Diagnóstico precoce potencializa a recuperação do autista, afirma especialista
A identificação do autismo logo nos primeiros anos de vida da criança é crucial para aumentar a eficácia do tratamento, podendo, em alguns casos, reverter a quase totalidade dos prejuízos decorrentes do transtorno. O fato foi destacado na tarde desta terça-feira (18), durante o Seminário Descentralizado de Estudo e Conscientização sobre o Autismo, que acontece até está quinta (20), no Clube Aqua Camponovense, em Campos Novos. O evento faz parte de um ciclo de debates sobre a síndrome, promovido pela Assembleia Legislativa, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, em parceria com a Associação Catarinense de Autismo (Asca) e da Associação de Pais e Amigos dos Autistas (AMA).
De acordo com o médico pediatra Egon Frantz, especializado em doenças neurológicas que afetam crianças e adolescentes, as chances de recuperação do autista estão diretamente relacionadas ao momento em que o transtorno é detectado. "Caso seja identificado antes da criança completar um ano, as chances de melhora no prognóstico são de 90%. Já em uma criança de três anos, os níveis caem para cerca de 70 a 80% e para 40% a partir dos quatros anos de idade."
Sintomas são complexos, mas de fácil detecção
Atualmente, o sistema utilizado para o diagnóstico do autismo é o DSM-4, (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) desenvolvido pela Associação Americana de Psiquiatria. Por meio dele, são considerados autistas os indivíduos que apresentam características ligadas a desordens nos campos da interação social, comunicação e que apresentam padrões repetitivos e estereotipados, bem como atrasos ou funcionamento anormal na ação simbólica ou imaginária. O modelo é considerado exagerado por muitos pesquisadores brasileiros pelo número excessivo de comportamentos considerados como indicativos do transtorno.
O DSM-5, mais restritivo e que ainda será lançado no Brasil, deve simplificar a identificação dos casos, tornando o processo mais preciso. Além disso, afirmou Frantz, o novo modelo também propõe a eliminação das categorias Autismo como a síndrome de Asperger, o Transtorno Desintegrativo e Transtorno Global do Desenvolvimento, que devem ser substituídas por apenas uma denominação: Transtornos do Espectro Autista (TEA).
Independentemente do sistema de identificação, os primeiros sinais do autismo em recém-nascidos, explicou o especialista, podem ser identificados por um médico experiente ou até mesmo pelos próprios pais. Eles vão do choro intenso à calma excessiva da criança, ou sintomas mais clássicos, como a indiferença pelas coisas que acontecem ao seu redor e a dificuldade em fixar o olhar em outras pessoas. "É um transtorno muito complexo, que possui múltiplas causas, mas de maneira bastante simples pode-se reconhecê-lo em crianças abaixo de um ano."
Ele ressaltou ainda a importância dos pais monitorarem seus filhos constantemente nos primeiros anos de vida e prestarem especial atenção ao aspecto da comunicação verbal. "Muitas pessoas acham que a fala tardia pode ser algo normal, uma característica da família, mas hoje sabemos que se uma criança não começar a verbalizar com 1 ano e quatro meses de idade deve ser levada a um especialista. Não se deve ficar esperando, agir precocemente é fundamental para a recuperação", ensinou.
Apoio farmacológico
Na palestra, Frantz também descreveu as diversas formas de tratamento do autismo infantil e os principais medicamentos utilizados atualmente. Entre as drogas mais usadas estão os neurolépticos, ansiolígicos, estabilizadores de humor e anticonvulsivantes. "Esses medicamentos não curam o autismo, pois isso ainda não é possível, mas apresentam bons resultados na diminuição dos efeitos do transtorno, como estereotipias, agressividade, ansiedade e alterações de humor."
Apesar dos resultados comprovadamente favoráveis, uso de fármacos no combate aos efeitos do autismo ainda encontra certa resistência entre a população, disse o médico. "Muitos pais se mostram reticentes à prescrição destes medicamentos aos seus filhos por achar que eles vão deixá-los dopados ou viciados. Isso é um mito, que impede o sucesso do tratamento". Para a obtenção de melhores resultados, o médico aconselhou a utilização das substâncias em associação com terapias multidisciplinares que envolvam fonoaudiologia, fisioterapia e educação física.
Agência AL
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