Especialista destaca técnicas para desenvolver a comunicação em autistas
O Seminário Descentralizado de Estudo e Conscientização sobre o Autismo, que acontece entre os dias 18 e 20 deste mês no clube Aqua Camponovense, em Campos Novos, teve como foco nesta quinta-feira (19) a estimulação de gestos comunicativos em pessoas com transtornos de desenvolvimento.
O evento integra um ciclo de debates sobre a síndrome, promovido pela Assembleia Legislativa, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, presidida pelo deputado José Nei Ascari (PSD), e da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, em parceria com a Associação Catarinense de Autismo (ASCA) e da Associação de Pais e Amigos dos Autistas (AMA).
O especialista em transtornos do desenvolvimento, Miguel Higuera Cancino, enumerou uma série de técnicas criadas para que crianças afetadas pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA) possam desenvolver seu potencial comunicativo, cognitivo e social. De acordo com Cancino, crianças com este tipo de alteração neurológica, tidas como isoladas, são naturalmente comunicativas, mas o fazem de forma utilitária, unicamente para obter as coisas que precisam. Com base nesta característica, disse, é importante que as pessoas que as cercam procurem interpretar a intenção por trás das suas ações. "São gestos, vocalizações e emoções dos quais só elas conhecem a intencionalidade, como tapar os ouvidos para mostrar que não estão gostando de algo ou bater palmas para indicar aprovação", exemplificou.
Muitos gestuais também podem ser bastante sutis, mas sempre indicam uma intenção. "Precisamos aprender a observá-los. Muitas vezes os autistas produzem micro movimentos das mãos ou do corpo com a intenção de indicar algo que querem. Aprender a interpretar estas atitudes é o primeiro passo para estabelecer um relacionamento com a criança."
Para Cancino, os autistas procuram se relacionar com o mundo, mas o preconceito dos próprios familiares e professores, ao relacionarem cada gesto como reflexo do transtorno, acaba por travar o processo. "Nosso olhar é muito preconceituoso. Podemos interpretar um choro de uma criança como simples birra, quando na verdade ela está querendo comunicar uma dor de barriga ou medo, cansaço, frustração."
Caso a comunicação da criança esteja excessivamente baseada nos gestuais, pais e professores podem adotar a estratégia de criar "pequenos problemas" que a incentive a desenvolver outros meios de interação, como a fala. "Podemos deixar de atendê-la prontamente quando ela pede algo ou, caso ela aponte para a torneira, não entregar um copo d'água, mas um sapato, incentivando-a, assim, a vocalizar o pedido."
As técnicas citadas, afirmou o especialista, são baseadas no modelo comportamentalista e na linguagem natural, mas também nas experiências de relacionamento com o próprio filho, de 12 anos, vítima do transtorno em grau severo. Ele ressaltou que, ainda que não haja uma cura para o autismo, é possível dotar a criança de um nível maior de independência, desde que a estimulação para isso seja feita o mais cedo possível. "Como pai, não me interessa que ele saiba ler e escrever, mas que consiga realizar coisas como se vestir e escovar os dentes sozinho, arrumar seu quarto e brincar no parquinho. Nosso objetivo principal é a felicidade da família e também a interação na escola, que são o universo central da criança."
Estruturando rotinas e limites
Autor dos livros "Meu Filho Não Fala" e "Transtornos Invasivos do Desenvolvimento e da Comunicação", nos quais descreve técnicas e condutas de estímulo à criança autista, como a utilização do gestual e pontos de apoio visual, Cancino também preconizou a criação de rotinas como método pedagógico.
Segundo ele, o cérebro do autista não reconhece experiências não realizadas antes, o que torna fundamental o estabelecimento de um mínimo de condutas que permita a socialização. "Elas precisam ter limites e rotinas, normas claras e simples das coisas que podem e que não podem fazer e que lhes possibilitem a inclusão social."
Agência AL
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