Tornado em Xanxerê: professor Valdir e o ginásio que ainda não foi reerguido
O ginásio Ivo Sguissardi, no Bairro dos Esportes, era uma das principais praças esportivas de Xanxerê e foi totalmente destruído pelo tornado de 20 de abril de 2015. Suas ruínas tornaram-se símbolo da tragédia e foram visitadas pela então presidente Dilma Rousseff.
Dois anos depois, não resta mais nada do antigo ginásio. No começo de abril, foram retomadas as obras da nova praça esportiva, um dos únicos imóveis em Xanxerê destruído pelo tornado e que ainda não foi reconstruído.
Foi no Ivo Sguissardi que se desenrolou a história de um dos principais personagens do 20 de abril: o professor de educação física Valdir Marical. Desde os anos 70, ele dá aulas de voleibol para adolescentes. No dia do tornado, tudo parecia normal. Até que uma ventania mais forte chamou-lhe a atenção.
“Eu fui para fora do ginásio para ver o que era. Vi que o tempo estava muito feio. Chamei uns meninos que estavam lá para que eles entrassem e se abrigassem no ginásio. Mal entramos e o vento começou a destruir tudo. Foi o tempo da gente entrar embaixo de uma arquibancada. A parede tremia. Quando o vento forte passou, saímos do ginásio. Só então eu vi o que tinha acontecido.”
O relato de Valdir ainda impressiona, dois anos depois do tornado. À época, ele se tornou conhecido. Deu entrevistas para veículos de comunicação de todo o país. Foi homenageado por políticos. Conversou com a presidente Dilma Rousseff, durante a visita dela a Xanxerê.
Nada disso mudou a rotina do professor. “As pessoas falam pra mim: ‘agora você é famoso’. Mas nem por isso as coisas mudaram. A gente ainda tem que correr atrás de bola, de rede, de uniforme pra treinar”, comenta.
O ginásio faz falta. Os treinos de vôlei ocorrem em uma quadra alugada. O Ivo Sguissardi não existe mais e o outro ginásio da cidade está interditado. “Estamos sem ginásio público em Xanxerê.”
Diante das dificuldades, Valdir se emociona ao ser questionado sobre o que o motiva a continuar. “É essa criançada que precisa. O pouco que a gente consegue é muita coisa. Meu pai fez isso, meu irmão também, meu filho está fazendo. Essa é nossa missão, trabalhar para fazer alguma coisa por essas meninas, para que elas não fiquem perdidas pelas ruas.”
O professor rejeita o rótulo de herói. “Não digo que salvei a vida deles. Eu estava no local certo na hora certa”. Um dos seus maiores desejos, no momento, é voltar a ter um local para treinar. “Com o resto, a gente se vira”, afirma.
Conforme a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Xanxerê, o novo ginásio vai custar R$ 3,7 milhões. Os recursos já estão garantidos e obra iniciada no começo deste mês. A demora para a reconstrução está relacionada com problemas no projeto, sanados no decorrer dos últimos meses.
O prefeito de Xanxerê, Avelino Menegolla, reconhece que o ginásio faz falta para o município. “Essa foi a terceira vez que ele foi atingido, e dessa vez não sobrou nada”, comenta. “Além da prefeitura, a comunidade sempre usou o ginásio. Por isso ele faz tanta falta.”
Mengolla disse que o atraso no início das obras foi necessário para evitar problemas futuros com o empreendimento, em virtude de adequações no projeto. “Não adianta apressar e ter problemas na frente. Agora a comunidade terá um ginásio moderno, de qualidade melhor, que vai valorizar o bairro e servir o município por muitos anos”. A previsão é que as obras estejam concluídas até o início de 2018.
Especial “Xanxerê – Dois anos após o tornado”
Desde quinta-feira (20), a Agência AL, em conjunto com a TVAL e a Rádio AL, veicula uma série de reportagens sobre os dois anos do tornado que atingiu Xanxerê. As matérias, que serão publicadas no decorrer dos próximos dias, contam as histórias de pessoas que perderam todos seus bens na tragédia e se recuperaram. Abordam, também, as consequências do tornado para famílias inteiras e como, dois anos após o ocorrido, ainda é difícil esquecer o que aconteceu naquele dia 20 de abril.
Agência AL