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17/08/2020 - 13h38min

UTIs voltadas ao combate à Covid-19 ficarão ativas após a pandemia

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Luciane Carminatti e Marcos Vieira acompanham a apresentação do secretário André Ribeiro (ao fundo), durante a audiência da Covid com o Oeste de SC

O resultado inicial das audiências públicas promovidas pela Comissão Especial de Fiscalização e Acompanhamento dos Gastos com a Covid-19 surgiu no primeiro dos seis encontros promovidos pela Assembleia Legislativa, na manhã desta segunda-feira (17). O secretário de Estado da Saúde, Andre Motta Ribeiro, afirmou que o governo catarinense pretende manter as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) utilizadas no enfrentamento à doença no período pós-pandemia. A ideia é atender a demanda reprimida de cirurgias eletivas que estão suspensas para garantir o atendimento aos casos do novo coronavírus.

O tema foi unanimidade entre os prefeitos e representantes das regiões Oeste e Extremo-Oeste, que abriram o ciclo de audiências programados para esta semana. Para o prefeito de São José do Cedro, Antônio Plínio de Castro (PP), presidente da Associação dos Municípios do Extremo-Oeste de Santa Catarina (Ameosc), que falou também em nome da Federação Catarinense dos Municípios (Fecam), é “fundamental a estruturação na região” e de melhorar as condições dos hospitais para as cirurgias eletivas. Ele citou como exemplo o Hospital Regional Terezinha Gaio Basso, de São Miguel do Oeste, “que não dá mais conta” da demanda.

O diretor-executivo da Associação dos Hospitais de Santa Catarina (Ahesc), Adriano Carlos Ribeiro, citou que é preciso discutir a questão das cirurgias eletivas já nesse ano e fazer cenário pós-Covid. “Se há algo de bom que a pandemia pode deixar é isso. Vamos manter os leitos de UTI para diminuir esses gargalos. Isso vai acontecer assim que tivermos o serviço estruturado”, respondeu o secretário.

Investimentos
O prefeito de Chapecó, Luciano Buligon (PSL), trouxe ao debate outra preocupação comum na região. “A falta de medicamentos tem sido um dos nossos maiores desafios”, afirmou. A deputada Luciante Carminatti (PT) também reforçou o problema e citou que, no último dia 7, protocolou representação junto ao Ministério Público Federal para que a União entre “com força no sentido de comprar os medicamentos”.

De acordo com Ribeiro, o governo estadual tem ciência da situação. “Precisamos compartilhar a responsabilidade com gestores locais e com o Ministério da Saúde, algo que estamos fazendo diariamente”, afirmou.

Ainda sobre a parte financeira, o diretor-executivo da Ahesc defendeu uma ação conjunta pois, na avaliação dele, os hospitais “não conseguem adquirir medicamentos”. Ribeiro argumentou que é necessário “desmistificar a questão da política hospital catarinense, pois o valor pago [pelo governo] não é suficiente”.

O secretário da Saúde argumentou que cerca de R$ 1,3 bilhão em recursos federais e estaduais já foram repassados para os municípios e para os hospitais. “São mais de 174 milhões em emendas das bancadas estadual e federal”, citou.

De acordo com ele, o governo está repassando o texto de investimentos. “O Estado está fazendo o que pode”, explicou. Segundo ele, o Ministério da Saúde teria vendido uma “certa facilidade” sobre a entrega de recursos. “Mas não mostra a forma para evitarmos problemas posteriores com o Tribunal de Contas. É preciso ser seguro para os gestores e para os hospitais”, comentou.

O secretário apelou para que os gestores hospitalares façam uma prestação de contas dos gastos. “Há essa importância para entendermos onde pode e deve ser atendidas [as demandas por verbas]. Não tenho acesso aos estoques dos [hospitais] filantrópicos, por exemplo”, disse ele. Sobre as dificuldades legais para a entrega de recursos, o deputado Coronel Mocelin (PSL) colocou a Alesc à disposição. “Nós podemos ajudar a criar uma legislação específica”, garantiu.

Falta de profissionais
A falta de um número adequado de profissionais de saúde também teve destaque. Fábio Lunkes, diretor-administrativo do Hospital São Paulo, de Xanxerê, falou que há problema principalmente na área de enfermagem, pois muitos integrantes das equipes de atendimento direto também estão sendo infectados pela Covid. “Temos 20 leitos habilitados mas só podemos colocar 16 em funcionamento”, lamentou, fazendo alusão à falta de mão de obra.

“Não podemos permitir óbitos por falta de assistência e isso é um compromisso de todos nós. Estamos fazendo várias ações no Ministério da Saúde para suprir as dificuldades de RH nos hospitais. O ministério ofereceu banco de profissionais e estamos atuando para ter a disponibilização deles. Mas há uma dificuldade de regramento e legislação, uma série de questões legais a serem percorridas. Temos também, a partir desta semana, suporte técnico às equipes, trabalhando em teleconsultoria e telemedicina com Estado e parcerias de hospitais do centro do Brasil, 24 horas por dia no apoio aos nossos profissionais, para que se possa entender [novas] formas de atendimento [aos infectados]”, respondeu o secretário de Saúde.

Para o reitor da UnoChapecó e presidente da Acafe, Cláudio Alcides Jacoski, o número de profissionais merece muita atenção. Ele relatou que, entre as 16 instituições que formam a entidade, existem 13 cursos de medicina. “Gostaríamos de oferecer esses serviços de qualidade. Na UnoChapecó temos um curso de enfermagem pronto para ser lançado”, disse o dirigente.

Intregração
Para o deputado Milton Hobus (PSD), é de grande importância a integração entre a Alesc, a secretaria e os prefeitos. “Temos que evoluir, pois estamos vivendo o pico [de contaminação] e não podemos relaxar. Tem muitas coisas na gestão que podemos melhorar, com protocolos que possam ser mais difundidos e unificados com estudo de eficácia e eficiência. E ainda temos muitos meses pela frente. Essa interação de informações é que vai fazer a diferença”, argumentou.

Presidente da Comissão de Saúde, o deputado Neodi Saretta (PT) também defendeu ser muito importante esse acompanhamento de ações. “A comissão tem feito várias reuniões e audiências, a preocupação é a implementação de fato dos novos leitos da UTI, compra de medicamentos e a continuidade na detecção precoce dos casos”, afirmou.

O secretário André Motta Ribeiro disse aos parlamentares que é reconhecida pelo governo a necessidade de aprimorar a gestão de procedimentos e que os protocolos estão sendo reforçados na atenção básica de saúde. Sobre o de testagem, de acordo com ele, o setor público não é o único responsável. “Precisamos de fato da parceria com o setor privado”, avaliou.

Conscientização
Um outro tópico que uniu os participantes da audiência pública foi a conscientização da sociedade. “Faço um apelo à Alesc e ao governo. Ainda há muitos pré-conceitos entre a população, desde o uso da máscara até o isolamento social e medidas sanitárias que todos devem usar. É preciso uma campanha publicitária”, sugeriu o prefeito Buligon. “Avaliamos que a campanha é fundamental nesse momento”, concordou o prefeito de São José do Cedro.

Alexandre Fagundes, presidente do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde, que representa a cidade de Cunha Porã, destacou que os municípios “têm excelência” na atenção primária de saúde. “Temos aumentado a fiscalização e o serviço de epidemiologia. Mas a dificuldade é temos uma baixa adesão da sociedade, por isso precisamos de uma campanha robusta, para que população entenda a necessidade de fazer a sua parte”, comentou.

O secretário de Saúde respondeu que a campanha já existe e que precisa ser mantida. “Mas ela precisa ser compartilhada por todos, incluindo a iniciativa privada e a Alesc”, citou.

Planejamento
A deputada Ada de Luca (MDB) citou que, dos 66 leitos de UTI destinados à Covid-19 no Oeste e Extremo Oeste, 52 estão ocupados. “Por mais dura que seja a realidade, não podemos ficar dourando a pílula. Temos que ser mais claros. Se vier uma segunda onda [de contaminação], a secretaria tem planejamento para a região?”, indagou.

Motta Ribeiro respondeu que há um planejamento e que o Hospital Regional do Oeste, em Chapecó, o Hospital São José, em Maravilha, além dos hospitais de São Miguel do Oeste e de Xanxerê, que são os quatro principais da região, estão atendidos com equipamentos, leitos e medicamentos.

“Temos condições de aumentar os leitos e estamos dando todo o suporte. A segunda onda se vier, será após diminuição de casos atuais. Mas não deve acontecer no estado. Hoje temos mais de 300 leitos disponíveis e há legislação que prevê o suporte de regiões vizinhas. A dificuldade ainda é grande, mas ninguém irá ficar sem atendimento”, assegurou.

Ministério Público e volta às aulas
O promotor de Justiça de Chapecó, Felipe Schmidt, relatou que o Ministério Público tem atuado de modo colaborativo com as prefeituras da região no combate à pandemia. “Temos feito a interlocução com autoridades e fiscalizando as tomadas de decisão”, citou.

De acordo com ele, outra área de trabalho é a abertura de inquéritos civis em casos de falta de medicamentos, insumos e de pessoal e na demora de procedimentos necessários para o enfrentamento da Covid-19. 

A deputada Luciane Carminatti trouxe ao debate a questão da retomada das aulas. “Tenho uma preocupação muito grande. Pelo cálculo que fiz, para a volta no dia 8 de setembro, seria preciso ter um decréscimo nos casos na semana anterior, mas não há perspectiva nenhuma na minha avaliação”, argumentou.

O secretário da Saúde explicou que a decisão sobre o tema é tomada em conjunto por outras secretarias de Estado, mas concordou com a parlamentar, com o atual cenário, é inviável o regresso das atividades normais na rede pública de ensino.

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