Grupo de trabalho busca soluções para demandas dos produtores de cebola
A Comissão de Agricultura e Política Rural da Assembleia Legislativa criou um grupo de trabalho que tem como objetivo buscar soluções para as demandas dos produtores de cebola do Alto Vale do Itajaí. A ação foi um dos encaminhamentos propostos durante audiência pública realizada na tarde desta quinta-feira (5), no salão comunitário da Paróquia Santo Estêvão, em Ituporanga, que debateu questões referentes ao preço e ao mercado da hortaliça. A região é responsável por um terço da produção nacional, que este ano deve atingir a marca de 1 milhão e 600 mil toneladas.
O grupo de trabalho, formado por lideranças locais e representantes do Parlamento catarinense, dos sindicatos dos trabalhadores na agricultura familiar, da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) e da Associação Nacional de Produtores de Cebola, deve se reunir na próxima semana. A pauta de reivindicações inclui propostas como a elaboração do Zoneamento Agrícola da cultura da cebola, a concessão de subsídios aos produtores da hortaliça, melhorias estruturais relacionadas à distribuição de energia elétrica para a implantação de sistemas de irrigação e a regulação da importação de cebola.
Principais demandas
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático é um estudo elaborado com o objetivo de minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos. O instrumento permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares. “Isso é muito importante para os produtores de cebola da região do Alto Vale. Com o zoneamento agrícola a produção estaria segurada em caso de crise por intempéries naturais. Sem o zoneamento não temos seguro”, ressaltou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Alfredo Wagner, Marcos Rozar. O Zoneamento Agrícola deve ser publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
O dirigente também sugeriu que o governo federal subsidie a compra de insumos utilizados pelo produtor de cebola. Segundo Rozar, a medida reduziria os custos de produção. “Poderia diminuir os impostos. Ao final, isso impactaria na receita das famílias dependentes da produção de cebola. Só na região do Alto Vale, 25 mil famílias cultivam a hortaliça. Esse subsídio não precisaria ser constante, mas sim em períodos de emergência, de crise, como, por exemplo, quando o preço da cebola está baixo no mercado e o custo de produção e comercialização estão empatando”.
Na opinião do deputado Dirceu Dresch (PT), um dos proponentes da audiência pública, é necessário reestruturar o fornecimento de energia elétrica para permitir a implantação de sistemas de irrigação. “Há um problema sério em Santa Catarina: a Celesc não está dando conta e o resultado são apagões frequentes, que causam prejuízos a muitos produtores. Poderia ser criado um programa de incentivo para trocar o sistema bifásico pelo trifásico”, disse.
Preço da cebola
De acordo com o coordenador da Câmara Setorial da Cebola de Santa Catarina, o engenheiro agrônomo da Epagri Daniel Schmidt, o estado é o principal fornecedor da hortaliça para o mercado nacional. Sua produção para este ano está estimada em aproximadamente 420 mil toneladas. O preço atual do quilo da cebola no estado é de R$ 0,50. Schmidt prevê que o valor ultrapasse R$ 0,70/kg com o aumento da procura pelo produto devido às festas de final de ano. “A partir de fevereiro do próximo ano devemos ter novamente os valores acima de R$ 1 por quilo, algo mais aceitável para os nossos produtores, uma vez que o custo de produção está em torno de R$ 0,40, R$ 0,45 por quilo”, pontuou.
O fator que mais influenciou a queda do preço da cebola no mercado nacional, segundo Schmidt, foi a oferta do produto proveniente de outros estados e também de outros países. “Neste ano outras regiões do país – principalmente Minas Gerais, Goiás e parte de São Paulo – tiveram sua safra atrasada e ficaram ofertando cebola até novembro e parte de dezembro, o que fez com que o mercado tivesse bastante abastecido de cebola, causando a queda dos preços”, explicou.
Conforme o engenheiro agrônomo, neste momento os principais concorrentes de Santa Catarina são os estados do Paraná e Rio Grande do Sul. “No entanto, a produção deles é menor do que a nossa. Além disso, nossos estados vizinhos não têm a estrutura de armazenamento que Santa Catarina tem. Isso nos dá uma possibilidade muito maior de escalonar a oferta e, principalmente, de armazenar para vender a partir de março do próximo ano, quando normalmente os preços são mais interessantes”.
Outra reivindicação dos produtores catarinenses é que o governo federal regule a importação da cebola. “Isso se refere, principalmente, à importação do mercado comum europeu, que não é previsível. Achamos que há dumping, que tem incentivos por parte do governo e das estruturas de apoio dos agricultores, das cooperativas, pois conseguem colocar a cebola no Brasil a preços muitos baixos e provocam prejuízos aos nossos produtores”, disse o coordenador da Câmara Setorial da Cebola de Santa Catarina. “Vamos levar essa preocupação ao governo federal porque essa situação está prejudicando toda a economia regional”, destacou Dresch.
Rádio AL