Assembleia promove 1º Seminário Internacional dos Povos Surdos
A Assembleia Legislativa sediou nesta sexta-feira (14) o 1º Seminário Internacional dos Povos Surdos, que contou com participação de brasileiros, ingleses e alemães. O evento marcou a passagem dos 60 anos de fundação da Associação de Surdos da Grande Florianópolis (ASGF) e possibilitou um diálogo em tempo real, via Skype, com membros da Associação de Surdos da cidade de Paderborn, na Alemanha.
“Temos uma revista com 22 anos de história, queremos que a sociedade em geral tenha conhecimento da cultura surda e acredite na capacidade do surdo”, contou Ralf Kirchoff, que pediu à ASGF compartilhar documentos e informações sobre conquistas de direitos. Sandra Lúcia de Amorim, presidente da ASGF, assumiu o compromisso de enviar informações e garantiu aos surdos alemães que no Brasil a “luta é intensa” e que a conquista de direitos demanda “um esforço muito grande”.
A conversa em tempo real, assistida por dezenas de ouvintes e de surdos no auditório deputada Antonieta de Barros, somente foi possível com a intervenção de três interpretes. Os alemães têm uma língua de sinais própria, que era traduzida para a Língua de Sinais Internacional e esta, por fim, traduzida para o português falado. “Agradeço a tecnologia por nos propiciar este momento”, brincou Ralf.
O seminário foi realizado com o apoio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira.
Os surdos em Florianópolis
O professor Rodolfo Pinto da Luz, secretário de Educação de Florianópolis, revelou que a secretaria atua em parceria com a ASGF. “Atendemos 98 pessoas em uma oficina, com apoio pedagógico e professores”, explicou Rodolfo, acrescentando que atualmente há duas turmas de Educação de Jovens e Adultos cuja primeira língua é Libras. Além disso, o município dispõe de 21 professores de Libras, sendo que 12 estão ensinando e nove atuam como intérpretes.
A experiência inglesa
Apesar de a Associação Britânica de surdos estar completando 125 anos de história, na Inglaterra, diferentemente do Brasil, ainda não há uma regulamentação oficial de um sistema linguístico de sinais. "Há sim o respeito pela língua de sinais, mas nada de garantias legais sobre a British Sign Language (BSL)", destacou Rachel Louise Sutton Spence, professora com formação em Oxford, mas que atualmente leciona na UFSC.
Raquel, que palestrou sobre os clubes de surdos ingleses, revelou que a presença desses clubes como espaço de interação entre as pessoas com deficiência auditiva tem diminuído atualmente, principalmente porque os jovens encontraram outras formas de socializarem através da internet. "Ao invés de frequentarem as associações, eles marcam encontros nas redes sociais e reúnem-se em pubs, por exemplo. É por isso que nos clubes encontramos mais pessoas idosas", esclareceu a professora. Com a diminuição desses espaços outras alternativas de inserção social estão sendo criadas, como as escolas bilíngues, onde se aprende além da língua oficial do país também a BSL.
Outras dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência auditiva na Inglaterra em virtude da falta de uma lei que regulamente o uso da BSL é que no país existem aproximadamente 15 dialetos diferentes que foram baseados no uso regional das escolas. Uma das principais diferenças em relação à Libras é a soletração, feita utilizando-se ambas as mãos, destacou a professora.
60 anos da ASGF
No encerramento do seminário, a presidente da ASGF falou sobre as lutas e conquistas da associação que comemora 60 anos de fundação no dia 15 de agosto. Sandra destacou que as atividades desenvolvidas na entidade têm como foco principal a promoção dos direitos da pessoa surda, lutando pela acessibilidade comunicativa e pela defesa da Libras. "É importante que as pessoas entendam a importância da garantia dos nossos direitos, e muitas vezes o que falta é informação". Ela defendeu a associação como um espaço de engajamento.
A presidente também destacou a Lei 13.016/2014, do governo federal, como um dos principais desafios da associação atualmente. A lei, que ficou conhecida como o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil, deve passar a vigorar a partir de 23 de janeiro de 2016 e institui as normas gerais para as parcerias voluntárias envolvendo ou não transferência de recursos entre entes públicos e Organizações da Sociedade Civil (OSC).
Sandra questionou a falta de representatividade das associações de surdos no debate que propôs a nova lei. "O que estamos vendo é que não há uma preocupação em tornar as informações acessíveis em Libras. Temos uma grande preocupação com a distribuição dos recursos públicos que podem acabar por inviabilizar o trabalho desenvolvido pelas entidades", enfatizou a presidente.
Hoje a entidade tem uma forte presença na defesa da educação e da família das pessoas com essa deficiência, promovendo cursos de formação de jovens e adultos (EJA), atividades desportivas, além de eventos para a valorização da Libras como o Setembro Azul.
Vitor Santos/Lucio Baggio