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14/07/2014 - 15h49min

Silvio Pléticos é homenageado pelos seus 90 anos com exposição no IFSC

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“A obra de arte se confirma enquanto obra de arte quando a sensibilidade da pessoa a reconhece como tal”. Esta é a definição ou a não definição de arte, segundo Silvio Pléticos. Não é possível definir algo da ordem do sentimento, da emoção, para o artista que encontrou na arte sua razão para recomeçar, reviver, após períodos de vida dificílimos. Com 90 anos completados em 1º de maio, praticamente surdo - o que o autoriza a falar somente o que lhe convém, e com grande perda olfativa, o artista italiano que vive no Brasil há 53 anos ainda possui o maior dos sentidos para continuar seu trabalho: a visão.

Uma exposição em homenagem aos seus 90 anos, organizada pela Associação Catarinense dos Artistas Plásticos (ACAP) mostra algumas de suas obras e de outros 17 artistas da ACAP, incluindo sua esposa, Lili Pléticos, no hall de entrada do Campus Florianópolis do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). A visitação é gratuita, de segunda a sexta, das 8h às 21h, e vai até o dia 17 de julho.

Conhecido como “o artista dos peixes”, ele explica que nos peixes está o seu ponto de partida e, pensando em tudo o que passou, sua vida daria um livro. Sem dúvidas sua vida pode ser expressa em livros, filmes, documentários. Num breve relato do que já viveu, Pléticos se emociona e conta das inúmeras vezes em que passou fome até descobrir que no mar estaria sua fonte de sobrevivência física. “Meus pais morreram no período entre guerras, quando eu ainda era praticamente um bebê. Vivi num orfanato de freiras marcado pela falta de comida. Quando descobri que podia pescar, levava peixes para o orfanato para matar a minha fome e a fome das outras crianças”.

Silvio Pléticos ultrapassou a barreira da fome, da insegurança, da falta dos pais e dos irmãos. Nascido em Pula, região pertencente à Itália e depois à Iugoslávia (onde hoje se localiza a Croácia), em 1924, cedo aprendeu a se virar sozinho. Trabalhou em diversos lugares e desempenhou inúmeras funções como eletricista, encanador, pintor, um “faz tudo”, como define. Seu primeiro trabalho, aos 11 anos, é lembrado com satisfação até hoje. “Eu não me adaptava ao regime fechado das freiras e decidi ganhar a vida cedo. Encontrei trabalho numa confeitaria e dali em diante consegui sobreviver, sempre com a ajuda da pescaria: meu sustento físico e espiritual”.

Ponto de partida
O peixe, figura sempre presente em sua obra, é uma homenagem ao mar que lhe dava o alimento que tantas vezes lhe faltou e é considerado por ele seu ponto de partida para a arte. A cidade praiana onde vivia possibilitou que Pléticos tirasse do mar seu sustento desde a época em que vivia no orfanato. Certo dia, a fome bateu forte e ele saiu para um passeio pela praia que, à época, não era frequentada por banhistas. Inventivo desde cedo, o artista criou algo parecido com um arco e flecha com aros metálicos tirados de um colchão. Na segunda visita à praia, conseguiu seu primeiro pescado. Teve que chorar e gritar para a freira preparar o peixe, lembrado por ele como o melhor da vida. “Quando pescava sentia como se tivesse ganhado na loteria. Virei um índio no meio da civilização”. Era a forma de manter-se vivo. O alimento fez dele um ativista da preservação marinha. Pelo mar pôde se alimentar e renascer e criar.

Do peixe vem, também, a inspiração para pintar. “Quando não tenho inspiração penso no peixe. Do peixe surge uma mesa, um vaso de flores, uma paisagem e, quando vejo, o quadro já não tem mais peixe nenhum, mas a inspiração partiu dele”. Animado, Silvio Pléticos explica que, no início, pintava peixes figurativos, depois modificou o peixe, interpretou-o, reinterpretou-o e, com referências no cubismo de Picasso, construiu novas representações para o peixe.

Elemento de força em sua vida, o peixe é também a lembrança de maior felicidade quando retoma sua infância. “Passei fases muito tristes. Foram uma aula para a vida, mas esse negativo aumentou a possibilidade do positivo”, avalia Pléticos garantindo que, mesmo assim, são experiências que não mais gostaria de repetir. “Lembrando dá para chorar, mas foi aquela experiência que fez de mim um homem. Se eu tivesse tido pai e mãe, hoje estaria plantando batata no mesmo lugar onde nasci”.

Infância e guerra
Quando a Alemanha nazista invadiu a Polônia em 1939, Pléticos tinha 15 anos. Nessa época, a Itália já sofria com os efeitos do fascismo, liderado por Mussolini. Pula estava localizada em uma região marcada por diversos conflitos separatistas e étnicos. Logo, o garoto foi recrutado ao campo de batalha para defender o exército da Iugoslávia na Segunda Duerra Mundial. Na batalha, o novo encontro com a fome. Desta vez, não pode correr para o mar. Distraía-se nos traços feitos em papel e encontrava alimento para a alma.

As primeiras ilustrações, feitas a partir de fotos, garantiram-lhe a sobrevivência. “Não fosse a habilidade de desenhar frente a modelos, a capacidade de retratar com fidelidade as feições do líder iugoslavo Tito Broz, é bem possível que hoje não estivesse mais entre nós”, narrou o advogado, escritor e crítico de arte, Péricles Prades, no livro “A Pintura de Silvio Pléticos” (2010).

Ao fim da guerra, em 1945, Pléticos fez sua primeira exposição a pedido do comandante. Ele tinha sido ilustrador oficial daquele exército, desenvolvendo murais informativos. Nesta época, além dos trabalhos que desenvolvia como “faz tudo”, começou a vender seus quadros e iniciou seus estudos na Escola de Artes de Zagreb, capital da Croácia, onde se especializou em pintura mural. O ponto de partida para sua atividade de professor também iniciou aí. Silvio Pléticos começou a lecionar e não mais parou.

A melhor mulher do mundo
Estabilizado profissionalmente, o artista e professor conheceu Lili, a quem deu seu sobrenome em pouco tempo. “Conheci Lili e, no momento em que a vi, soube que queria casar com ela. Perguntei se queria casar comigo no segundo dia em que nos encontramos. Ela disse que tinha que falar com os pais. Fiquei feliz com a resposta, ao menos não tinha sido um não”, conta com um sorriso maroto.

Lili e Silvio casaram e viveram por dois anos na Europa em um campo de refugiados. Tinham a intenção de mudar para a Austrália, mas um irmão de Silvio que morava no Brasil os convenceu a vir para cá. “O Brasil é um país de oportunidades. Era um país rico comparado à Europa do pós-guerra. Até hoje, temos natureza e terras férteis em abundância”.

No Brasil, o artista pode viver sua arte e dedicar-se a ela integralmente. Na chegada ao Brasil, em 1961, morou em Ribeirão Preto, São Paulo, e realizou sua primeira exposição individual em terras brasileiras. Lecionou no Liceu de Artes, mas o casal não adaptou-se ao clima da região. Foram, então, para o Rio Grande do Sul, onde Silvio lecionou na Escola de Artes de Passo Fundo. No ano seguinte, em umas férias em Florianópolis, decidiu que aqui ficaria e nunca mais deixou a cidade. “Quando cheguei a Florianópolis e vi o mar, foi como se tivesse chegando em casa novamente. Nunca mais quis sair daqui”.

Em 1967, o casal mudou-se para Florianópolis, onde Silvio passou a ministrar aula de desenho e pintura no Museu de Arte de Santa Catarina. Atualmente residem em São José, na grande Florianópolis, onde o artista continua com sua atividade de ensino e exposições. Silvio e Lili passaram a criar perto do mar, fixaram residência e são referências artísticas no Estado. Juntos há quase 60 anos, Silvio afirma que não existe melhor mulher no mundo do que sua Lili.

A democracia da Arte Contemporânea
Artista contemporâneo, Pléticos trabalha assimilando e ao mesmo tempo desconstruindo estilos e movimentos estéticos. Tendo Leonardo da Vinci e Picasso como maiores referências, aos 90 anos, segue dissertando em pincéis o destino do homem.

Ao longo dos anos, muitos críticos de arte nacionais e estrangeiros opinaram sobre seu trabalho. Entre eles, o poeta catarinense Lindolf Bell (1938-1998), que inaugurou a primeira galeria de arte de Santa Catarina. “Sua pintura é uma estrutura de resultados poéticos, quase metafísica, algumas vezes reconduz o espectador à reflexão, a indagações sobre o destino do homem e seus caminhos (descaminhos) de beleza, imaginação e força criativa”, descreveu no catálogo de uma exposição de 1980. Por conta dos interesses artísticos comuns, Pléticos foi convidado por Bell para ilustrar a terceira edição de “As Annamárias”, de 1993.

A arte contemporânea é democrática, segundo Pléticos, tanto para quem a faz, quanto para quem a aprecia. “A arte se espiritualizou, se desprendeu da matéria, da objetividade para ater-se à expressão do indivíduo que a constrói. O valor dela é dado pelo próprio homem. A imagem é física, mas as qualidades são etéreas, espirituais”.

Sobre a divulgação e incentivo ao exercício e apreciação da arte, Pléticos é incisivo. “Uma formação do gosto pela arte é necessária, as grandes nações já investem nisso há algum tempo”.

Sem denominação, as obras de Pléticos são classificadas apenas pela técnica sobre as quais são trabalhadas: acrílica ou mista. À mista, que consiste sobrepor a uma camada de cera, sobre uma grossa camada de tinta e desenhar com agulha as formas que se deseja, ele dedica suas atenções mais recentes. “A tinta acrílica trouxe prejuízos à saúde de Silvio. Por causa do solvente, ele perdeu o olfato. Então, desenvolveu uma técnica alternativa e menos agressiva”, conta Lili pléticos.

Honrarias
1984 - Cidadão Honorário da Cidade de Florianópolis (SC)
1994 - Medalha do Mérito Anita Garibaldi pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Santa Catarina
2000 - Cidadão Honorário da Cidade de São José, Santa Catarina, pelos relevantes serviços prestados ao Município
2001 - Medalha ao Mérito Cruz e Souza pelos relevantes serviços prestados a cultura do Estado de Santa Catarina (SC)
2004 - Fundado em São Pedro de Alcântara em 19 de julho de 2004, o Instituto Sílvio Pléticos
2005 - Cidadão Honorário Alcantarense pelo apoio cultural prestado ao Município de São Pedro de Alcântara Santa Catarina (SC)
2012 - Medalha ao Mérito por serviços prestados a cultura catarinense "ACAP"

Membro da Academia de Letras e Artes de Florianópolis - Santa Catarina – Brasil - Ocupa a cadeira de número 15 cujo patrono é Ernesto Meyer Filho

Prêmios
1972 - Prêmio Salão Sesquicentenário da Independência Florianópolis Santa Catarina (SC)
1º Prêmio Salão SAPISC Florianópolis (SC)
1975 - 1º Prêmio "Istria Nobilíssima" Trieste, Itália

Michelle Dias
Agência AL

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