Setembro Amarelo: CVV e a arte de escutar quem não vê mais sentido na vida
FOTO: Solon Soares/Agência AL
Muitos antes do suicídio ser encarado como um problema de saúde pública, uma associação sem fins lucrativos começou a atuar fortemente na prevenção, tema da campanha Setembro Amarelo. Trata-se do Centro de Valorização da Vida (CVV), que presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo.
O CVV surgiu em São Paulo, em 1962. Atualmente, atende em 18 estados e o Distrito Federal, pelo telefone 141; no site, via chat; pelo Skype e pelo e-mail. Em Florianópolis, a entidade atua há 24 anos.
Voluntário na capital catarinense, José Vilela Sobreira Sobrinho afirma que os responsáveis pelo atendimento são preparados na arte de ouvir as pessoas que entram em contato em busca de ajuda. “É uma escuta profunda, respeitosa, amorosa, compreensiva, que aceita a pessoa como ela está, sem julgamentos ou críticas”, explica. “Nunca falamos que a pessoa está errada. Ainda não inventaram uma máquina que medisse o sentimento de dor. Isso é diferente em cada ser humano.”
Sobreira defende que o assunto seja abertamente discutido pela mídia, sem focar em casos específicos, mas alertando para o número elevado de casos e para a prevenção. “Como se combate a aids? Falando-se abertamente sobre a camisinha. Há um tempo isso era tabu. Precisamos falar abertamente sobre o suicídio com a mesma naturalidade que falamos sobre a camisinha”, compara.
Ele também considera o suicídio um problema de saúde pública. O fato de cada vez mais jovens se suicidarem também justifica, na avaliação de Sobreira, que o assunto seja abordado abertamente. “A idade média de quem comete suicídio no nosso país é 21 anos. Não dá pra ficar de braços cruzados e não fazer nada. Mas infelizmente nossas autoridades não estão atentas para isso.”
Sinais
O voluntário explica que a prevenção deve abranger os possíveis suicidas e seus familiares e amigos. “Não há uma fórmula para se evitar o suicídio. Há caminhos que o previnem, conhecimento que a gente pode usar para identificar um caso em potencial.”
Observar o comportamento da pessoa é uma das principais estratégias. Qualquer alteração repentina de comportamento e de hábitos pode ser um sinal. “A pessoa que tem ideações suicidas dá muitos sinais indiretos, mas dificilmente ela fala que vai se matar. Quando ela chega nesse ponto, é porque já é necessário um cuidado mais intenso”, explica.
Frases como “qualquer hora eu vou sumir”, “vou viajar e vocês nunca mais vão me ver” ou “vocês não vão sentir falta de mim” também são sinais de que algo está errado. “É alguém querendo dizer que está carente de afeto, ou algo que incomoda”, disse. “Se você dá espaço para que o outro possa falar de seus sentimentos, de suas dores, que para ele a vida está uma droga, e você aceitar que para ele a vida está uma droga, você está fazendo um exercício de profunda empatia, se colocar no lugar do outro, não viver a vida do outro.”
Caminhada
O CVV também é um dos responsáveis pelo Setembro Amarelo. Como parte das atividades do mês, será realizada neste sábado (10), em Florianópolis, uma caminhada na Avenida Beira-Mar Norte, com partida do Koxixos, às 15h30.
Mais informações sobre a campanha podem ser obtidas no site do Setembro Amarelo. A iniciativa é da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP) e Conselho Federal de Medicina (CFM). Em Santa Cantarina, conta com o apoio da Fenam, Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Ministério Público Estadual, OAB/SC, CVV, Sociedade Brasileira de Neuropsicológica (SBNP), Inbranec, Exército Brasileiro, Polícia Militar de Santa Catarina, Bombeiros/SC, Sest/Senat, Unisul, Unimed Joinville e prefeituras de Santa Catarina.
Agência AL
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