Para coronel, torturados eram terroristas: “Ninguém era santo ali”
Ao fim da sessão da Comissão Nacional da Verdade, realizada na tarde de segunda-feira (1º), em São Paulo, o ex-coronel do Exército Homero Cesar Machado falou à imprensa sobre as acusações de ex-presos políticos, que o reconhecem como um dos principais torturadores da Operação Bandeirante, na época da Ditadura Militar:
O exército deve desculpas aos ex-presos?
De jeito nenhum. Eles eram terroristas também. Houve excessos dos dois lados. Ninguém era santo ali. Agora eles posaram de lutadores pela liberdade e democracia. Queriam implantar o comunismo aqui dentro. Aquilo era Guerra Fria. Todo mundo ali tinha culpa. Terrorismo e tortura eram fenômenos interligados. Um alimentava o outro. Os dois eram condenados, mas eram tolerados.
Vocês cumpriam ordens do Exército?
Era cumprir ordens. A gente não tinha autonomia. No Exército ninguém faz isso. Você é designado.
O senhor disse que cada um tem a sua verdade. Qual é a verdade do senhor?
A minha verdade é o amor à verdade. A minha verdade maior é o amor a minha tranquilidade de consciência. Essa é a maior verdade.
O senhor está com a consciência tranquila?
Sim, estou.
A catarinense Derlei Catarina de Luca, que reconheceu e foi reconhecida por Homero, também conversou com a imprensa. “Eu o reconheci na hora, mas não senti nada da verdade, sabe?!. Ele continua defendendo o que fez, provavelmente se sente constrangido. Mas todo mundo tem seu papel na vida”, afirmou.
Assim que saiu do auditório do Escritório Regional da Presidência da República, onde ocorreu o depoimento, Derlei olhou mais uma vez nos olhos de um dos seus principais algozes, afirmou não sentir raiva do militar e declarou: “todo mundo tem seu papel na vida”. Nesse momento, ocorreu a última troca de olhares entre eles, quando o capitão deixava o local. Homero respondeu: “Todo mundo tem”.
Rádio AL