Estado tem cinco candidatos a santos
O turismo religioso, com uma variedade ampla de atrações para todos os perfis de visitantes, movimenta cerca de R$ 15 bilhões por ano no país. Em Santa Catarina o segmento terá mais dois reforços de peso com a abertura dos processos de beatificação do padre Léo, em São João Batista, e do jovem Marcelo Henrique Câmara, o primeiro candidato a santo nascido em Florianópolis. Os dois “servos de Deus” ingressaram no rol dos postulantes a santos da Igreja Católica catarinense durante cerimônias realizadas nos dias 7 e 8 de março deste ano.
Até agora, o turismo religioso catarinense tem como principal atração Santa Paulina, a primeira santa brasileira, canonizada em 2002, de Nova Trento. Além de padre Léo e de Marcelo Câmara, postulam a santidade a menina Albertina Berkenbrock, nascida em Imaruí, beatificada em 2007; o frei Bruno, de Joaçaba; e o padre Aloísio Boeing, de Jaraguá do Sul. Albertina já foi beatificada e os dois últimos tiveram os processos de beatificação iniciados em 2013.
O processo mais antigo de canonização em Santa Catarina é o de Albertina Berkenbrock. A beata, que no ano passado completaria 100 anos, morreu no dia 15 de junho de 1931, aos 12 anos, após resistir a uma tentativa de estupro. Ela é chamada pelo povo da Diocese de Tubarão de “a nossa Albertina”, também conhecida como a Maria Goretti brasileira.
Muitas pessoas começaram a ir ao local de sua morte e também a visitar o seu túmulo no cemitério de São Luiz, em Imaruí. Mais tarde, o corpo foi transladado para a igreja de São Luiz, onde se encontra hoje. As romarias continuam e um grande número de fiéis teria recebido graças pela intercessão da serva de Deus Albertina Berkenbrock.
A Assembleia Legislativa aprovou no mês de setembro deste ano, por unanimidade, o Projeto de Lei 505/2019, do deputado Volnei Weber (MDB), que institui a rota turística Caminhos da Beata Albertina no Estado de Santa Catarina. A proposta beneficia municípios do sul do Estado, em especial São Martinho, onde está situado o santuário da Beata Albertina Berkenbrock.
A rota turística abrange os municípios de Imaruí, São Martinho, Gravatal, Tubarão e Laguna. O objetivo do projeto é estimular o turismo, baseado nas vocações econômicas e religiosas locais. Atualmente, o santuário recebe uma média de público aproximada de 5 mil visitantes por mês, destacando-se no cenário turístico e trazendo público variado de todo o mundo.
Mais dois beatos
Em 2007 a igreja deu início aos processos de beatificação do frei Bruno, de Joaçaba, e do padre Aloísio Boeing, de Jaraguá do Sul. A devoção ao franciscano em Joaçaba (nascido em Dusseldorf, na Alemanha, em 8 de setembro de 1876) inspirou a organização anual de uma romaria, que é realizada há mais de 30 anos, reunindo cerca de 100 mil pessoas. No mês de março deste ano, durante a 30ª edição da Caminhada Penitencial, em Joaçaba, foi comemorado o anúncio de que o Vaticano aprovou a documentação enviada para processo diocesano da causa de Frei Bruno.
Em 2008 a Igreja Católica nomeou o postulador do processo de beatificação de frei Bruno, cuja função é reunir provas da santidade para encaminhamento a Roma. Os documentos já reunidos comprovam que o religioso teria realizado, pelo menos, quatro milagres. Três deles relacionados a mulheres com complicações na gravidez.
Já o padre Aloísio Boeing trabalhou por mais de 40 anos em Jaraguá do Sul e está sepultado no pátio da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, no bairro Nereu Ramos. As pessoas atribuem ao religioso milagres como a cura de doenças, em alguns casos até de pacientes que estavam desacreditados pelos médicos.
E os dois processos mais recentes de beatificação são do padre Léo, de São João Batista, e do jovem Marcelo Henrique Câmara, o primeiro candidato a santo nascido em Florianópolis.
Povo religioso
O Vaticano tem a visão de que o chamado à santidade não é algo somente para alguns “escolhidos”, mas para todos. Segundo essa visão, o santo não é um extraterrestre, e a santidade é possível para todos que querem seguir a fé religiosa. “Cada pessoa responde a essa vocação batismal fazendo seu próprio caminho inspirado em Deus. O importante é que cada pessoa entenda o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo”, enfatiza trecho da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, lançada pelo Papa Francisco em 2018.
O arcebispo da Arquidiocese de Florianópolis, dom Wilson Tadeu Jönck, destaca que turismo religioso é diferenciado, por ser uma forma de entrar em contato com o espiritual, com a dimensão religiosa. “É entrar em contato com as obras e os ensinamentos de Cristo por meio das obras dos santos. É algo que toca a vida das pessoas, de forma muito singular. Você pode ver uma obra de arte e se admirar, mas ver as obras de uma pessoa virtuosa, caridosa, de testemunha de fé, causa uma admiração diferente. Podemos dizer que as pessoas procuram esse sentimento.”
O bispo da Diocese de Caçador e presidente da Regional Sul 4 da CNBB, dom Severino Clasen, enfatiza que a abertura dos processos de beatificação do padre Léo e do jovem Marcelo Câmara mostra que o povo catarinense é um povo religioso e que no meio deste povo religioso há alguns heróis. “O santo ou a santa são heróis e heroínas da fé. Então, nós temos que valorizar o que é nosso. Nós temos esses postulantes, mas quantos santos e santas, como diz o Papa Francisco, estão na porta de nossas casas, do nosso lado, podem ser uma mãe, um vizinho, e aqui temos dois postulantes que deram um belo testemunho de vida e que vão atrair peregrinos de todo o país e do exterior.”
Impacto econômico
A Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) acompanha os processos de beatificação com interesse econômico e social, já que o segmento do turismo religioso representa cerca de 3% dos 13% da participação do turismo no Produto Interno Bruto (PIB) do estado. O deputado Ivan Naatz (PL), presidente da comissão, destaca que o turismo religioso é uma tendência em crescimento gradativo no estado e necessita ser fortalecido em termos de infraestrutura e profissionalismo para que gere ainda mais emprego e renda.
Naatz enfatiza que roteiros não faltam para os turistas que desejam vivenciar experiências de fé e emoção em Santa Catarina. São pelo menos 22 santuários no estado e uma centena de destinos de peregrinação religiosa, que englobam 70 municípios. As atrações vão de igrejas centenárias a grutas católicas, mesquitas e templos de diversas religiões, além de romarias, peregrinações, procissões marítimas e celebrações de fé que animam os fiéis catarinenses e de todas as partes do Brasil e do mundo.
O Santuário de Santa Paulina, em Nova Trento, é uma referência no turismo da fé em Santa Catarina. Trata-se do segundo destino religioso mais visitado do país, atrás apenas de Aparecida (SP). Recebe em média 80 mil pessoas por mês que vão para orar, pagar promessas ou simplesmente conhecer a construção e degustar a gastronomia típica regional, além de usufruir das atrações do turismo rural.
Dada a importância desse segmento turístico, a Santur reativou em 2019 o Grupo de Trabalho (GT) de Turismo Religioso, formado por representantes de várias regiões do estado. A finalidade do grupo é promover integração entre as regiões e, com apoio da Santur, traçar estratégias para o desenvolvimento do segmento, especialmente por meio do fortalecimento dos roteiros existentes e a estruturação de novos roteiros.
Um relatório recente sobre o Turismo Religioso no Brasil, produzido pelo Sebrae Santa Catarina, revela que o país possui mais de 300 destinos de turismo religioso que, juntos, geram mais de R$ 20 milhões em receita com viagens por ano. Grande parte dessas atrações são ligadas ao cristianismo, mas existem opções para todas as religiões como para budistas, espíritas, candomblé, entre outros. Segundo dados do Ministério do Turismo, em 2017 o segmento movimentou cerca de R$ 15 bilhões no país.