Preocupação com as sequelas de quem se recuperou da Covid-19
A cura da covid-19, por ser uma doença nova e que ainda está em estudos, pode ser um processo demorado e que vai além da fase aguda dos seus sintomas. Mesmo pacientes com quadros leves têm procurado atendimento médico com diferentes sequelas, dos quais os mais comuns são dor de cabeça, dores musculares, perda do olfato e do paladar. Mas há também relatos de sonolência, fadiga e problemas cognitivos, entre outros.
Para auxiliar no combate às sequelas, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) conta com duas propostas: a criação de um Centro Estadual de Referência Pós-Covid e o Grupo de Trabalho Pós-Covid, instituído para colaborar na organização de um protocolo para atender pacientes que receberam alta hospitalar e tiveram sequelas.
O aposentado Dilson Silva Ribeiro é um sobrevivente da doença. Ficou entubado por 11 dias no mês de fevereiro no Hospital Baia Sul, em Florianópolis. “Estava me sentido bem mal, fraco, mas não tinha problemas de respiração. Fui ao hospital e me disseram para ficar me cuidando e no dia seguinte a minha saturação estava baixa, mas não sentia isso. Minha filha que é enfermeira disse para retornar ao hospital e só me lembro de colocar o aparelho no nariz e de nada mais.”
Após o tratamento, Dilson afirma que o pior começou. “Tive que reaprender a andar, não conseguia ficar em pé. Acabei ficando mais 13 dias no hospital para me recuperar.”
Dois meses depois, ele continua com sequelas. “Não tinha equilibro bom, não conseguia levantar a perna esquerda, e o pé direito ficou fraco. Para me vestir tinha que sentar. Fiz exames e deu inflamações e continua me acompanhando, mas está no final. Acredito que ainda estarei 100%.”
Para o aposentado, a ciência ainda sabe pouco sobre a doença, mas o que ela sabe é valioso e as pessoas não deviam deixar de aproveitar o que ela oferece. “A vacina não protege 100%, porque ainda está sujeito a pegar de novo, mas vai proteger muito mais do que alguém que a está desprezando. É uma doença muito misteriosa.”
Pacientes com perfil diferenciado
A fisioterapeuta Débora de Camargo Hizume Kunzlerde, professora da Clínica Escola de Fisioterapia (Cefid) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), revela que desde os primeiros casos da pandemia no estado o departamento vem atuando de forma virtual e depois presencial no atendimento às sequelas da Covid-19. Ela afirma que o recuperado da Covid não é como um paciente pneumotáxico (que tem pleno controle da respiração), com o qual estavam acostumados a reabilitarem.
“Ele tem outro perfil. Às vezes, sai com alterações neurológicas, outras com alterações musculares, com perda de massa magra, com alterações cardiovasculares e até com alterações renais, então o que temos feito no ambulatório pós-covid é uma reabilitação global deste paciente.”
A professora reforça que o foco não é apenas no tratamento pulmonar, porque o paciente demanda outros cuidados. “É um paciente com perfil bem diferente.”
Ela salienta que estudos recentes apontam que os sinais e sintomas mais preponderantes do pós-Covid são as dores no corpo. “Uma das hipóteses é de que isso pode estar relacionado a uma baixa perfusão de sangue nesta musculatura. Uma perda real de massa magra, então quando você faz qualquer esforço você se cansa. Os músculos ficam mais doloridos.”
Débora informa que a Udesc vai iniciar em breve um projeto de pesquisa para tentar perfilar esses pacientes, que ainda não têm um perfil definido. “O que a gente percebe, é um paciente completamente diferenciado, é outro público.”
Para a fisioterapeuta, o ideal é que os recuperados da Covid busquem ajuda o mais rápido possível. “Essas alterações podem durar de três a seis meses, quando você passa pela Covid. Em membros inferiores, pernas apresentam formigamento, afeta os sistemas neurológicos e de sensibilidade, fraqueza na perna, a perna falha quando quer andar.”
Centro de referência para tratar pacientes
O deputado Volnei Weber (MDB) teve doença e também apresentou sequelas. Ele apresentou indicação ao governo estadual para criação de um Centro Estadual de Referência Pós-Covid.
“Estamos vivenciando um momento nunca antes ocorrido, nem pelos nossos avós ou nossos pais, em que um vírus desconhecido, invisível, que vem atacando de forma muito diferente as pessoas e algumas sofrem muito com isso, algumas são ceifadas e outras de forma sintomática, e aí ficam as sequelas. Por isso, é imprescindível um acompanhamento médico pós-Covid para tratar essas sequelas. É nesta hora que o poder público tem que ser diferente.”
Ele lembra que enfrentou a Covid-19 no ano passado, reforçando que o governo estadual deve mostrar sua eficiência e capacidade para, no mínimo, minimizar a dor causada pela doença auxiliando os catarinenses. “Já é de conhecimento de todos os estragos em nosso organismo que essa doença pode provocar. Muitos vencem a Covid, mas desenvolvem problemas motores, respiratórios, cardiológicos, neurológicos, fonoaudiólogos, entre outros depois de dias ou meses. Por isso, é imprescindível um acompanhamento médico para tratar essas sequelas. Minha indicação é que seja em local específico, até mesmo para contribuir na redução do tempo das internações nos hospitais, que estão há muito tempo trabalhando no limite máximo.”
Outra proposta do deputado é o aumento na transparência na administração de vacinas contra a Covid-19. “O projeto visa a estabelecer maior controle no processo vacinatório e evitar possíveis fraudes. O projeto prevê que seja mostrada a vacina que está sendo aplicada quando o cidadão for vacinado”, explicou.
Ele argumentou que a proposta foi elaborada em função dos equívocos que já foram cometidos e que têm sido noticiados, visando a diminuir a insegurança na hora da vacinação porque nesse segmento, como em todos os outros, há pessoas com conduta indevida. “É preciso mostrar o número do lote, a seringa vazia, ter compromisso e responsabilidade com aqueles que buscam a esperança através da vacina.”
Grupo de trabalho
A deputada Ada de Luca (MDB), que também sofre com sequelas da Covid-19, é a coordenadora do GT Pós-Covid, grupo de trabalho instituído para colaborar na organização de um protocolo para atender pacientes que receberam alta hospitalar e tiveram sequelas. Ela enfatiza a importância do grupo e do envolvimento do poder público e da sociedade organizada para o enfrentamento das sequelas.
“Está parecendo que o SUS não vai dar conta, há muita demanda pós-covid. Surgem casos três a quatro meses depois, pessoas com problemas cardíacos, eu mesmo fiquei,” relembra.
A parlamentar enfatiza a importância do grupo de trabalho principalmente para parcela da população que não tem recursos financeiros e reforça a necessidade da imunização. “O importante é que as pessoas busquem a segunda dose da vacina. Só vamos ter um pouco de tranquilidade, quando toda a população estiver vacinada.”
Para a deputada, a solução depende de toda a sociedade. “Meu apelo é que a vacinação avance o mais rápido possível. Também que o protocolo de tratamento pós-covid possa ser colocado em prática. Ao mesmo tempo, cada um de nós precisa continuar fazendo a sua parte, usando máscara, álcool e fazendo distanciamento.”