguns casos, reverter a quase totalidade dos prejuízos decorrentes do transtorno. O fato foi destacado pelo médico pediatra Egon Frantz, especializado em doenças neurológicas que afetam crianças e adolescentes. As chances de recuperação do autista estão diretamente relacionadas ao momento em que o transtorno é detectado. "Caso seja identificado antes de a criança completar um ano, as chances de melhora no prognóstico são de 90%. Já em uma criança de três anos, os níveis caem para cerca de 70% e 80%, e para 40% a partir dos quatros anos de idade."
Sintomas são complexos, mas de fácil detecção
Atualmente, o sistema utilizado para o diagnóstico do autismo é o DSM-4 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), desenvolvido pela Associação Americana de Psiquiatria. Por meio dele, são considerados autistas os indivíduos que apresentam características ligadas a desordens nos campos da interação social, comunicação e que apresentam padrões repetitivos e estereotipados, bem como atrasos ou funcionamento anormal na ação simbólica ou imaginária. O modelo é tido como exagerado por muitos pesquisadores brasileiros, pelo número excessivo de comportamentos considerados como indicativos do transtorno.
O DSM-5, mais restritivo e que ainda será lançado no Brasil, deve simplificar a identificação dos casos, tornando o processo mais preciso. Além disso, afirmou Frantz, o novo modelo também propõe a eliminação das categorias como a Síndrome de Asperger, o transtorno desintegrativo e transtorno global do desenvolvimento, que devem ser substituídas por apenas uma denominação: Transtornos do Espectro Autista (TEA).
Independentemente do sistema de identificação, os primeiros sinais do autismo em recém-nascidos, explicou o especialista, podem ser identificados por um médico experiente ou até mesmo pelos pais. Eles vão do choro intenso à calma excessiva da criança, ou sintomas mais clássicos, como a indiferença pelas coisas que acontecem ao seu redor e a dificuldade em fixar o olhar em outras pessoas. "É um transtorno muito complexo, que tem múltiplas causas, mas de maneira bastante simples se pode reconhecê-lo em crianças abaixo de um ano."
Principais medicamentos utilizados
Na palestra, Frantz também descreveu as diversas formas de tratamento do autismo infantil e os principais medicamentos utilizados atualmente. Entre as drogas mais usadas estão os neurolépticos, ansiolígicos, estabilizadores de humor e anticonvulsivantes. "Esses medicamentos não curam o autismo, pois isso ainda não é possível, mas apresentam bons resultados na diminuição dos efeitos do transtorno, como estereotipias, agressividade, ansiedade e alterações de humor."
Apesar dos resultados comprovadamente favoráveis, o uso de fármacos no combate aos efeitos do autismo ainda encontra certa resistência entre a população, disse o médico. "Muitos pais se mostram reticentes à prescrição desses medicamentos aos seus filhos por achar que eles vão deixá-los dopados ou viciados. Isso é um mito, que impede o sucesso do tratamento." Para a obtenção de melhores resultados, o médico aconselhou a utilização das substâncias em associação com terapias multidisciplinares que envolvam fonoaudiologia, fisioterapia e educação física.
Participação dos pais
A pedagoga Vera Ottonelli Durli ressaltou a importância de os pais monitorarem seus filhos constantemente nos primeiros anos de vida e prestarem especial atenção ao aspecto da comunicação verbal. "Muitas pessoas acham que a fala tardia pode ser algo normal, uma característica da família, mas hoje sabemos que se uma criança não começar a verbalizar até um ano e quatro meses de idade deve ser levada a um especialista. Não se deve ficar esperando, agir precocemente é fundamental para a recuperação", ensinou.
Inclusão escolar
Segundo a pedagoga Edite Sehnem, para construir a inclusão verdadeira e garantir a aprendizagem de todos os alunos na escola regular é preciso fortalecer a formação dos professores e criar uma boa rede de apoio entre alunos, docentes, gestores escolares, famílias e profissionais de saúde que atendem crianças com necessidades educacionais especiais.
Os profissionais da educação inclusiva e da educação especial devem buscar formas de trabalho articulado. E, com isso, construir gradativamente práticas pedagógicas que possibilitem a inclusão escolar e transformem a escola em um espaço para todos. Há, entretanto, necessidades que interferem de maneira significativa no processo de aprendizagem e que exigem uma atitude educativa específica da escola como, por exemplo, a utilização de recursos e apoio especializados para garantir a aprendizagem de todos os alunos.
Educação é um direito de todos
A educação é um direito de todos e deve ser orientada no sentido do pleno desenvolvimento e do fortalecimento da personalidade. O respeito aos direitos e liberdades humanas, primeiro passo para a construção da cidadania, deve ser incentivado. Educação inclusiva, portanto, significa educar todas as crianças em um mesmo contexto escolar.
A opção por esse tipo de educação, segundo os especialistas, não significa negar as dificuldades dos estudantes. Pelo contrário, com a inclusão as diferenças não são vistas como problemas, mas como diversidade. É essa variedade, a partir da realidade social, que pode ampliar a visão de mundo e desenvolver oportunidades de convivência a todas as crianças.
Preservar a diversidade apresentada na escola, encontrada na realidade social, representa oportunidade para o atendimento das necessidades educacionais com ênfase nas competências, capacidades e potencialidades do educando.