Comissão de Segurança Pública busca soluções para roubos de cargas
Santa Catarina é o segundo estado do país com maior incidência de roubos e furtos de cargas. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontam 405 ocorrências em 2012 e 23 já contabilizadas ente ano nas rodovias catarinenses. Duas soluções principais para o problema foram apontadas durante reunião especial realizada na Assembleia Legislativa: a criação de uma delegacia especial para repressão qualificada a roubos de cargas e a centralização de informações sobre as ocorrências no setor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública.
Por solicitação da Fetrancesc (Federação das Empresas de Transportes de Cargas e Logística no Estado de Santa Catarina), a Comissão de Segurança Pública promoveu a reunião sobre o tema na manhã desta quarta-feira (10). Pedro Lopes, presidente da Fretancesc, pontuou os principais problemas que os atos criminosos vêm acarretando no estado, com danos à economia, às empresas e aos trabalhadores do transporte. “É preciso uma atuação forte da Polícia Federal nas fronteiras dos estados. As quadrilhas são articuladas e vendem as mercadorias fora do estado”, disse Lopes.
Outro problema apontado é a questão das seguradoras de veículos que não aceitam mais segurar caminhões e cargas. “Para um veículo que custa R$ 300 mil estão cobrando um seguro de R$ 40 mil por ano. Isso é caro e inviável para as empresas”, revelou. Segundo a Fetrancesc, as regiões Oeste e Meio Oeste catarinense são as mais vulneráveis. Lopes disse que há trechos em que não há cobertura de comunicação e as quadrilhas estão usando dispositivos que interrompem os sinais de localização dos veículos.
Quadrilhas articuladas
Anselmo Schopper Júnior é diretor de uma empresa de transporte de medicamentos em Tubarão. Segundo o empresário, são investidos R$ 100 mil mensais em escolta, já que os produtos que comercializam são alvo frequente dos criminosos. “Em seis anos, foram gastos R$ 2,5 milhões em segurança. Uma conta muito alta”, disse.
O inspetor Fernando Machado Magalhães, chefe de Operações da Polícia Rodoviária Federal, ponderou que a falta de efetivo agrava as condições de fiscalização nas estradas. “Temos apenas 300 policiais atuando no estado em turnos”, disse. O policial defende uma atuação conjunta das polícias a exemplo da “Operação Divisas”, decorrente da onda de violência no estado, desencadeada em fevereiro. “Esta é uma receita de sucesso que precisa ser efetivada. Foram 322 detidos e 26 mandados de prisão cumpridos em 40 dias de operação”, informou.
Para Magalhães, a forma de atuação, o poder de comunicação e de logística das quadrilhas impressiona e dificulta a atuação da polícia. “A comunicação deles supera a nossa, infelizmente”, lamentou. A contratação de mais policiais e a integração das polícias seria uma das soluções apontadas. “A gente pensa que o governo brinca com a segurança pública”, desabafou.
Rodovias federais são alvo
O tenente-coronel José Norberto de Souza Filho, comandante do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária de Santa Catarina, afirmou que a mesma falta de efetivo na PRF também é uma realidade nas rodovias estaduais. Ele também aposta num trabalho conjunto, para o qual a polícia estadual poderia contribuir, já que a ação das quadrilhas acontece quase em sua totalidade nas estradas federais. “Em cinco anos, tivemos apenas um registro de roubo nas rodovias estaduais”, disse Souza.
A criação de uma delegacia especial para investigar e reprimir os roubos e furtos nas estradas catarinenses faz parte de um plano de reestruturação da Secretaria Estadual de Segurança Pública, já aprovado. Porém, segundo o delegado Laurito Aquira Sato, diretor da Diretoria Especial de Investigações Criminais (Deic), falta efetivo e estrutura para o início dos trabalhos. Hoje, a Deic tem uma divisão de investigação de roubo contra o patrimônio, mas apenas sete agentes atuam no combate a este tipo de crime.
“Temos isso como prioridade em nosso planejamento, mas vêm surgindo demandas sociais que precisamos responder imediatamente, como a última onda de ataques e os roubos a caixas eletrônicos”, argumentou. Nestes casos, a maioria dos agentes é deslocada para atuar em focos pontuais e específicos de repressão aos atos criminais.
Corrupção atrapalha investigações
A Divisão de Roubos e Furtos da Deic vem investigando as ações das quadrilhas no estado. Presente na reunião, o responsável pela área, delegado Anselmo Cruz, sugeriu que todas as informações sobre as investigações dos diversos órgãos sejam concentradas na Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, a exemplo das investigações sobre os roubos a caixas eletrônicos. Assim, seria possível ações de repressão mais eficazes.
Outro ponto destacado por Cruz, que atrapalha e muito as investigações, é a corrupção de funcionários de empresas de transportes. “Muitas vezes, por valores irrisórios, funcionários facilitam a ação das quadrilhas e prestam informações falsas à polícia, o que dificulta nosso trabalho. As quadrilhas sabem antecipadamente o que vão roubar, por onde a carga vai passar e até os valores nas notas fiscais”, reclamou.
Neste sentido, o presidente da Fretancesc sugeriu que na próxima reunião sobre o tema os empresários do setor sejam convidados para o debate, contribuindo para a diminuição destes casos. Outro apelo de Lopes é que a Secretaria da Fazenda seja envolvida, já que as quadrilhas comercializam irregularmente as cargas roubadas.
Reuniões periódicas na Comissão
Além do presidente da Comissão de Segurança Pública, Maurício Eskudlark (PSD), participaram da reunião Ana Paula Lima (PT), Valmir Comin (PP), Darci de Matos (PSD), Antonio Aguiar (PMDB), Sargento Amauri Soares (PDT) e Reno Caramori (PP). “Vamos encaminhar uma moção à Secretaria de Segurança Pública pedindo a criação de uma delegacia especial de combate ao roubo e furto de cargas em Santa Catarina. Além disso, vamos realizar reuniões a cada três ou quatro meses para acompanharmos a evolução do assunto”, garantiu Eskudlark.
Todos os deputados presentes se mostraram preocupados com as informações recebidas na reunião, principalmente no tocante à comparação do poderio das quadrilhas em relação à falta de estrutura para a repressão. “Como disse o representante da PRF, parece que o governo realmente está brincando com a segurança”, disparou Ana Paula. Sargento Soares disse que há interesses financeiros de muita gente por trás destas ações e que há três anos já presenciou uma reunião da comissão com as mesmas instituições e com os mesmos problemas. “É preciso que tenhamos ações efetivas e mais estrutura”, pediu o deputado.
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