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Publicado em 18/11/2022

Ernesto Meyer Filho era um ‘gozador’ do cotidiano, diz Tércio da Gama

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O artista plástico florianopolitano Tércio da Gama, que em 1958 integrou e ajudou a formar o Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis (GAPF), considera que Ernesto Meyer Filho, era uma "personalidade gozadora nata, contra as convenções, um rebelde da época". Tércio conviveu muitos anos com Meyer Filho em Florianópolis e tem várias histórias em que o artista aprontava na Capital, como forma de chocar a sociedade mais conservadora da época.

Tércio integrou o GAPF, grupo que reuniu nove jovens artistas da Capital, entre eles Meyer Filho, Pedro Paulo Vecchietti, Hugo Mund Júnior, Thales Brognoli, Dimas Rosa, Aldo Nunes, Rodrigo de Haro e Hassis. Também autodidata, conta que foi observando paisagens, animais, elementos da natureza, sentindo o poder da música que passou a criar. Ele relembra seu início na pintura, quando retratava mais fielmente as cenas de seu cotidiano, como os ranchos de pescadores, as canoas, o folclore de Florianópolis. Mas, certo dia, achou que, se fosse para fazer dessa forma, seria melhor fotografar e, assim, resolveu criar com maior liberdade.

Sobre os galos que Meyer Filho retratava, Tércio lembra que o artista tinha galos em sua casa, que eram grandes, então ele pintava os galos, de forma estilizada. “Ele pintou galo aeronáutico, galo galáctico, galo carroceiro, que me lembre, galo pescador, galo rei, galo extraterrestre.”

Já sobre Marte, Tércio da Gama diz que toda a história era uma brincadeira. “Foi uma maneira de atrair, de colocar ele em evidência, ele sempre dizia que veio de Marte, que ele era amigo dos extraterrestres.” Ele lembra que havia um programa famoso na rádio, cujo proprietário, Manoel de Menezes, entrevistou Meyer Filho.

“A entrevista durou horas, com uma audiência muito grande, porque Meyer Filho contava como era Marte. Um dia, foi muito gozado, porque no programa, Manoel perguntou como você tem certeza que existe um ET? E ele disse que havia um ao lado dele e o Manoel levou um sustou, olhando para o lado para ver se tinha realmente. Era a maneira dele de se enfatizar, sempre inventando, criando alguma coisa.”

Exemplos
Ele era um gozador nato, ele era contra as convenções, ele era rebelde, cita Tércio. “Vou dar um exemplo o Cine Ritz e o Glória, na época eram cinemas chiques, não permitiam que o homem fosse nas sessões sem paletó e, colocaram um cartaz proibindo a entrada sem paletó, ele veio de paletó, de shorts e de chinelo de dedos. Os caras disseram isso não podia e ele disse:  Estou de paletó. Deu aquela confusão e ele entrou.No outro dia estava no cartaz que era proibido a entrada sem paletó, de shorts e chinelo de dedo. O negócio dele era contrariar as convenções. Isso em qualquer atividade humana.”

Outro exemplo: ele era funcionário do Banco do Brasil, concursado, mas tinha uma mania, quase compulsão de pintar e desenhar. Eles tiraram as canetas dele, ele fazia um trabalho que não havia necessidade de canetas, então fazia galos com carimbos. Depois tiraram os carimbos, ele fazia galos com a máquina de escreve. Um dia o diretor do Banco, mandou chamar ele, fizeram denúncia. “Você tem que acabar com isso, será penalizado, você fez 35 galos hoje, sabemos. Ele disse, está errado, porque foram 36. Ele tirou do bolso e mostrou o galo estilizado. O diretor chegou a dar férias por não aguentava mais. O negócio dele era fazer o que queria, ele se achava quase uma divindade.”

Desenhar para ele era uma compulsão, reforça Tércio. “Ele estava no bar tomando uma cerveja com a gente, ele gostava de chamar de brahmosa, e pegava qualquer papel da mesa e desenha galos aos montes e distribuía, tinha uma compulsão, acho que o número de desenhos feitos por ele não da para ser mensurado, ele fez um monte, dava para uns e vendia para outros.”

Para Tércio, tudo que Meyer Filho fez foi fora das convenções. “Fora dos limites até do cotidiano, há vários episódios, há um em que, quando Picasso morreu, em Florianópolis tinha o Ponto Chic, e ali, aos sábados de manhã, várias pessoas da cidade, pelo menos os escritores, os esportistas, iam para lá discutir, conversar, era uma pequena multidão, e o Meyer Filho chegou gritando, ele tinha uma voz metálica, dizendo: ‘o Picasso morreu, os gênios da pintura estão morrendo e eu preciso me cuidar!’”

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