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Publicado em 19/09/2022

Alesc auxilia no reconhecimento da raça do gado crioulo

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Gado crioulo lageano

Um dos animais que mais chamam atenção dos turistas na Coxilha Rica, o gado da raça crioula lageana vem ganhando espaço junto aos produtores brasileiros graças ao trabalho desenvolvido pela Associação Brasileira de Criadores da Raça Crioula Lageana (ABCRL). Em 2008, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina atuou no processo de reconhecimento da raça pelo Ministério da Agricultura.

Ainda são poucos os criadores deste gado rústico descendente dos animais remanescentes das missões jesuíticas, cuja origem está nas raças ibéricas. Segundo estimativas, há pelo menos 15 associados e mais de 600 animais reconhecidos e acompanhados geneticamente pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O pecuarista Nelson de Araújo Camargo, já falecido, iniciou a criação de gado crioulo em 1953, quando adquiriu parte do rebanho de seu sogro Leovegildo Didi de Souza e foi um dos principais incentivadores da divulgação da raça. A Fazenda Igrejinha, uma propriedade cuja casa principal foi construída em 1896 e onde morava Nelson Camargo, acabou sendo repassada ao seu filho, o dentista Gilson Nei de Souza, que vem desenvolvendo o trabalho conservacionista e mantém o gado crioulo em desenvolvimento, assim como seu irmão Nelson Camargo Filho, só que no município de Reserva (PR). 

Na propriedade em Lages os cursos d’água estão livres de poluição, e as araucárias dominam a paisagem. Na Fazenda Igrejinha é possível encontrar, além do gado crioulo lageano, o cavalo de pêlo crespo, porco mouro e macau, bem como o meio ambiente com suas araucárias, campo nativo e taipas centenárias. Gilson Nei explica que a ABCRL quer o apoio para difundir a importância de preservar este patrimônio serrano e que a FAO (órgão da ONU para a alimentação) investe para conservar os recursos genéticos locais, como forma de manter a variedade genética dos animais.

O gado crioulo dominou os campos naturais do Planalto Sul até o começo do século 20, passando por seleção natural por aproximadamente 400 anos. O que tem estimulado o trabalho dos criadores é a mudança na concepção da qualidade de vida, com enfoque na oferta de alimentos livres de agrotóxicos e produzidos levando-se em consideração a conservação dos recursos naturais e a valorização dos recursos genéticos e históricos locais.

A Fazenda Igrejinha faz parte do ciclo tropeirista de Lages e atualmente mantém 100 cabeças de gado crioulo. Gilson Nei conta que na época dos tropeiros, os animais eram levados de Viamão (RS) até́ Sorocaba (SP). E para que índios e animais não atacassem, foram construídos os corredores de taipas, o chamado Caminho das Tropas, e entre esses caminhos há várias fazendas históricas, que serviam de parada para os tropeiros. 

Características
De acordo com Gilson Nei, a raça apresenta duas variedades, a aspada e a mocha. Os animais aspados possuem chifres longos, que se prolongam no sentido horizontal para as laterais, até se curvarem para frente e para cima, como uma espécie de gancho nos machos. Já as fêmeas possuem os chifres mais delicados com a porção distal elevada e pontas para trás. “No tempo do meu pai, foi registrado um animal com 2,22 metros de chifre”, conta.

Os animais desta raça apresentam grande longevidade, não sendo raro encontrar fêmeas com mais de quinze anos produzindo. Os bezerros são pequenos ao nascer, o que facilita o trabalho de parto, mas apresentam bom desenvolvimento ponderal até o período da desmama. Além disso, as fêmeas são muito dóceis e possuem excelente habilidade materna. “Há estudos que apontam que alguns dos animais produzem um leite livre de lactose e isso vem sendo acompanhado por técnicos da Embrapa”, relata Gilson Nei.

Origem
Os rebanhos crioulos do sul do Brasil são fruto do cruzamento de rebanhos trazidos por portugueses e espanhóis. As primeiras remessas de gado português chegaram em São Vicente (SP), provenientes de Portugal e Cabo Verde, em 1534. Os primeiros rebanhos de gado espanhol, provenientes de Sevilha, desembarcaram na Ilha Espanhola a partir da segunda viagem de Cristóvão Colombo, em 1493.

Ao longo dos séculos, os rebanhos crioulos sofreram processo de seleção natural com pouca interferência do homem, visto que as fazendas da região não eram cercadas e o gado era reunido anualmente, nos rodeios, para contagem e retirada do desfrute. Isso possibilitou que o gado crioulo se adaptasse plenamente às condições de clima e pastagem da região. “O gado crioulo lageano só chegou ao século 21 graças ao trabalho abnegado dos preservacionistas, como meu pai, Nelson de Araújo Camargo, e de seu primo, Antônio Camargo”, conclui Gilson Nei.

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