Trabalhadores da JBS querem audiência com PGR para garantir empregos
Trabalhadores da JBS de Morro Grande decidiram solicitar audiência com a Procuradora-Geral da República (PGR), Raquel Dodge, para incluir nos acordos de leniência garantia aos empregos e aos produtores integrados da empresa. A decisão ocorreu durante audiência pública da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Alesc, realizada na tarde de segunda-feira (6).
“Precisamos agendar uma audiência com a Procuradoria-Geral da República para discutir porque o acordo de leniência da JBS foi feito sem garantia do emprego dos trabalhadores, são R$ 10,3 bilhões sem nenhuma cláusula com garantia de emprego”, enfatizou José Modelski Junior, representante da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contaq-CUT).
Os trabalhadores também acataram as sugestões do deputado Rodrigo Minotto (PDT) de agendar audiência coma direção do BNDES e da Caixa Econômica Federal (CEF), além de verificar os incentivos fiscais concedidos à empresa pelo governo do estado e a prorrogação ou carência dos financiamentos contraídos pelos produtores integrados junto ao Banco do Brasil.
Para o procurador do Ministério Público do Trabalho, Sandro Eduardo Sardá, também deve ser questionado porque o BNDES emprestou mais de R$ 8 bilhões para a JBS sem contrapartida social.
“A empresa distribuiu R$ 300 milhões em doações de campanha, contribuiu com a campanha de 176 deputados federais, deu R$ 73 milhões à campanha de Dilma Rousseff, R$ 30 milhões ao Aécio Neves, R$ 4 milhões à Marina Silva, patrocinou governadores”, lembrou Sardá, que creditou o derrame de reais aos políticos à facilidade de tomar dinheiro emprestado dos bancos oficiais.
Célio Elias, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação de Criciúma, sugeriu mudanças na legislação estadual de incentivos fiscais. “Não é dinheiro do governador, do vice, dos deputados, é dinheiro nosso, então queremos garantia de que não seremos de uma hora para outra mandados embora”, afirmou o sindicalista.
Situação atual
De acordo com o prefeito de Morro Grande, Valdionir Rocha, dos cerca de 1,3 mil funcionários, 650 foram demitidos. “A unidade já operou com 1.420 empregados em dois turnos, segurava toda cadeia produtiva da nossa região, hoje a metade está na rua, sofrendo com suas famílias”, revelou Valdionir.
Além disso, de acordo com o prefeito, mais de 130 produtores integrados estão em situação calamitosa. “Contraíram dívidas para construir galpões que têm a única finalidade de criar frango, são investimentos próximos de R$ 1 milhão”.
Empresa movida a dinheiro público
Conforme explicou o procurador Sandro Sardá, a JBS é uma empresa de capital misto, isto é, parte privado, parte público. “Talvez seja preciso privatizar a JBS, 25% das ações da empresa pertencem ao BNDES/PAR e 5% da CEF, então 30% é dinheiro público”, informou o representante do MPT.
A opinião dos deputados
Neodi Saretta (PT) também propôs discutir os acordos de leniência com a PGR. “Tem de ter garantia para o trabalhador, senão fecha a unidade, fica por isso mesmo, hoje discutimos Morro Grande, mas daqui a pouco vamos discutir outras unidades”, declarou Saretta, referindo-se às plantas da JBS de Forquilhinha, Nova Veneza e São José.
José Milton Scheffer (PP) defendeu a busca de solução para o impasse. “Temos de evitar fechamentos das unidades que estão abertas e buscar uma solução para a unidade de Morro Grande, já fizemos contato com cooperativas para atraí-las para a região, têm propostas em curso, nossa esperança é levar outra empresa para Morro Grande”, revelou.
Manoel Mota (PMDB) criticou duramente a JBS. “Quando falam no grupo JBS dá arrepios, não são bonzinhos para dar dinheiro (aos políticos), deram para comprar as pessoas e depois pegar o dinheiro no BNDES e da CEF, davam dinheiro para buscarem dinheiro para mandarem no país, compraram empresas aqui, nos EUA e em outros países com nosso dinheiro”, opinou Mota.
O deputado questionou os motivos que levaram o BNDES a se associar à JBS. “Quem autorizou que depois de tantos empréstimos o BNDES passasse a ser sócio de uma empresa que não tem compromisso nenhum com o trabalhador?”, perguntou o decano da Casa.
Agência AL