“Ele me resgatou da morte”
“Ô sua anta!” Essa era uma frase de cobrança normalmente utilizadas pelo padre Léo, que não passava a mão na cabeça das pessoas que buscavam apoio na Comunidade Bethânia. A voluntária Vanderléia Aparecida Scheidt, de Vidal Ramos, que está desde 2001 trabalhando na Comunidade Bethânia, não esconde a emoção ao falar do padre Léo e de seu trabalho na recuperação dos jovens. Ela, que atualmente cuida de um ambiente alternativo de retiro que lembra a casa onde o padre nasceu em Minas Gerais, chegou ao local com depressão profunda, após ter decidido se matar.
“Após dez dias de greve de fome decidi dar um basta e pedi a Deus, ou me mata ou me tire daqui. À noite, quando minha família foi dormir, liguei a televisão e sem querer acessei o canal da TV Canção Nova onde o padre Léo, no programa Resgate Já, mostrava a Comunidade Bethânia. Assisti ao programa e chorei a noite toda. Parecia que uma voz estava me chamando e desisti de me matar”, relembra.
No dia seguinte, após refletir, acabou jogando fora o número do telefone e desistiu da ideia de ir para a comunidade, por pensar que o local era só para dependente químico. “Era só o que me faltava, virar dependente química.” Mas ao ligar novamente a televisão, conta que viu o padre Jonas falando para ligar e buscar uma solução para seu problema. “No dia seguinte, como uma aloprada, cheguei a São João Batista.”
Vanderléia diz que o padre Léo a acolheu, mas em nenhum momento passou a mão em sua cabeça. “Ele me cobrava. Não tinha dó, era um pai que me corrigia na hora. Ele enxergava em mim coisas que eu nem sabia que tinha.” Para Vanderléia, o milagre aconteceu naquele dia. “Estava há dez dias sem tomar banho, suja, fedida, querendo me matar. Deus utilizou o padre para me tirar do túmulo. Me resgatou.”
Ela explica que inicialmente seu trabalho foi cuidar da casa do padre Léo e da sacristia, uma coisa que ela não sabia fazer. “Imaginem, não cuidava nem de mim e agora tinha que cuidar de um padre e de tudo para ele celebrar a missa. Nem sabia o que era sacristia.” Vanderléia relata que o padre Léo falou para ela: ‘quando você trabalha para Deus, não importa o que você faz, faça o seu melhor. Se quer ser feliz, dê o melhor de sua vida. Esse é o sentido da vida’.
“Comecei a exigir de mim o melhor. Fiquei nove anos na comunidade, depois fiquei seis anos fora e estou há quatro anos de volta, agora cuidando do Recanto Biguá. Outra fase da minha vida. Ninguém cai aqui de paraquedas. Aqui Deus nos encaminha. Não é fácil virar a página, mudar a vida”, explica. “Agora, o mesmo cuidado que tenho com uma planta, tenho comigo.”
“Em Bethânia restaurei a minha vida e fiz minha família”
O consagrado Ney Lima, 47 anos, de Foz do Iguaçu (PR), fumou crack por mais de dez anos e vivia nas ruas. Há 20 anos conheceu a Comunidade Bethânia e o “maluco” do padre Léo. Recuperado e atuando no recebimento dos jovens dependentes químicos que chegam em busca de recuperação, afirma que inicialmente não pretendia ficar, mas acabou permanecendo e resgatando o valor da sua família, restaurando sua história de vida. “Aqui me casei e meus filhos nasceram. O que Deus tinha para mim aqui era algo bem diferente, maior do que eu desejava”, relata.
Inicialmente, Ney diz que ficou assustado com o jeito do padre Léo, que tratava todos como filhos e abraçava-os, dando atenção a cada um. “Imagina eu, um cara esperto das ruas, vendo aquele padre dando toda aquela atenção e dizendo que também já tinha fumado maconha. Para mim, era um maluco.” O consagrado relembra que gradativamente foi sendo conquistado pelo trabalho e pela atenção. “Lembro que não era ladrão e nem um bandido ou um vagabundo, mas tinha me tornado. O que me fez permanecer aqui foi por me sentir em casa, um filho. Em Bethânia foi resgatado o valor da família. Restaurei a minha história. Fiz de mim um novo homem.”
Ney acabou se apaixonando por uma missionária, o que resultou em casamento. A esposa não podia ter filhos e ele foi diagnosticado com Aids. “Os médicos me deram de seis a oito meses de vida. Falei com a minha esposa e com o padre Léo. Eles ficaram ao meu lado e, surpreendentemente, minha esposa não contraiu o vírus. Tivemos o primeiro filho, depois outro e em seguida um casal de gêmeos. Hoje, eles estão com 18 anos, 15 anos e os gêmeos com 14.”
Para Ney, isso foi um milagre recebido pelo amor, já que para os médicos ele não duraria um ano. “Meu organismo reagiu de tal forma que a carga viral diminuiu. Se Deus fez isso comigo, eu não sou exclusividade, faz com todos. Deus foi generoso comigo e as portas foram se abrindo. Aprendi a tocar violão, apenas de ouvido. É a forma que Deus tem me utilizado para trabalhar aqui. A música chega onde as palavras não chegam.”