Seminário em Rio do Sul debate estratégias para inclusão escolar
FOTO: Rodolfo Espínola/Agência AL
Os caminhos para a inclusão humana e as estratégias pedagógicas para favorecer a inclusão escolar são o centro do debate em um seminário que reúne mais de 500 profissionais de diversas áreas, servidores, representantes de entidades governamentais e público em geral no Parque Universitário Norberto Frahm, em Rio do Sul, nesta sexta-feira (12). O evento é promovido pela Assembleia Legislativa por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, em parceria com a Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (Amavi); Prefeitura, Secretaria Municipal de Educação e Apae de Rio do Sul; e Fundação Catarinense de Educação Especial.
Durante todo o dia, os participantes assistem a palestras com temas como neurociência e educação, transtornos do neurodesenvolvimento presentes no contexto escolar e a integração sensorial como facilitadora no contexto escolar. O ministrante é o terapeuta ocupacional Fernando Cordeiro Calil (leia entrevista com Calil logo abaixo).
Para o presidente da comissão, deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB), a capacitação de quem trabalha com pessoas com algum tipo de deficiência é essencial. “Cada pessoa tem a sua dificuldade, e dentro dessa pessoalização, temos que treinar técnicos, aperfeiçoar os métodos e saber como melhorar e acelerar o aprendizado”, afirmou. “No Estado inteiro estamos fazendo esse tipo de seminário, de congresso, enfim, de encontros com técnicos, com professores, para avaliar o currículo ideal adaptado às pessoas com deficiência”, completou o parlamentar.
O deputado Milton Hobus (PSD) também destacou a importância do evento. “Traz um enfoque na educação mais humanizada, principalmente para as pessoas que têm algum tipo de deficiência. Nós temos que melhorar muito a educação, a inclusão. E esse olhar humanizado na educação ajuda muito o aprendizado”, avaliou.
Na visão do prefeito de Rio do Sul, José Thomé, é preciso voltar os padrões, os modelos de educação, para as crianças especiais também. “A gente hoje consegue identificar perfis especiais nas crianças – como autismo, dislalia, dislexia e alguns outros transtornos intelectuais múltiplos – e a gente precisa, do jeitinho que as crianças são, passar o conhecimento para elas”, afirmou Thomé, que é pai de uma criança autista.
Necessidade de informação
A secretária municipal de Educação de Rio do Sul, Janara Mafra, considera este tema da aprendizagem de alunos especiais um dos mais importantes em discussão atualmente. “O educador precisa de informação sobre um tema muito relevante com que ele se depara muitas vezes em sala de aula sozinho, solitário, com crianças com vários déficits, deficiências e dificuldades de aprendizagem”, disse. Em Rio do Sul, uma pesquisa feita no início deste ano constatou que 27% dos alunos têm dificuldade de aprendizagem. “Além disso, 277 têm laudo de algum tipo de deficiência, de alguma síndrome. Então, como fica para este educador trabalhar desta forma?”, questionou a secretária.
Iniciativa de sucesso
Caropreso destacou o sucesso de iniciativas como essa para a evolução das técnicas de ensino e aprendizagem de alunos com alguma deficiência. “Tenho certeza de que elas encontrarão aqui um alto grau de ensinamento, com repercussão direta em cima daquilo que a gente precisa, que é atender melhor a pessoa com deficiência”, garantiu o deputado. “Nossa comissão tem tido uma repercussão muito grande no rstado inteiro porque nós queremos levar informação a quem atende as pessoas com deficiência”, completou.
Milton Hobus viu no evento a oportunidade de crescimento para os profissionais de educação da região. “Essa iniciativa da Assembleia Legislativa, em parceria com o município de Rio do Sul, com a Amavi, trazendo essa troca de experiência para os professores, tenho certeza de que só vai melhorar a qualidade da educação aqui no Alto Vale do Itajaí”, disse.
A opinião dele é compartilhada pelo prefeito José Thomé, que se mostrou agradecido pela realização do seminário na cidade. “Nós agradecemos à Assembleia Legislativa por incluir o Alto Vale do Itajaí, Rio do Sul, nessa rota do conhecimento”, afirmou.
ENTREVISTA: Fernando Cordeiro Calil
Terapeuta ocupacional, especialista na área da neurologia, com formação em integração sensorial, psicomotricidade e curso básico e avançado de equoterapia. Especialista em avaliação e intervenção do Transtorno do Espectro Autista, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno Específico de Aprendizagem.
Pela quarta vez, o terapeuta ocupacional Fernando Cordeiro Calil participa de seminários como esse em Santa Catarina, sempre com a plateia lotada, o que o faz sentir-se um privilegiado por poder passar um pouco de sua experiência na área e ajudar na capacitação de educadores que atendem alunos com algum tipo de deficiência. “É através destas capacitações que a gente pode passar um pouquinho do conhecimento clínico e neurológico para participar e ser utilizado dentro de um contexto educacional”, afirmou o terapeuta. Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Calil concedeu à Agência AL.
Agência AL - Como o cérebro aprende?
Fernando Cordeiro Calil - O cérebro, neurologicamente falando, precisa de muitas informações para se desenvolver. E essas informações são fornecidas através das terapias. A criança, o adolescente, o adulto precisam de um treinamento. Alguns já nascem com estas aptidões, e outros necessitam de estimulações. Para o sistema neuronal e para a neurogênese acontecer, essas estimulações são importantes para cada indivíduo. Por isso quando eu falo que o cérebro do autista é hiperexcitado, o cérebro do TDAH tem hiperexcitação, as crianças típicas e as crianças atípicas funcionam de diferentes formas. Aí fica um pouquinho mais difícil para os professores entenderem esse contexto, porque não tem na formação deles. Daí a importância dessa junção da atuação em equipe, clinicamente falando, com família e com as escolas.
Agência AL - Qual a importância desse tipo de evento que Santa Catarina vem realizando no Estado todo?
Calil - É um privilégio poder participar aqui no estado. É a quarta vez em que estou participando, e todas as vezes com anfiteatros lotados. É através destas capacitações que a gente pode passar um pouquinho do conhecimento clínico e neurológico para participar e ser utilizado dentro de um contexto educacional.
Agência AL - Na ementa do evento, a palavra de ordem é a neurociência. Como é que ela entra nessa história da educação?
Calil - Hoje nós somos privilegiados, porque antigamente era tudo diferente: neurociência de um lado, educação de outro. Hoje nós conseguimos unificar e criamos os cinco pilares. A neurociência nada mais é do que aquela ciência que justifica e explica todo o funcionamento do cérebro, que é a peça principal para o funcionamento educacional.
Agência AL – A capacitação dos professores está muito aquém do ideal para atender esse público?
Calil - Com certeza. Eu tenho uma experiência nacional e uma internacional. Lá fora, acompanha-se junto. Criam-se leis, as leis que estão trazendo autistas, TDAHs, com flexibilização e adaptação de currículos para as escolas. Só que as leis são criadas, mas as capacitações para os professores não são criadas. Então esse evento que acontece aqui na região é fundamental. E eu aconselho as demais regiões a copiar esse modelo. Porque você pega um anfiteatro com mais de 600 pessoas, eu tenho certeza de que um pouquinho desse conhecimento que foi passado hoje eles adquiriram.