Seminário divulga padronização pioneira de material para ostomizados
Santa Catarina é o primeiro estado brasileiro a padronizar a utilização de um sistema para ostomia respiratória, para aquelas pessoas que têm, por exemplo, traqueostomia e laringectomia e para divulgar este material e ao mesmo tempo capacitar os profissionais da saúde para o atendimento a esta população, que chega a 4 mil pessoas, foi promovido em Mafra, nestas quinta-feira (15) e sexta-feira (16) um seminário de atualização das políticas públicas na atenção à saúde das pessoas com ostomias intestinais, urinárias e/ou fístulas cutâneas e ostomias respiratórias. O evento, promovido pela Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa e Secretaria de Estado da Saúde, reuniu 114 profissionais da saúde de 13 municípios da região do Planalto Norte no auditório da Universidade do Contestado.
A coordenadora da área técnica da saúde da pessoa com deficiência da Secretaria de Estado da Saúde, Jaqueline Reginatto, explicou que o estado está investindo R$ 160 mil por mês na aquisição destes novos materiais para a padronização no atendimento destes pacientes. No total, a Secretaria da Saúde investe R$ 2 milhões mensais para o atendimento dos 4 mil pacientes. Pessoa ostomizada é aquela que precisou passar por uma intervenção cirúrgica para fazer no corpo uma abertura ou caminho alternativo de comunicação com o meio exterior, para a saída de fezes ou urina, assim como auxiliar na respiração ou na alimentação. Essa abertura chama-se estoma. Muitos procedimentos cirúrgicos necessários para tratamento do câncer acabam gerando estomas.
O agente de monitoramento de uma empresa de segurança de Itajaí, Eduardo Coutinho dos Santos, 42 anos, que há um ano sofre de câncer na garganta causado pelo cigarro, afirmou que a padronização do material que a Secretaria da Saúde está fazendo melhorou a qualidade de vida dos pacientes com ostomia respiratória. Relatou que antes o equipamento, repassado pelo governo estadual, era metálico e não havia uma padronização, muitas vezes causando desconforto aos pacientes, e com a nova medida o material é de silicone, ofertando melhor adaptação.
Jaqueline destacou ainda que a capacitação contínua de quem atende ostomizados se torna mais importante ainda em função da grande rotatividade destes profissionais, principalmente nos pequenos municípios do Estado. Além dos seminários já realizados neste ano em Florianópolis, Concórdia e Mafra, estão previstos para o mês de setembro um em Lages, outubro em Blumenau e em novembro em Chapecó. “Quem lida com o pacientes, como enfermeiros e cuidadores, precisa ter essa orientação sobre novas práticas, novas técnicas, inclusive os próprios pacientes e seus familiares, para que possam ajudar no tratamento”, reforçou Jaqueline.
Capacitação regional
A coordenadora da atenção básica da saúde da regional do Planalto Norte e enfermeira regional da saúde de Mafra, Sandra das Graças Nascimento, destacou a importância da capacitação regional e da preocupação da Secretaria da Saúde e da Assembleia Legislativa de promover os seminários e transmitir as novas orientações no atendimento aos pacientes. Na regional são 250 pacientes, que antes precisavam se deslocar para Joinville ou Florianópolis para receberem um atendimento e com a capacitação tem este atendimento na região. “O seminário também serve como valorização do profissional que recebe conhecimento mais atual para atender os nossos pacientes.”
O seminário também discutiu as dificuldades enfrentadas pelos ostomizados, quando se deparam com a necessidade de conviver com uma bolsa coletora, assim como a importância do trabalho dos profissionais de saúde em proporcionar uma maior qualidade de vida. Mas, apesar das dificuldades vividas, em meio aos ostomizados, prefere-se dizer que a ostomia é considerada como a “cirurgia da vida”, pois possibilita permanecerem vivos.
Tratamento humanizado
O presidente da Associação Mafrense da Pessoa Ostomizada (AMO) e coordenador da regional Sul da Associação Brasileira da Pessoa Ostomizada, Marcial José Pzybyela, disse que a associação de Mafra é a única que conta com uma sala própria no município para atender os pacientes com ostomia urinária e intestinal, mas que já estão se preparando para atender as pessoas com ostomia respiratória. Enfatizou que há 19 anos retirou todo intestino grosso (Ileostomia) devido uma doença hereditária e que é importante a realização de seminários como os promovidos pela Secretaria da Saúde e pela Assembleia Legislativa para humanização no atendimento dos pacientes. “Com este seminário temos a garantia da capacitação profissional.”
Exemplo do presidente
O atentado contra o então candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), em 6 de setembro de 2018, feita por Adélio Bispo de Oliveira, que desferiu uma facada no abdômen de Bolsonaro, deu maior visibilidade às pessoas ostomizadas. O presidente teve que utilizar uma bolsa de colostomia por meses e na avaliação de Marcial José Pzybyela e da Jaqueline Reginatto chamou atenção da população para ostomizado, quebrando um pouco o tabu sobre o assunto. A bolsa foi utilizada para retirada de fezes e gases.
Eles relataram que as principais causas de uma ostomia intestinal podem ser desde traumatismo (acidentes de trabalho, automobilístico, com armas de fogo ou branca), doenças inflamatórias intestinais, doença de Crohn, câncer, doença de Chagas, doenças hereditárias e más formações. O ostoma não pode ser controlado voluntariamente e por esta razão deve ser usada uma bolsa coletora.
Os tipos de ostomia variam da traqueostomia, laringostomia, esofogostomia, ileostomia, colostomia, urostomia, gastrostomia e jejunostomia. “Ninguém está livre de um trauma ou de uma doença, por isso a importância da quebra de tabu e tenho utilizado o exemplo do que ocorreu com o presidente para falar sobre a doença”, falou Marcial Pzybyela.