15/04/2010 - 14h49min
Técnico consagrado do vôlei brasileiro marca estreia de “O Brasil em Debate”
José Roberto Guimarães é o único técnico brasileiro detentor de duas medalhas olímpicas de vôlei com equipes masculina e feminina. Conquistas que encantaram o país e o transformaram num ícone do esporte mundial. A receita do sucesso de anos de dedicação foi dada ao público que acompanhou a sua palestra, dia 14, no auditório da Unisul em Tubarão, na abertura do terceiro ciclo do programa “O Brasil em Debate”, que neste ano promove eventos também no interior do estado.
O treinador relatou fatos que pontuaram os principais momentos de sua vida. Desde a infância, no pequeno município de Quintana, interior paulista, passando pela carreira de jogador da seleção brasileira que participou da Olimpíada de Montreal, em 1976, até seu reconhecimento como técnico, em 1992. Nesse ano, com a famosa “Geração de Ouro”, trouxe da Olimpíada de Barcelona a primeira medalha de ouro olímpica em esportes coletivos para o Brasil. O segredo disso tudo, confessou, é um só: a paixão.
Sua primeira paixão, como acontece com a maioria dos meninos brasileiros, foi o futebol, ainda em Quintana, mas quando sua família se mudou para o município de Santo André, na Grande São Paulo, o garoto pré-adolescente descobriu o vôlei. ”Eu tinha 13 anos, era tão apaixonado pelo esporte que compensei o pouco talento com muito treinamento. Essa é a tônica da minha vida e é o que transmito para minhas atletas”, resumiu.
A experiência de trabalhar com seleções dos dois sexos – e uma rápida passagem pelo futebol paulista – mostrou para José Roberto que é mais fácil lidar com os atletas homens. Com as mulheres enfrentou o momento mais difícil de sua carreira, a derrota na Olímpiada de Atenas, em 2004, para a Rússia. As meninas brasileiras lutaram bravamente no último set, mas, depois de um angustiante “rally”, perderam o jogo e o Brasil amargou o melancólico quarto lugar. Mesmo assim, não abre mão de treinar a seleção feminina. “Na Grécia, o treinador da equipe russa, que nos derrotou, me deu um conselho: nunca traia as mulheres. Resolvi segui-lo e quatro anos depois conquistamos, juntos, a medalha de ouro de 2008, na Olímpiada de Pequim”, lembrou.
Público conhece trabalho ímpar
Mais de 600 pessoas lotaram o Espaço Integrado de Artes (Bolha), da Unisul - Tubarão, para assistir a primeira palestra do programa “O Brasil em Debate” realizada fora do Palácio Barriga Verde, em Florianópolis. O evento foi aberto pelo presidente da Escola do Legislativo, deputado Joares Ponticelli (PP), que salientou o ineditismo da interiorização do programa em 2010.
Os alunos do curso de Educação Física da Unisul, Paula Nandi, 23 anos, e Lucas Eduardo Ferreira Mendes dos Santos, 23 anos, queriam conhecer mais sobre a vida do treinador José Roberto Guimarães e seu trabalho ímpar à frente das seleções feminina e masculina de vôlei. Segundo os estudantes, foi uma oportunidade rara receber em sua própria cidade um expoente do esporte. “Se o evento fosse em Florianópolis seria bem mais difícil participarmos”, admitiram.
José Acácio Júnior, 45 anos, a esposa Luciane, 42 anos, têm o esporte como interesse comum. O casal aproveitou para levar a filha Júlia, 11 anos, para o programa inédito na cidade.
O vice-Reitor da Unisul, Sebastião Salésio Herdt, comemorou o retorno de Zé Roberto, ex-treinador de vôlei da universidade.
O Programa “O Brasil em Debate” foi realizado nos anos de 2007 e 2008, trazendo à sede do Parlamento, em Florianópolis, 15 palestrantes de renome como a atriz Fernanda Montenegro, o treinador Bernardinho, o médico Malcom Montgomery, o jornalista Caco Barcellos e outros. Em 2010, devido ao calendário eleitoral, serão realizadas quatro palestras. Além de Tubarão, os municípios de Chapecó, Joinville e Florianópolis sediarão outros encontros.
“Respeitei as diferenças”
Durante esse período, o técnico descobriu que para vencer as barreiras seria preciso se tornar um verdadeiro “especialista” no sexo feminino. “Prestei atenção no comportamento delas e respeitei as diferenças”, ensinou. Também quebrou paradigmas ao transformar o tipo físico das jogadoras, fazendo com que fortalecessem os músculos dos braços para aumentar a velocidade do saque. O resultado foi uma Olímpiada de quebra de recordes, oito jogos, oito vitórias e apenas um set perdido.
Para o futuro, o treinador planeja atuar até 2012, mas são muitos e insistentes os pedidos para que continue no cargo até 2016, data da Olimpíada do Rio de Janeiro. (Rossana Espezin / Divulgação ALESC)