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17/10/2014 - 15h53min

Pterossauros: Universidade do Contestado destaca a importância da descoberta

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Equipes do Cenpaleo realizam escavações em busca de mais fósseis. FOTOS: Solon Soares/Agência AL

Os fósseis, de um modo geral, permitem a reconstrução da história do planeta e da vida sobre a terra, inclusive para entender melhor os mecanismos da evolução biológica. A Teoria da Evolução é aceita incontestavelmente pela ciência hoje, mas os mecanismos da evolução ainda estão em pesquisa. “É um processo muito complicado que ocorre em milhões de anos”, avalia o geólogo e pesquisador do Centro de Pesquisas Paleontológicas (Cenpaleo) da Universidade do Contestado (UnC), campus de Mafra, Paulo César Manzig.

A descoberta dos pterossauros denominados Caiuajara dobruskii, em Cruzeiro do Oeste (PR), dão elementos para entender o que acontece fora da nossa escala do tempo. Conforme Manzig, o que ocorre fora da nossa escala de tempo e não vemos acontecer pode ser analisado com inferências a partir das informações coletadas. “Neste caso de Cruzeiro do Oeste muitas informações são fornecidas para este processo”.

De acordo com os pesquisadores do Cenpaleo, descobrir como esses indivíduos viviam é interessante para entender a evolução da espécie, mas também por uma questão de conhecimento mais puro pela ciência, relacionado à extinção de espécies. O geólogo e coordenador do Cenpaleo, Luiz Carlos Weinschütz, alerta que os pterossauros viveram por milhões de anos e desapareceram, assim como os dinossauros e várias outras espécies.

O que está acontecendo com o planeta
Saber o porquê do desaparecimento pode ser importante para entender o que está acontecendo hoje no planeta. Será que o homem também pode estar caminhando para uma extinção em massa? “Na história houve, pelo menos, seis grandes extinções em massa, que quase acabaram por completo com a vida na Terra. Uma delas foi a extinção dos dinossauros (em torno de 50%, 60% das espécies foram extintas); a maior extinção, porém, aconteceu nos períodos que chamamos do permiano para o terciário. Neste período, quase 93% de todas as espécies que viviam nos vales e mais de 80% de todas as espécies que viviam em terra foram eliminados.”

A vida no planeta foi quase que totalmente eliminada e todas as causas foram naturais (não existia a presença do homem). Entender o que aconteceu no passado nos dá pistas para avaliar o que está acontecendo hoje. Muitos cientistas já consideram uma extinção a caminho, e as causas se devem à predominância do homem na atual história da fase da Terra. “A importância de entender o passado pode nos ajudar a encontrar as influências do homem e tentar brecar, diminuir, essa extinção que, aparentemente, está iniciando”, sinaliza Weinschütz.

O pesquisador aponta a própria mudança que o homem faz na morfologia do planeta (desmontando montanhas, construindo aterros) como causa dos distúrbios drásticos ao meio ambiente e essa forma rápida com que eles acontecem não dá tempo para a biodiversidade se adaptar. “Esse é o grande problema, hoje, no meu ponto de vista enquanto geocientista. Mas, quando se fala em uma extinção em massa, naturalmente ela não acontece de um dia para o outro, nem de um ano para o outro, nem de um século para o outro”.

Precisam alguns milhares de anos para que algumas espécies sejam perdidas na história do planeta. Conforme Weinschütz, isso está acontecendo, principalmente depois que o homem desenvolveu todo um processo de industrialização, do capitalismo em massa. Milhares de espécies sumiram do planeta. “Está na hora da gente repensar nossa forma de usar os recursos do planeta porque podemos chegar em um ponto sem volta. Esses recursos se esgotem e aí, o que vamos fazer?”

O geólogo ressalta as perspectivas atuais, que apontam que, daqui a poucos anos, vamos brigar por falta de água. Isso já é uma causa em parte natural, mas em boa parte acelerada pela ação do homem.

O entendimento de como os pterossauros viveram, portanto, tem uma importância, não economicamente direta, como alguns microfósseis tem, por exemplo, para a pesquisa do petróleo (seres conhecidos como conodontes são utilizados nos estudos de geologia exploratória – através da coloração dos dentes dos conodontes é possível mapear, nas bacias sedimentares de todo o mundo, a pressão que a rocha sofreu e a profundidade onde viviam e ainda a possibilidade de gerarem hidrocarbonetos, ou seja, petróleo).

Evolução biológica do pterossauro
Outro fato descoberto em Cruzeiro do Oeste foi a presença tanto de indivíduos juvenis, semi-adultos, como de adultos e intermediários, pela enorme quantidade de ossos encontrados. “Nós conseguimos reconstruir ali todo o processo de crescimento da crista do pterossauro, que segue uma lógica desde o nascimento até chegar à fase adulta. Isso nunca tinha sido visto num pterossauro. É a primeira vez e é fabuloso estar diante da possibilidade de desvendar este estudo”, revela Manzig.

Também é objeto de destaque para a ciência que essa população específica vivia em um deserto, sendo que costumavam habitar o litoral. O geólogo e coordenador do Cenpaleo, Luiz Carlos Weinschütz, fala da dificuldade em se trabalhar com esse material porque não foi encontrado nenhum organismo unido. “Todos os órgãos estão separados e misturados (indivíduos diferentes). Estes animais habitavam um oásis, o que era uma raridade. Raramente aconteciam enxurradas e, numa dessas, eles se afogaram”.

Esses pterossauros foram descritos como uma espécie nova, condição provada pela grande quantidade de fósseis da mesma espécie encontrados. Isso possibilitou estudar e entender cada osso que compõe o esqueleto dessa espécie para concluir que ela tem características diferentes de espécies já descritas. Uma característica é que esse animal tinha hábitos gregários (foram encontrados vários juntos). A morfologia do crânio também é uma característica para reconhecê-los como uma espécie nova (tem um formato de bico e de crista diferente).

Processo de escavações e novas descobertas
As escavações em Cruzeiro do Oeste tiveram início em 2011 e até agora cinco toneladas de rochas foram exploradas. As coletas são baseadas em um plano de posicionamento da retirada no campo. “Tiramos blocos menores conforme a própria quebra natural da rocha”, explica Weinschütz.

O biólogo e pesquisador do Cenpaleo, João Zadhi Ricetti, enfatiza que a retirada do material deve seguir alguns critérios bem específicos para que as informações não sejam perdidas. “Não é só no fóssil que estão as informações importantes para a ciência. Todo o contexto em que ele se encontra, que vai desde a forma da rocha, ao tipo da rocha, à sequência deposicional da rocha”.

João salienta que, enquanto instituição, seria muita irresponsabilidade do Cenpaleo retirar esse material sem os devidos cuidados. “A pesquisa se dá conforme nossa capacidade tecnológica. Hoje, percebemos alguns aspectos dentro dessa pesquisa paleontológica, mas daqui a alguns anos, às vezes uma pequena informação que foi mal coletada pode fazer uma diferença enorme para a ciência”.
Cada coleta de campo levou, em média, 10 dias e durante esse processo foram encontradas, na região, descrições de pegadas de dinossauro. Fato que descortina a possibilidade de serem encontrados, também, outros organismos.

Segundo Paulo César Manzig, encontrar mamíferos convivendo com os dinossauros tem um apelo científico muito grande. “Podemos perceber que, ali, nesta época do período cretáceo, eles já conviviam. Se encontrássemos aves convivendo com os pterossauros seria espetacular, e esta possibilidade existe. Como estamos no início desse trabalho, a possibilidade de encontrar coisas interessantes é enorme”, entusiasma-se Manzig.

João Ricetti esclarece que na descoberta de hoje ele é um fóssil, mas ontem o pterossauro foi um organismo vivo que pertencia a todo um ecossistema. “Vamos saber o quanto abundante era esse ecossistema e quais eram as relações nesse ecossistema através da minúcia na hora de coletar o material fossilífero. Isso pode nos indicar também questões de paleocorrentes ou como era a geografia dessa região”.

No caso de Cruzeiro do Oeste, dessa duna, a importância é encontrar qual o sentido para onde os sedimentos estavam sendo levados, e as futuras inferências que virão, conforme a tecnologia for permitindo. “No caso do Cenpaleo, temos que ter um cuidado muito grande na preservação desses fósseis, pois eles são importantes para a nossa pesquisa e para a pesquisa de futuras gerações”, conclui João.

A importância do Centro de Pesquisas Paleontológicas
O Cenpaleo tornou-se referência mundial em razão do descobrimento dos fósseis de pterossauros. Segundo Luiz Carlos Weinschütz, “qualquer museu do mundo gostaria de ter uma peça como essa que encontramos, com tamanha quantidade de indivíduos”.

O fóssil no Brasil é considerado patrimônio da União. Qualquer pessoa que ache um fóssil só tem a guarda, a posse é de todos os cidadãos brasileiros, da União. Se alguém for pesquisar precisa pedir autorização ao governo federal.

Os pesquisadores têm a certeza de que essa descoberta trouxe para o Cenpaleo um grande desafio. Os trabalhos do centro ocorrem desde 1997, primeiramente de forma incipiente, feita por um grupo pequeno, até ser reconhecido como um centro de pesquisa de ponta.

A descoberta dos pterossauros vai permitir ao centro realizar outras parcerias, com outras instituições e abrir possibilidades de recursos para melhor equipar os laboratórios. “Pesquisas desse tipo são dispendiosas e requerem investimentos e pessoas capacitadas”.

Carlos Otávio Senff, coordenador do campus Mafra da Universidade do Contestado (UnC), ressaltou a vinda de pesquisadores estrangeiros a Mafra. “Vamos auxiliar nesta construção da ciência, do conhecimento, aproximando os países, as comunidades científicas, para que possamos continuar gerando esse conhecimento e explorando o que temos aqui na nossa região”.

O fluxo do turismo aumentou consideravelmente após a descoberta. Eliane Villa Lobos Strapasson, assessora administrativa e pedagógica do Cenpaleo, esclarece que, além dos estudantes, o museu passou a receber significativas visitas de turistas e famílias.

Michelle Dias
Agência AL

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