Seminário regional da Unale promove debate sobre suicídio e automutilação
Em meio ao objetivo de desenvolver ações que busquem a valorização da vida, a União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale) promoveu, na manhã desta quinta-feira (29), um grupo de trabalho na Assembleia Legislativa para tratar do combate ao suicídio e à automutilação.
A iniciativa integra as atividades programadas para a edição sul do Seminário “Promoção e Defesa da Cidadania”, que a entidade desenvolve em todo o país em parceria com o governo federal. Além de lideranças políticas, o evento contou com a participação de profissionais de diversas especialidades e representantes de órgãos públicos.
Conforme levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio representa atualmente cerca de 1,4% das mortes em todo o mundo, sendo a segunda principal causa de óbitos entre os jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, estima-se que entre cinco e nove mortes em um grupo de 100 mil habitantes, ocorridas 2018, tenham tido como causa o suicídio. Ainda de acordo com a OMS, a cada adulto que comete suicídio, ao menos outros 20 atentam contra a própria vida ou alimentam intenções nesse sentido.
Presente ao evento, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou que no Brasil o suicídio não está delimitado a determinada etnia, gênero ou situação social, afetando indivíduos cada vez mais jovens, com o Sistema Único de Saúde (SUS) registrando casos envolvendo crianças de 6 anos.
Além do suicídio, a automutilação, disse, também vem colocando o governo e as autoridades médicas em situação de alerta, tendo em vista o aumento dos casos relatados. A maioria deles envolve cortes nos braços, mas também estão sendo cada vez mais frequentes as lesões no rosto, virilha e até mesmo em áreas internas do corpo, como o esôfago. Como as crianças costumam compartilhar as lâminas utilizadas nas lesões, há por parte do governo a preocupação inclusive com o aumento da proliferação de doenças como hepatite C e Aids, transmissíveis pelo sangue.
Diretores de escolas têm relatado que precisam adquirir cada vez mais cloro para retirar as manchas de sangue nos banheiros das unidades, e na internet vídeos que ensinam como se automutilar contam com mais de 6 milhões de visualizações. “Temos 14 milhões de casos de automutilações em crianças e adolescentes no país, o que equivale à população de quatro Uruguais inteiros e vamos fingir que não precisamos de ajuda, que não precisamos fazer nada?”, questionou, dizendo ainda que o problema não é exclusivo do Brasil e que, em face disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já estuda novas diretrizes.
Política Nacional
Em âmbito nacional, declarou a ministra, foi sancionada no início deste ano a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, que determina a criação de um sistema nacional, com estados e municípios, para a realização de campanhas de conscientização sobre o tema e o levantamento de informações.
Além da instituição de um serviço telefônico gratuito para o atendimento ao público, a iniciativa estabelece notificação compulsória e sigilosa dos casos por estabelecimentos de saúde, segurança, escolas e conselhos tutelares.
A partir dos dados computados, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos terá condições de mapear a situação atual do problema e, em conjunto com as pastas da Educação e da Saúde, organizar ações e políticas públicas voltadas à prevenção.
Iniciativas estaduais
Em meio aos debates realizados durante o seminário, deputados de diversas Assembleias Legislativas do país apresentaram as ações implementadas em seus estados para o enfrentamento do suicídio e da automutilação.
A deputada Catarina Guerra, que preside a Comissão de Direitos Humanos no Legislativo do estado de Roraima, falou sobre a elaboração de uma cartilha informativa que aborda o assunto. A publicação foi adotada pela Unale para a distribuição nas demais unidades da federação.
“Assim como compartilhamos essa experiência com a cartilha, estamos buscamos informações sobre o que está sendo aplicado aqui para levarmos ao Norte do país, sempre com o objetivo maior de fazer a diferença e salvar vidas.”
A deputada Franciane Bayer, que coordena a Frente Parlamentar de Combate ao Suicídio, no legislativo gaúcho, afirmou, por sua vez, que um dos maiores desafios ainda é saber a maneira mais adequada de tratar da questão. “Infelizmente suicídio e automutilação sempre foram tabús na sociedade, mas não falar sobre isso não tem dado certo e os números associados ao problema só têm crescido. Então nós estamos estudando qual a maneira apropriada de fazer isso.”
Uma das alternativas tem sido focar na valorização da vida e na importância de cada indivíduo para a sociedade. “Nós temos procurado os meios de comunicação e, com o apoio da Assembleia Legislativa, buscamos fazer uma campanha de valorização da vida. E no próximo mês, quando se celebra o Setembro Amarelo, vamos intensificar essas ações.”
Agência AL