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08/07/2022 - 14h35min

Documentos históricos são recuperados e preservados no Centro de Memória

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São 40 volumes de documentos históricos em fase de recuperação
FOTO: Rodolfo Espínola/Agência AL

“Os cupins trabalham em silêncio e o silêncio faz com que eu reflita sobre como proceder”. Com essa frase de Confúcio (filósofo e pensador político da China que viveu entre 552 e 479 A.C), a restauradora Kézia Lenderly Oliveira Cunha explica o trabalho técnico e de paciência que vem desenvolvendo para encadernar 40 volumes de documentos históricos de 1873 a 1960, incluindo mensagens do governador Hercílio Luz, pareceres, anais e diários do Parlamento catarinense. Sob a guarda do Centro de Memória/Coordenadoria de Documentação da Alesc, esses documentos estão em fase de costura e encadernação no Laboratório de Conservação e Restauração.

Por se tratar de livros históricos, alguns com mais de um século, e frágeis, o trabalho exige conhecimento científico e artístico. A técnica empregada é a de encadernação à Bradel de capas soltas, com emprego de materiais apropriados para livros restaurados, seguindo as recomendações da conservação de longo termo adotadas pelo laboratório da Alesc e as diretrizes legais (Lei nº 17.449 de 10 de janeiro de 2018, em Anexo Único - Capítulo II, item 2.5.6 das Estratégias e Ações das Diretrizes do Plano Estadual de Cultura).

Restauradora Kézia CunhaNatural do Pará, mas há 45 anos residindo em Florianópolis, a restauradora explica que utiliza uma técnica que desenvolveu estudando vários especialistas sobre o tema. “Não trato mais o livro como um suporte da escrita ou da história, mas como um objeto de arte e, neste processo, o trabalho que desenvolvo é voltado para conservação deste material. É um trabalho minucioso, solitário e silencioso. Cada volume dialoga comigo, dizendo a necessidade dele”, detalha. Kézia, que trabalhou anos com a ícone da conservação catarinense, no Arquivo Histórico, Leda Maria Dávila dos Prazeres, explica que dependendo do documento, ela pode utilizar técnicas francesas, japonesas, italianas ou espanholas para recuperar o material.

A costura e a encadernação consistem na etapa final do trabalho de restauração de livros, executado previamente pelos profissionais do laboratório. Entre os livros restaurados que agora ganharão uma nova encadernação estão mensagens do governador do Estado ao Poder Legislativo, datadas do início do século passado, além de coleções de atos legislativos (Anais). A expectativa é que o trabalho de encadernação seja concluído no prazo de quatro meses. Alguns dos volumes que estão sendo recuperados chegam a ter mais de 400 páginas.

Preservação dos arquivos
O servidor Amilton Gonçalves, restaurador do Centro de Memória, conta que antes o trabalho de restauração era feito por profissionais de fora da Casa, o que poderia prejudicar no processo de preservação dos arquivos. Após receberem um treinamento ministrado por uma artesã de papel, agora o processo é realizado pelos próprios servidores do parlamento. 

Amilton Gonçalves, restaurador do Centro de Memória da Alesc“Agora a gente acompanha todas as etapas, porque esse processo de intervenção na documentação é algo muito sério, tem que ter muita ciência e cautela, saber realmente o que está fazendo. É importante poder acompanhar o passo a passo, porque se algo for feito de errado, pode prejudicar o documento e a própria informação.”

Todos os documentos restaurados recebem reforço e não podem receber a intervenção de grampos, apenas costura para que o papel não seja danificado. Além disso, as letras já apagadas, por exemplo, não podem ser substituídas, tudo deve seguir como o original. Após concluída a higienização e restauração, os documentos são encadernados.  

“O cuidado é todo especial. É um trabalho que vem buscar a restauração em si, não é uma transformação, ou seja, não é tornar o documento novo, é uma intervenção importante para que ele possa ser objeto de pesquisa e que o público realmente possa tê-lo em condições de poder folhear e fazer sua pesquisa. Então depois da intervenção, a gente busca todo esse cuidado usando luva, toda uma proteção.”

Ele reforça que todo o trabalho é feito com o objetivo de manter a originalidade do documento, preservando a história de como esse material nasceu. “Para isso é preciso muita técnica, é feita uma avaliação individual, o diagnóstico de cada documento, depois é estudado a técnica que será utilizada. Se não tiver todo esse cuidado, pode ocorrer a descaracterização de tudo.”

Amilton acrescenta que a conservação dos documentos depende do controle da umidade relativa do ar e da temperatura. “A temperatura deve ser constante, entre 21°C e 23°C, e a umidade entre 55 e 60. Mantendo esses cuidados, um documento restaurado pode durar mais de 100, 200 anos.”

Guarda permanente
Com arquivos datados de 1835 até o presente momento, o Centro de Memória da Assembleia Legislativa de Santa Catarina guarda milhares de documentos históricos e permanentes, detalha a gerente do Centro de Memórias, jornalista Lisandrea Costa.

“Os documentos que a gente armazena são de guarda permanente, são documentos históricos, maioria deles raros, então eles precisam de cuidados, de tratamento, de conservação constante. É um dever do Estado e de toda sociedade garantir e atuar pela conservação deste patrimônio.”

Lisandrea Costa, gerente do Centro de Memórias da AlescEntre os documentos preservados estão pareceres, mensagens de governadores, decretos e resoluções, leis sancionadas e o projeto da primeira constituição de Santa Catarina, aprovada em 1891, que foi manuscrita. “Nós temos essa preocupação de preservar, não só guardar os documentos ditos históricos, mas conservá-los.”

Lisandrea ressalta que a conservação documental é prevista em lei, que segue uma série de diretrizes e parâmetros previstos nas normas técnicas. "A preservação, a conservação destes documentos, asseguram que as próximas gerações tenham um rastro, um registro, de como os documentos eram, de como foi o trâmite legislativo. Todas as gerações futuras têm o direito ao acesso a esses documentos.”

O Centro de Memória foi inaugurado em 1999 e é vinculado à Coordenadoria de Documentação. A função do setor é restaurar, preservar e difundir a produção legislativa, composta por documentos originais produzidos a partir de 1835, época da Assembleia Provincial. Os documentos são categorizados conforme uma tabela de temporalidade, que define quais deles é de guarda permanente.

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