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Publicado em 18/11/2022

O autodidata que aprendeu a arte por meio de livros e manuais

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A curadora e crítica de artes Kamilla Nunes defende que Ernesto Meyer Filho foi mais do que um artista modernista extremamente atuante no estado; foi um ativista, porque ajudou e contribuiu em muito para cena artística catarinense, desde quando participava do Grupo Sul até quando montou o GAPF (Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis), que promoveu eventos de artes aqui e levou exposições para fora do Estado. Meyer sempre foi ativo e buscou espaços em outras capitais, a ponto de ter exposto em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte.

Ela destaca que Meyer Filho foi um autodidata, que aprendeu tudo por meio de livros e manuais. “No fim da década de 1940, com os primeiros impactos do modernismo em Santa Catarina, aproximou-se do Grupo Sul, formado por intelectuais que aderiram ao movimento, e fez ilustrações para a Revista Sul, porta-voz da vanguarda local.”

Em 1949, foi criado o Mamf (Museu de Arte Moderna de Florianópolis), atual Museu de Arte de Santa Catarina. Foi ali que, em 1957, Meyer Filho realizou ao lado do pintor Hassis (1926-2001) uma exposição pioneira com pinturas e desenhos de motivos catarinenses. “Têm essas duas perspectivas de Meyer filho, como artista e como alguém que ajudou e cooperou para que a cena artística local pudesse se consolidar como movimento modernista no estado.”

Galos
Sobre as obras que retratam os galos, Kamilla Nunes diz que Meyer Filho acreditava que os galos eram um símbolo que estavam em todas as coisas, que habitavam todas as partes do mundo. “Ele se via muito como essa imagem do galo, de uma pessoa que não é propriamente brasileira, nascido em Itajaí, mas que é uma persona do mundo, como o galo, que é esse animal que pode habitar qualquer lugar e ao mesmo tempo esse animal ele é empoderado, um animal que, para o Meyer Filho, tem essa relação de poder muito forte, tanto que os galos dele são inflados, são galos bonitos, galos avantajados.”

Para Kamilla, essa imagem do galo representa uma relação viril que Meyer Filho tinha não só com a arte, mas com os personagens que ele criou, em sua maioria, masculinos. “São muito poucas as evidencias de imagens que Meyer iria fazer de mulheres, o galo de certo modo também está atrelado a essa imagem, a própria noção que ele iria ter do galo como imagem que ele pensa como um autorretrato, uma face do Meyer Filho. Seria o Meyer no mundo dos animais.”

Marte
Já sobre a relação de Meyer Filho com Marte, a crítica de artes, destaca que o artista, em muitos textos e relatos, comentava de suas viagens ao planeta vermelho, dos amigos marcianos dele. “Isso aparece muito extensivamente nas produções visuais e textuais dele, importante considerar que Meyer Filho também foi escritor, escreveu muitos contos, muitos relatos, além de feito charges e pinturas e a grande parte deste material tem esses amigos de Marte. Ele fazia viagens regulares a Marte, inclusive ele deu uma entrevista em uma rádio falando sobre sua viagem a Marte em detalhes, escreveu texto lindo que se chama ‘Os Jardins de Marte’, onde ele conta como era a paisagem neste planeta.”

Para Kamilla, Meyer Filho entendia que Marte fazia parte da vida dele. “Esse imaginário era concretizado por meio da obra dele, de todas as imagens que ele criava, a partir destes encontros imaginários ou não, por que há quem acredite, ele acreditava. Então essa é a história que ele vai desenvolver e vai criar uma conexão entre ele e Orson Welles. Ele pensava que quando Orson falou que a terra estava sendo invadido por alienígenas, ele foi tido como um gênio, enquanto ele aqui, em Florianópolis, foi entendido como um maluco quando disse que foi a Marte.”

Ela salienta que Meyer Filho, em suas obras, não olhou apenas para Florianópolis, como uma grande parte dos modernistas da época daqui fizeram, mas olhou para além da Terra. O grande diferencial dele é de pensar essa relação entre humanos e animais, mas também entre humanos e extraterrestres.  “Ele é um artista extraterreno, digamos assim, quando ele se dizia um embaixador de Marte no planeta Terra, a gente tem esse outro lado do Meyer Filho, que é esse ser ‘galaxiano’, de certo modo, poderemos pensar essa palavra de galáxia e de galo. Então, o grande diferencial dele é de estar olhando para o mundo, olhando para outras guerras que estão entorno dele, olhando para o Orson Welles, mas, sobretudo ele está olhando para uma situação que está além da Terra.”

Obras
Na avaliação de Kamilla, Meyer Filho, apesar de muitas publicações sobre ele, ainda é um artista catarinense muito pouco estudado, no sentido de que a obra dele tem um lado sombrio, que as pessoas desconhecem. “Geralmente ele é conhecido como um artista colorista, um pintor de galos, alegre, brincalhão, de um artista que contava muitas histórias, que inventava muitas histórias, de um artista que foi para Marte, mas ele tem esse outro lado, onde ele trata de temas de litígios, por exemplo, de guerras, de brigas, de situações de fato que são sombrias, são desenhos em preto e branco, em nanquim. Ele tem esses dois lados, no mínimo que podem ser mais explorados.”

Acervo do Instituto
Kamilla afirma que no Instituto Ernesto Meyer Filho há um acervo com mais de quatro mil desenhos, pinturas, fotografias, negativos, coleções de selos, além de materiais do artista. “O acervo é composto de diversos materiais, não só de obras dele, já que ele vendeu e deu muito do seu trabalho durante a vida. Há muitos colecionadores em Florianópolis que possuem obras dele, ou pessoas que conviveram com ele, pessoas do Banco do Brasil, ele fazia muitos desenhos ao vivo, a obra dele foi sendo construída, não era um artista só de ateliê, ele era um artista que estava pensando e perfomando pelas ruas, desenhando em bares e botecos.”

De acordo com ela, Meyer Filho foi durante toda sua vida organizando esse acervo.  “Ele era um arquivista do modo dele. Ele chamava de arquivos implacáveis de Meyer Filho. Tem obras que ele dizia isso não se vende. Isso se guarda, há cerca de 2.680 desenhos , isso a gente já contou, temos um projeto de restauro destes desenhos, desde pequenos feitos no banco até desenhos elaborados, maiores. É com desenho que ele começa toda sua carreira. Temos cerca de 130 pinturas, e muitos documentos (correspondências, catálogos, livros, fotos, documentos que ele intervinha).”

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