28/04/2010 - 12h49min
SC quer Centro de Referência em Meteorologia
As chuvas que assolaram Santa Catarina nos últimos dias reacenderam a discussão em torno da criação de um centro de excelência em meteorologia no estado. Na esteira do debate, as comissões de Agricultura e Desenvolvimento Rural e de Economia, Ciência, Minas e Tecnologia, realizaram hoje (28) audiência pública para discutir a criação da Fundação Estadual de Meteorologia e Pesquisa de Clima de Santa Catarina (Climesc), que culminou com requerimento pedindo a retirada imediata do Projeto de Lei Complementar 71/09, de origem do Executivo, considerado inadequado para fazer frente às demandas da sociedade.
Requerida pelos deputados Rogério Mendonça Peninha (PMDB), presidente da Comissão de Agricultura, e pelos deputados Dirceu Dresch e Pedro Uczai, ambos do PT, a audiência apontou para a necessidade de se ampliar o foco do debate, que se limitava através do PLC à criação de uma fundação de direito público, esvaziando a estrutura funcional do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram), vinculado à Epagri. “Estamos retirando o defunto do armário, antes que o cadáver comece a cheirar”, afirmou Peninha.
“Essa proposta não pode prosperar. Ela não presta, o projeto nasceu mal e não tem como ser aperfeiçoado. Precisamos manter a Epagri/Ciram e fortalecer toda a rede catarinense de meteorologia”, conclamou Uczai, minutos antes de ser feito o encaminhado pela retirada do projeto.
Em defesa de um serviço público de qualidade, Dirceu Dresch lembrou que a Epagri/Ciram cumpre uma função estratégica, precisando, no entanto, ser fortalecida. “Precisamos sim de mais gente, mais estrutura. Não é necessário criar uma nova estrutura”, defendeu o parlamentar.
Representando o secretário de Estado da Agricultura, Enori Barbieri, o presidente da Epagri, Luiz Hesmann, se mostrou desde o início da audiência favorável à retirada do projeto. Lembrou que a empresa está presente em 292 municípios e é integrada por diversos centros, entre eles o Ciram. Justificou ainda que a ideia de se apresentar o projeto surgiu diante da catástrofe de 2008, quando o governo despertou para a necessidade de dar respostas rápidas para a sociedade.
“Temos nove doutores, 26 mestres e seis especialistas no corpo funcional do Ciram. O que precisamos é de maior aporte no Orçamento para buscar formas e meios de dar sustentabilidade para essa estrutura”, ponderou o presidente. Nessa linha, a reunião culminou também com pedido de investimentos na estrutura da Epagri/Ciram, a ser formalizado ao governador Leonel Pavan para fazer frente às demandas.
História
Em nome dos servidores da Epagri/Ciram, o engenheiro agrônomo Hugo Braga alertou para a necessidade de a empresa se adaptar aos novos desafios ocasionados pelas mudanças climáticas. “Eles estão à nossa porta. Precisamos dar respostas rápidas à população, que precisa ser avisada com antecedência sobre fenômenos com intensidade grande e repetida”, observou o engenheiro, que há 30 anos recebeu a missão de implantar na então Empasc o serviço de agrometeorologia.
Diante das oscilações climáticas bruscas, o engenheiro defendeu a instrumentalização do Ciram. “Vivemos numa época de recordes: esse mês em apenas cinco dias choveu o equivalente a três meses. Precisamos preparar nossa população, orientando também a ocupação do espaço físico rural e urbano para prevenir catástrofes”, afirmou.
Também em defesa de mais recursos para a Epagri/Ciram, o deputado Reno Caramori (PP), vice-presidente da Comissão de Agricultura, destacou a necessidade de o Estado ampliar o leque de informações à população. “Precisamos sensibilizar o governo para incrementar as condições do Centro, de maneira a cuidar do nosso solo, nossa floresta e nossas vocações naturais, como é o caso da fruticultura”, destacou, referindo-se à cultura da maçã, que muitos avanços registrou no estado por conta das informações meteorológicas fornecidas ao setor pelos técnicos da Epagri/Ciram.
Servidores
Com servidores do Ciram exibindo faixas contrárias ao projeto, que se revezaram ao microfone defendendo a credibilidade e referência da instituição no trabalho de meteorologia no país, a reunião culminou com a criação de um grupo de trabalho, a ser integrado por funcionários da Epagri, para elaborar uma proposta alternativa, em busca de centro de informações meteorológicas.
Uma vez concluído o trabalho, será marcada uma nova audiência pública pela Comissão de Agricultura de maneira a debater o projeto com a sociedade, aperfeiçoando-o e apresentando-o aos pré-candidatos que estarão em disputa ao governo do Estado.
Como um dos proponentes da audiência, o deputado Décio Goes (PT), que preside a Comissão de Turismo e Meio Ambiente, foi o primeiro a propor a formação de uma rede catarinense de meteorologia. “Temos Epagri/Ciram, UFSC, Instituto Federal de Santa Catarina, Sistema Acafe, todos podendo contribuir em suas competências. Trata-se de um projeto de Estado e não de governo, que precisa fortalecer a estrutura existente”, argumentou.
Na condição de ex-secretário de estado da Agricultura, o deputado Antônio Ceron (DEM) admitiu que o futuro da meteorologia em Santa Catarina transcende à reestruturação da Epagri/Ciram e até mesmo ao projeto da Climesc que, segundo ele, foi proposto pelo então governador Luiz Henrique da Silveira diante da agonia vivenciada em novembro de 2008, quando o Estado se viu diante do desafio de dar respostas rápidas à sociedade. “Precisamos de um centro de excelência não só na agricultura, mas que atenda a todas as demandas. Pior que discutir, é não discutir, por isso a importância da entrada desse projeto, mesmo que não tenha sido a forma mais adequada”, observou.
Leque de serviços
Entre os servidores presentes à audiência, a meteorologista Laura Rodrigues defendeu mudança na própria concepção do serviço de previsão de tempo. Ao lembrar que a meteorologia evoluiu muito nos últimos anos, Laura destacou a importância de incrementar o leque de serviços prestados à população.
“Não basta dizer como ficará o tempo, quando vai chover. A população quer saber se haverá deslizamento, se está segura onde está. Por isso, precisamos de profissionais de áreas específicas como hidrologia, geologia. É uma questão bem mais ampla. A meteorologia tem um custo. E um dia vai chegar, mesmo que com vidas”, alertou. (Sandra Annuseck/Divulgação Alesc)