Seminário sobre energias renováveis apresenta casa sustentável e inteligente
O primeiro projeto brasileiro dedicado a colocar em prática, numa casa habitada, as tecnologias inteligentes de sustentabilidade criadas a partir do conceito de consciência ambiental foi apresentado pelo engenheiro eletrônico João Barassal Neto durante o 1º Seminário Internacional em Energias Renováveis, nesta quarta-feira (7), em Chapecó.
O evento promovido pela Fundação Científica e Tecnológica de Energias Renováveis (FCTER) contou com o apoio da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, de universidades, empresas, entidades e outras instituições.
A “smart eco house” é um modelo de casa do futuro, considerada 100% sustentável e ecológica. Além de produzir energia elétrica suficiente para consumo próprio, ainda permite a venda do excedente para a concessionária. Ela é equipada com 18 placas solares e um gerador eólico. “Com os painéis fotovoltaicos temos uma geração on-grid, que é aquela que gera para o nosso uso e possibilita a venda do restante”, disse o idealizador do projeto, ao mostrar ao público o funcionamento da casa e os equipamentos utilizados.
Segundo João, que também atua como professor na Unidade Central de Educação Faem Faculdade (Uceff), toda a energia produzida pelo aerogerador da residência é armazenada em baterias. “A geração eólica opera na condição off- grid, quando armazena a energia em baterias, que nos dão uma autonomia de oito horas.”
Para obter maior eficiência energética, a casa também conta com luz do sol encanada, aquecimento de água por painéis solares e bomba de calor, reaproveitamento do calor gerado pela churrasqueira e recuperadores do calor da lareira. “Temos um sistema de calefação com eficiência de cerca de 90%.”
Outra medida implantada na casa é a recuperação de água da chuva. A “smart eco house” tem uma cisterna com capacidade de armazenamento de 20 mil litros e uma estação de tratamento, que transforma a água captada em potável.
A casa também é automatizada, ou seja, todos os equipamentos de vídeo, áudio, segurança e iluminação estão conectados por meio da internet. O conceito aplicado é de automação cognitiva. Algo que vai além de um sistema que emprega processos automáticos que comandam e controlam os mecanismos para seu próprio funcionamento.
“É uma tecnologia de inteligência artificial que trabalha na casa. Todos os equipamentos são monitorados e analisados. É como se a casa começasse a pensar”, falou o engenheiro. “Na automação residencial há comandos como ligar e desligar a luz da sala. Já na automação cognitiva, se peço para ligar a luz da sala, primeiro a casa vai verificar se tem alguém lá e questionar se não houver”, comparou.
Outro diferencial da casa é um software de biometria facial. “Ela conhece o morador como pessoa. Se há uma repetição de comportamentos dessa pessoa, a casa aprende esse padrão e passa a fazer automaticamente.”
Como tudo começou
A ideia que deu origem à “smart eco house” foi do filho de João, na época com 4 anos de idade. Ao saber da mudança para uma nova residência em São Paulo, Joãozinho, que já tinha lições sobre sustentabilidade na escola, sugeriu: “vamos fazer uma casa ecológica, pai?”.
Em 2010, o engenheiro eletrônico começou a trabalhar no projeto da tal casa ecológica. “Quando fui apresentá-lo a algumas empresas em busca de fornecedores, achavam que era uma coisa de ficção, me chamavam de professor Pardal, diziam que não ia sair do papel, que não ia dar certo”, contou João.
A partir do momento em que o projeto passou a receber menções honrosas em prêmios de mérito ambiental, como o da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a “smart eco house” ganhou visibilidade e os fornecedores se transformaram em patrocinadores. “Aí o projeto começou a virar realidade. Levamos cinco anos para construir a casa. Há dois anos, eu, minha mulher e meu filho moramos nela. Lá começamos a desenvolver, testar e aprimorar muitos produtos, como a bomba de calor. A casa está em constante evolução e é considerada um modelo de sustentabilidade.”
Como ter uma residência mais sustentável
Ter uma casa como a de João ainda não é algo acessível. No entanto, já é possível investir em ações e equipamentos sustentáveis, que poupam recursos naturais e ajudam o proprietário a economizar.
O engenheiro listou algumas medidas que considera mais simples para quem deseja começar: usar a iluminação LED, fazer a recuperação da água da chuva, adotar o aquecimento solar e instalar painéis fotovoltaicos para geração de energia elétrica. “Por exemplo: quando você coloca uma placa fotovoltaica no telhado, só gera, não gasta nada. Então o investimento vai voltar inteirinho pro seu bolso. É uma questão de ter visão de futuro: além de estar economizando, vai ajudar o planeta.”
Para João, os conceitos mais importantes para ter uma casa sustentável e ecológica são eficiência energética e consciência ambiental. “Isso parece ser uma coisa muito futurista, que se vê em filme de ficção, mas muito em breve será uma realidade em nossas casas. A escassez de recursos e a demanda por energia vai favorecer o aumento de microgeradores”, disse. “É interessante porque é economicamente viável e traz um retorno expressivo. E a tendência é que o preço dessas tecnologias caia, de acordo com o avanço do consumo”, complementou.
Uso de dejetos da suinocultura para produção de biogás
Outro assunto debatido no seminário foi a produção de biogás em escala real a partir de dejetos suínos. O tema foi tratado pelo engenheiro agrônomo Clenoir Antonio Soares, professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) e gestor da área ambiental da Cooperativa Agroindustrial Alfa (Cooperalfa).
O pesquisador detalhou os procedimentos de produção de biogás, um recurso energético renovável resultante da decomposição biológica de matéria orgânica na ausência de oxigênio. Ele consiste em uma mistura gasosa, composta, em sua maioria, de metano e gás carbônico.
A principal fonte usada para geração de biogás é um resíduo sólido chamado biomassa, que pode se apresentar de diversas formas, como esterco de animais, bagaço da cana-de-açúcar, restos de alimentos, entre outras. “O biogás é um subproduto gerado a partir de uma necessidade de tratamento de algo, seja um efluente de grandes cidades ou de produção animal. Ou seja, qualquer coisa que tenha carbono, porque se sequestra um produto de fermentação orgânica”, disse Soares.
No modelo apresentado pelo professor, o biogás gerado pelo manejo dos dejetos da unidade produtora de suínos possui várias aplicações. “Ele é utilizado para consumo na forma de aquecimento, geração de energia elétrica para compensação na própria unidade, e também na forma de troca do GLP, para aquecer a água do banho, usado também para aquecer os leitões, ou até mesmo na cozinha”.
No caso do aproveitamento dos dejetos da suinocultura, a produção de biogás colabora para a diminuição dos riscos de poluição dos mananciais de água e da emissão de gases nocivos para a atmosfera. “Quanto ao impacto ambiental, há uma redução bem significativa da carga orgânica a ser tratada quando ela passa pelos biodigestores. Temos casos em que se alcança 90% de eficiência”, comentou Soares.
Rádio AL