Recursos acabarão, a vida será insustentável e a civilização colapsará, afirma professor
“Os recursos naturais estão chegando no limite, não temos muito tempo para tomar medidas drásticas, não mais de 50 anos, alguns pessimistas dizem 20, 30 anos, um verdadeiro apocalipse acontecerá e a civilização como a conhecemos colapsará e mudará drasticamente”, afirmou o professor Antonio Luiz de Carvalho, da Fundação Getúlio Vargas, durante a abertura do Simpósio Santa Catarina Sustentável, na manhã desta quinta-feira (5), dia internacional do meio ambiente, no auditório Antonieta de Barros da Assembleia Legislativa, realizado com o apoio da Comissão de Turismo e Meio Ambiente.
Carvalho, que é presidente da Fundação Ecológica Nacional, usou a imagem de um trem em velocidade crescente indo de encontro a uma parede. “A parede pode estar há 20, 30, 50 anos, mas está lá, somente podemos adiar o encontro”, filosofou o professor, que identificou no crescimento populacional a raiz do problema e elogiou a China pela política do “filho único”, uma vez que de 1979, quando a política foi adotada, até 2010, cerca de 400 milhões de chineses deixaram de nascer. “Seriam dois brasis”, observou Carvalho, aludindo ao consumo de recursos naturais de 400 milhões de pessoas.
As hipóteses que fundamentam a tese
Oxigênio: “O ar também vai acabar, olha a quantidade de automóveis e de empresas consumindo oxigênio, a reposição (de oxigênio pela fotossíntese) ficará abaixo do consumo”, prognosticou Carvalho.
Água: “É um recurso limitado, os oceanos têm 97% da água do planeta, que é salgada, 2,7% estão nas calotas polares, derretendo, vai sobrar 0,3% para as águas subterrâneas, os rios e lagos”, explicou, ponderando, todavia, que o esgoto não tratado, o lixo depositado inadequadamente e os agrotóxicos estão contaminando essa reserva natural. “Vai chegar uma hora que não terá água limpa”, previu.
Aquecimento global: “Tem autores que dizem que é mito, outros, que não. O fato é que a temperatura aumentou em média, 0,4 graus de 1850 a 2000. Por isso, o derretimento é irreversível. Mas o degelo da água depositada sobre o oceano não aumenta o nível dos oceanos, mas o que derreter sobre os continentes vai fazer subir. Já subiu 7 cm”, exemplificou Carvalho.
População: “Em 1965 o Massachusetts Institute of Technology (MIT) publicou um gráfico mostrando os recursos naturais caindo e a população crescendo, aumentando a demanda de alimentos per-capita, a produção industrial e a poluição”, descreveu Carvalho, completando que a simulação de 1965 previa uma crise sem precedentes entre 2000 e 2050.
O MIT, conforme informou Carvalho, repetiu a simulação 44 anos depois, com as mesmas variáveis, porém com descrições e dados mais abundantes, e constatou uma crise sistêmica entre os anos 2000 e 2050. “Não está longe. Em relação a hoje, 20, 30 ou 50 anos, mas vai acontecer e a hora que acontecer vai ser seríssimo. A melhor maneira de controlar a crise será controlando o crescimento da população. A solução do problema é ter menos gente demandando automóveis e recursos naturais”, defendeu Carvalho.
Desigualdade social: “Quanto tempo vai durar a convivência pacífica entre a miséria e o luxo?”, questionou Carvalho, que descreveu o cotidiano do Rio de Janeiro e de São Paulo como de guerrilha urbana. “As cidades do Sul ainda estão isentas desse mal, mas logo chegará aqui também”, lamentou Carvalho. Para o professor, não é sustentável que as 124 pessoas mais ricas do Brasil possuam R$ 544 bi, cerca de 12% do PIB do país.
Sistema financeiro: “No Brasil, 45% do Orçamento Geral da União vai para amortizações e refinanciamento da dívida, juros para bancos, para o sistema financeiro. Somando o custo da previdência, chega a 70% do orçamento, sobra muito pouco para educação, saúde e apenas 0,04% para saneamento, que é importantíssimo para a sustentabilidade”, comparou Carvalho, que ficou chocado ao constatar no gráfico de sua apresentação que em Santa Catarina apenas 13% dos domicílios têm rede de esgoto, enquanto em Brasília esse índice é de 86,3%. “A baía Sul vai ficar igual ao Tietê e à baía da Guanabara”, garantiu.
A variável cultural
Carvalho chamou a atenção para a importância da variável cultural na busca pela sustentabilidade. “A educação do povo é fundamental para conter a destruição do meio ambiente”, ensinou o professor, citando como exemplo o contexto cultural japonês, de milhões de pessoas vivendo em um espaço reduzido.
“Pega a coleta seletiva, aqui é um oba-oba tremendo, infelizmente no Brasil não dá certo por um problema elementar, logística. No Japão a coleta é seletiva, separam direitinho, tiram até o rótulo das garrafas pet e no dia certo entregam o plástico, o material orgânico, funciona como um relógio. Se quiser jogar fora um objeto grande, o japonês vai até o órgão público, paga e no dia e hora marcados o caminhão passa e recolhe”, descreveu Carvalho, para em seguida exibir a foto de uma favela em São Paulo, com lixo e esgoto a céu aberto. “Como posso pedir para essa criança não jogar lixo no chão?”, questionou Carvalho, evidenciando, assim, a importância da educação na busca pela sustentabilidade.
Agência AL