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17/08/2020 - 12h20min

Por que o jovem sai mais cedo do campo?

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FOT: Divulgação/Portal Atividade Rural

Os agricultores envelhecem no mundo todo e os substitutos nas suas aposentadorias ficam cada vez mais escassos. O Brasil, uma das agriculturas mais jovens, que só agora começa a ganhar escala para enviar alimentos para o mundo todo, não fica isento a esse fenômeno.

Em 2018, o Censo Agropecuário apurou que 71% dos produtores brasileiros tinham mais de 45 anos, um percentual superior ao da União Europeia, que é de 70%. Nos Estados Unidos, essa faixa etária é ainda maior: 80%.

A zootecnista Fernanda Hentz analisa nesta entrevista, alguns dos motivos pelos quais o jovem se afasta mais cedo do campo. Segundo Fernanda, que é assessora no Mandato do deputado Fabiano da Luz (PT), "outro aspecto determinante pode estar relacionado às condições materiais/econômicas da unidade de produção; e por independência financeira." O cenário atinge fortemente a realidade de Santa Catarina. O desafio está presente: como podemos, de maneira atrativa, manter a juventude nas áreas rurais?

Um campo de desafios
Dos 2 milhões de pessoas que migraram do campo para as cidades entre uma década, a metade era de jovens sem condições de produzir na propriedade dos pais. Há dois desafios postos para a juventude rural: conquistar o seu lugar no espaço rural e disputar seu lugar no âmbito das juventudes.

Ao mesmo tempo em que os jovens precisam lidar com a invisibilidade da juventude nos espaços decisórios do rural (família, associações, cooperativas, colegiados territoriais etc.), devem também disputar espaço e pautas com jovens das cidades e lutar pela superação da visão preconceituosa que identifica o rural como residual, atrasado e sem papel no desenvolvimento nacional.

As angústias e dificuldades vivenciadas por essa juventude já deveriam ser motivo suficiente para o repensar das políticas públicas que precisam chegar nessas cidadãs e cidadãos. Afinal, são milhões de pessoas sem acesso ou com acesso precário a direitos e políticas essenciais, que, a começar pela terra – como território e fator de produção  –, estendem-se à educação do campo com uma pedagogia de alternância.

Mas há ainda um argumento de fundo que traz a questão da permanência da juventude no campo para o centro do debate. Conceitualmente condensado pela literatura e pelas organizações da sociedade civil no termo sucessão rural, a condição e as perspectivas de permanência da juventude no campo, nas florestas e nas águas tornam-se chave para a dinâmica socioeconômica e cultural do mundo rural brasileiro.

Isso porque o esvaziamento do campo acaba por dar prazo de validade ao modelo familiar e camponês de desenvolvimento rural, gerando impactos diretos e significativos também sobre as cidades, com as consequências já conhecidas de inchaço dos centros urbanos e alteração análoga de suas dinâmicas socioeconômicas e culturais.

Leia a entrevista a seguir:

Entrevistada
Fernanda Hentz
Formações:
Zootecnista, Udesc
Mestrado em Zootecnia na área de Nutrição de Ruminantes, UFSM
Doutorado em Zootecnia na área de Nutrição de Ruminantes, UFSM
Pesquisadora da Epagri, Estação Experimental de Lages, cedida para a Alesc.

Perguntas:

1 - Por que os jovens têm se afastado do campo ou saído cada vez mais cedo?

Existem vários meios rurais, que são diferenciados pelos processos de desenvolvimento agrário e ambientes culturais que há entre e dentro das diferentes regiões do país. Não se pode igualar as problemáticas vivenciadas pelos jovens rurais, ignorando o meio no qual estão inseridos. A permanência ou saída do jovem do campo vai além da simples “atração” pela cidade e precisa ser entendida como um todo.

A saída dos jovens do meio rural para o urbano pode estar relacionada a fatores subjetivos envolvendo as condições de vida do jovem e sua família no meio rural, insatisfação com a vida “na roça” dada pela exclusão dos processos de desenvolvimento (“atraso”) em muitas regiões, falta de oportunidades, relativo menor acesso a bens e serviços desejados pelos jovens, menor convívio social, etc.

Outro aspecto determinante pode estar relacionado às condições materiais/econômicas da unidade de produção; a propriedade rural não comporta/possui condições de proporcionar a este jovem um salário oriundo das atividades desenvolvidas na mesma. O jovem não possui independência financeira e acaba buscando isto em um emprego na cidade.

Ainda podem ser decisivos entre ficar ou sair do campo o gosto pessoal (o jovem não quer exercer a profissão de agricultor) e as relações no interior da família (autoridade do pai).

2 - Quais sugestões existem para manter os jovens no campo?

É necessário descontruirmos a ideia de que quem permanece no meio rural são as pessoas que não estudaram ou não tiveram sucesso em outras profissões. A juventude é o principal segmento para a reprodução da agricultura familiar e hoje muitos jovens estão retornando ao campo por perceberem que suas oportunidades de renda e qualidade de vida na propriedade rural são melhores que nas cidades. É necessário que ocorra a profissionalização dos jovens que permanecem no campo através do acesso à educação de qualidade, para que possam exercer as atividades agrícolas e pecuárias com conhecimento e competitividade nas suas propriedades. Além disso é preciso assegurar a permanência na escola, especialmente em regiões de maior pobreza.

A tendência para agricultura no Brasil no longo prazo é a mesma que aconteceu e segue acontecendo em países desenvolvidos: menos propriedades, maior especialização e eficiência produtiva para se manter no setor. Isto significa inicialmente formação adequada da mão de obra, independentemente de ser uma pequena propriedade ou não. Em países desenvolvidos isto já acontece há longo tempo; os jovens primeiramente recebem formação profissional de nível médio ou superior e então exercem a profissão de agricultor(a) junto com os seus pais. Nestes países, os jovens do campo têm as mesmas oportunidades e acesso às “modernidades” que os jovens das cidades, não vendo tamanha atratividade em ir para as cidades.

As informações a seguir apresentam alguns fatores que estimulam a permanência dos jovens no campo, segundo o trabalho de Troian e Breitenbach (2018).

a) Instituições de caráter técnico voltadas para a promoção da extensão rural com programas de extensão rural geradores de oportunidades de trabalho aos jovens.

b) Cooperativas de agricultores atuando como fornecedoras de crédito, assistência técnica, aperfeiçoamento produtivo e informacional e fomento social.

c) Fortalecimento de grupos locais e das organizações de agricultores.

d) Iniciativas e atividades voltadas para o lazer, através de encontros que propiciem trocas de experiências, jogos recreativos, entre outros.

e) Tecnologia, modernização do campo, máquinas e equipamentos que facilitem a realização das atividades agrícolas/ redução da penosidade do trabalho.

f) Valorização dos espaços rurais e reconhecimento da importância da agricultura.

g) Políticas voltadas para juventude rural não podem ser limitadas somente à agricultura, mas incluir, por exemplo, uma educação de qualidade, com estímulo ao desenvolvimento de projetos inovadores, que façam do meio rural uma opção de vida.

Fonte: Jovens e juventudes em estudos rurais do Brasil.Troian e Breitenbach, 2018.

Todos estes aspectos precisam ser considerados de forma conjunta; nenhum trabalho, nenhuma formação, nenhuma linha de crédito irá manter o jovem na propriedade rural se as outras condições não existirem também, e se o próprio jovem não desejar permanecer no campo.


3 - Como a pandemia afetou (e se afetou) as atividades no campo?

A produção e distribuição de alimentos foi decretada atividade essencial a partir do surgimento da pandemia do coronavírus, o que representa que as atividades agrícolas e pecuárias não pararam - e não podem parar - de ser desenvolvidas. Entretanto, o volume de vendas da safra já implantada e o volume de produção para as próximas safras em cada atividade é afetado no mesmo grau em que há diminuição de compra  dos produtos pelos consumidores. Com a determinação do isolamento e redução no poder de compra dos consumidores, muitos produtos da agricultura deixam de ser adquiridos pelos consumidores, ou são adquiridos em menor quantidade, diminuindo a demanda e por consequência os preços pagos ao produtor. Outro fator agravado pela pandemia que tem impacto direto sobre a produção no campo, é o aumento significativo do preço de alguns insumos para a produção vegetal e de alimentação animal, dado pela valorização do dólar e demanda e oferta, como por exemplo o preço dos fertilizantes e do farelo de soja.

4 - Falando do seu setor de atuação, quais áreas tendem a crescer, a ser mais interessantes para os jovens no mercado?

A produção animal é um setor da agricultura de extrema relevância para o Brasil. Somos o segundo maior produtor mundial de carne de bovinos e de frango, o quarto maior produtor de carne de suínos, quinto maior produtor de ovos e o sexto maior produtor mundial de leite. A previsão é que até 2025 o Brasil se torne o maior produtor mundial de carne bovina.

Para que haja crescimento na produção e produtividade animal brasileira deve haver melhorias nos índices zootécnicos e eficiência produtiva, através de avanços em áreas como a genética, nutrição e reprodução. Melhoramento genético, desenvolvimento e inovações tecnológicas em produtos para alimentação animal, melhoramento de forragens, aplicação de biotecnologias de reprodução animal, produtos e serviços para o bem-estar animal, rastreabilidade de produtos de origem animal, desenvolvimento e segurança de produtos alimentares de origem animal são áreas que estão em constante crescimento no mercado.

Jornalista: Maurício Santos
Informações: www.fabianodaluz.com.br
Assessoria de Comunicação/Deputado Fabiano da Luz (P
T)

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