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21/09/2018 - 17h16min

Memória SC: Prevenção de incêndios e preservação dos museus

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Parte interna do Palácio Cruz e Sousa, que hoje abriga o Museu Histórico do estado; fiação foi trocada recentemente

O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro* acendeu o alerta vermelho para a importância da preservação do patrimônio histórico e cultural brasileiro. Nossa memória está, fundamentalmente, inserida nos espaços dos museus. Cuidar dessa memória é garantir o entendimento do presente e buscar alternativas para o futuro.

Em Santa Catarina, o Museu Histórico do estado, sediado no Palácio Cruz e  Sousa - construído para ser a nova “Casa do Governo”, em meados do século XVIII, época em que foi criada a capitania da Ilha de Santa Catarina e nomeado seu primeiro governador - teve um foco de incêndio em janeiro deste ano.  Principal símbolo do poder político no estado, com o risco iminente de mais um acontecimento desastroso, o Palácio Cruz e Sousa passou por uma reforma elétrica geral entre os meses de fevereiro e março.

De acordo com a analista técnica em gestão cultural do Palácio Cruz e Sousa, a restauradora Márcia Regina Scorteganha, a reforma elétrica era urgente. “A reforma aconteceu devido a um foco de incêndio no subsolo do museu, na cozinha, e que foi um alerta, porque nós já estávamos há muito tempo pedindo essa reforma. Estávamos passando por um risco, diariamente. Temos uma média de 200 visitantes por dia. Além do acervo, vidas estavam em jogo.”

Fiação trocada de ponta a ponta
Todos os rodapés do Museu Histórico de Santa Catarina foram retirados e a fiação que, segundo Márcia, não era trocada há mais de 30 anos, refeita. “Abrimos todos os rodapés e não tem mais fio antigo. Temos um arquivo, relatório desses fios. Nesse processo, eliminamos os possíveis focos de incêndio. Houve intervenções anteriores, mas podemos dizer que foram emendas. Eles emendavam o fio velho no fio novo e isso causava outro risco que a gente não ia saber nem onde começariam os focos.”

As normas técnicas foram seguidas de acordo com o projeto preventivo de incêndio, aprovado em 2016 pelo Corpo de Bombeiros Militar. Conforme Vanessa Borovsky, administradora do museu, as normas foram seguidas à risca. “O projeto está em execução. Temos o prazo de dezembro de 2018 para finalizarmos e os bombeiros realizarem a última vistoria.”

Para que o projeto seja finalmente aprovado pelo Corpo de Bombeiros, falta a instalação de quatro extintores de 75 litros cada um, que ainda não foram entregues. Os processos de licitação são demorados e é preciso adequar as compras à verba recebida pelo estado. “Fomos seguindo as determinações paulatinamente, à medida do possível, com o que tínhamos de verba. Nós somos um museu conservado pelo governo do estado, então não tem como a gente fazer grandes orçamentos, não temos editais pra isso”, explica Márcia Scorteganha, que garante a prestação de contas de cada fio.

“Fizemos o registro de cada metro de fio retirado, prestando conta de cada fio colocado novo, porque é dinheiro público. Isso envolve laudo e certificação. É nosso nome que está em jogo, então é muito sério o que a gente fez. Tem como comprovar. Hoje, comprovamos quais foram as caixas retiradas, qual foi o tipo de fio colocado e, inclusive, da subestação.”

Determinações técnicas atendidas
Além da fiação elétrica, todas as outras determinações para segurança e prevenção de incêndios foram tomadas. Luzes de emergência, rota de fuga, alarmes manuais de alerta ligados diretamente aos bombeiros (seis posições de alarme), extintores, para-raio e proteção das escadas foram implementados. Alguns funcionários ainda passaram por um treinamento de rota de fuga.

O governo do estado disponibiliza uma verba de aproximadamente 120 mil reais mensais para a manutenção do museu. “Com esse valor damos conta de bancar os custos fixos, como contas de luz, condomínio de salas que temos num prédio próximo - porque aqui não podemos armazenar produtos de limpeza nem nada inflamável – além dos seguranças e servidores terceirizados”, informa Vanessa Borovsky.

Preservação do patrimônio
Preservar o atual Museu Histórico de Santa Catarina é preservar a história do estado. Sob sua responsabilidade estão cinco categorias de acervos: arquitetônico, arqueológico, arquivístico, bibliográfico e museológico.

Construído junto à praça da Vila de Desterro, o prédio de três seções e dois pavimentos passou a ser a nova "Casa de Governo", em meados do século XVIII, época em que foi criada a Capitania da Ilha de Santa Catarina e nomeado seu primeiro governador, o brigadeiro José da Silva Paes. Durante mais de um século, o Palácio passou por diversas modificações até que, na mudança republicana, uma grande reforma (1894–1898) foi realizada, adquirindo as características arquitetônicas preservadas até o presente.

Dez estátuas alegóricas esculpidas pelo artista italiano Gabriel Silva ornamentam a parte externa do prédio, coroando as platibandas. Entre elas, a padroeira do estado, Santa Catarina; a ninfa evocativa dos mares, Anfitrite; e o deus mitológico Mercúrio, compondo com duas barricas, alegoria alusiva ao comércio e à indústria catarinenses, respectivamente, sendo o último localizado no alto da fachada lateral, à direita. Os ladrilhos da calçada à frente do palácio foram importados e assentados no ano de 1910.

Posteriormente, nas obras de manutenção, foram realizados inúmeros acréscimos e modificações internas, além de repinturas que se acumularam em várias camadas com o passar dos anos. Em 1977 deu-se início a um grande trabalho de restauração do edifício, que passou a denominar-se, em 1979, Palácio Cruz e Sousa, em homenagem ao grande poeta catarinense.

Em 1984 o prédio é tombado como patrimônio histórico do Estado e iniciam-se novas obras de restauração, as quais lhe devolvem as características arquitetônicas originais da reforma feita pelo governador Hercílio Luz em 1898. Em 1986, reaberto, passa a sediar o Museu Histórico de Santa Catarina.

A partir de 2005 foram retomados os trabalhos de restauração das pinturas decorativas das paredes internas e dos forros de estuque, tratamento emergencial necessário, que vem sendo realizado por uma equipe de profissionais qualificados, dentro de rigorosos critérios técnicos. Quem visita o Museu pode acompanhar as etapas da restauração.

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*Vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu Nacional é a mais antiga instituição científica do Brasil e, até setembro de 2018, figurou como um dos maiores museus de história natural e de antropologia das Américas. Infelizmente, por problemas de orçamento, gestão e alguns outros desconhecidos, grande parte do patrimônio foi perdida no incêndio.

Michelle Dias
Agência AL

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