Seminário promovido pela Alesc aborda futuro do meio ambiente em Itapema
A preservação do meio ambiente, principalmente com a hidrografia catarinense, desastres ambientais e modelos de geração de energias e sua interação com a sociedade, além de discutir políticas públicas em favor de um desenvolvimento econômico que priorize a natureza, foram alguns dos objetivos do Seminário Meio Ambiente e Sociedade 2019, promovido pela Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa e Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, neste sábado (13), em Itapema. Vereadores, representantes de organizações não governamentais e entidades, pesquisadores e especialistas de renome no Estado debateram, no auditório do Siticom (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário), perspectivas sobre o desenvolvimento da região e a sustentabilidade.
Além das palestras, também foram apresentados projetos voltados à preservação ambiental na região, desenvolvidos por organizações não governamentais e entidades. A atividade é a terceira de uma série de sete eventos voltados ao tema, em todas as regiões do Estado. A primeira foi realizada em Florianópolis e a segunda em Anchieta.
O deputado Padre Pedro Baldissera (PT), proponente do encontro, enfatizou a importância de discutir o meio ambiente, um assunto vital para todos, e que pensar no hoje e no amanhã é estratégico, por isso que o objetivo dos seminários é despertar nas pessoas ações concretas na relação do meio ambiente e a tecnologia, procurando uma convivência saudável e prática.
Ele lembrou que desde 2002 vem trabalhando na conscientização sobre a preocupação com o meio ambiente, com a implantação na Assembleia Legislativa do Fórum Permanente para Preservação do Aquífero Guarani e das Águas Superficiais. “Desde essa época temos promovidos seminários, debates e encontros com a presença de professores especializados aprofundando o conhecimento e conscientizando as pessoas com aquilo que é responsabilidade de todos, que é o nosso meio ambiente.”
A realização do seminário em Itapema, município essencialmente turístico, busca também mostrar a preocupação com o crescimento sustentável. Para o deputado, o turismo não vai sobreviver se não tiver uma visão sobre a preservação do meio ambiente, na qual todos querem construir um planeta melhor para nós e para o futuro. Para os próximos seminários, Padre Pedro pretende envolver acadêmicos de universidades com cursos que tenham viés ambiental e estudantes do ensino médio como forma conscientizar as futuras gerações.
Aquífero Serra Geral
O professor Luciano Augusto Henning, do Projeto Rede Guarani/Serra Geral, apresentou a primeira palestra, abordando o tema Ciclo da Água, Aquíferos, Energia e Gás de Xisto, considerado fundamental para Santa Catarina, por já existirem projetos para exploração de gás de xisto utilizando o fracking, tecnologia invasiva que já causou danos ambientais irreversíveis em diversas regiões do mundo. Relatou que o gás ainda não é explorado no estado, mas que há estudo para isso, observando que a maioria desse gás fica abaixo do aquífero Guarani e da Serra Geral.
Henning apontou a importância do aquífero Serra Geral, mais importante que o Guarani para o estado, por cobrir 51% de Santa Catarina. “Essa água, limpa e boa está no subsolo catarinense, nas fraturas das pedras de ferro, e tem que ser preservada e utilizada conscientemente, apesar de já existir indícios de poluição.” Em Papanduva, no Norte do Estado, o Xisto aflora acima da superfície da terra e já há pessoas interessados em explorar esse minério.
Com mestrado e doutorado pela UFSC na área de Geografia, Henning participou de pesquisas na Queen´s University, no Department of Global Development Studies, em Kingston, no Canadá. Atualmente, além de pesquisador do projeto Rede Guarni/Serra Geral, integra a equipe de investigadores do Laboratório de Análise Ambiental (LAAm) do Departamento de Geociências da UFSC, com ênfase na área de recursos hídricos.
O especialista explicou que as águas do aquífero Guarani estão a mais de 1,5 mil metros de profundidade e que as águas do Serra Geral são mais acessíveis, por isso a divulgação da sua existência e a preocupação ambiental com ela são importantes. “Primeiro temos que conhecer, para depois preservar e utilizar conscientemente.”
Na palestra, alertou sobre os impactos da exploração do gás, que poderá resultar em sismos, possíveis explosões e vazamento do gás, transporte de insumos químicos e de gás pelas rodovias, além da contaminação de aquíferos por fraturas naturais e a preocupação com a destinação da água resultando da exploração desse minério.
Contrato com a natureza
A segunda palestra, Energia e Desastres Ambientais, ministrada pelo professor Marcos Aurélio Espíndola, evidenciou a relação entre o modelo de geração de energia no País e as consequências ambientais e sociais para as populações. Para o professor, que é mestre e doutor em Geografia pela USP e Pós-doutor pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Área de Concentração Sociedade e Meio Ambiente (Desastres Ambientais e Políticas Públicas), também pela UFSC, as pessoas tendem naturalizar os desastres, mas a ciência mostra que a maioria ocorre devido à interferência do ser humano e que os eles se repetem na história. “A humanidade vem historicamente realizando uma intensa apropriação do meio natural e nas últimas décadas isso vem se intensificando.”
Como exemplo, citou o fato de que em Itapema, somente de 1991 a 2010, foram registrados cinco casos de inundações resultantes da impermeabilização do solo e que isso tende aumentar. O professor Espíndola disse que a ideia é conscientizar a população da importância de estabelecer um contrato com a natureza, em detrimento com o contrato que herdamos com o iluminismo, que prioriza o social e o econômico. “Temos que colocar a natureza em evidência, despertar essa consciência ecológica.”
Reforçou que a vulnerabilidade de uma pessoa ou de uma comunidade depende do conhecimento que ela tem sobre a redução de risco e ações de prevenções. De acordo com o professor, o contrato natural reza que as relações socioeconômicas entre os homens não podem mais ser regidas pela premissa de que a natureza é apenas o ponto de partida do processo de produção. “Somos parte da teia da biosfera e dependemos imediatamente dela para viver. A natureza é o ponto de partida e de chegada de si mesma.”
Também abordou a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) em Santa Catarina, que trocou o modelo de grandes barragens por essas obras, afetando ribeirinhos e todo meio ambiente catarinense. Atualmente há 44 PCHs no estado e mais de 60 previstas para serem construídas em todas as regiões.
Energias Renováveis e Tecnologias Sociais
Com o foco em desenvolvimento de formas alternativas de geração de energia e sua interação com a sociedade, Marcio Antônio Nogueira Andrade ministrou o tema Energias Renováveis e Tecnologias Sociais. O professor, que é mestre e doutor em Engenharia Civil na área de Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP e pós-doutor no Laboratório Nacional de Engenharia Civil - LNEC (Núcleo de Engenharia Sanitária do Departamento de Hidráulica) em Lisboa, Portugal, e na Cornell University (Department of Biological and Environmental Engineering) em Ithaca, Nova Iorque (EUA), defendeu investimentos em tecnologias sociais para que a população possa sobreviver às adversidades.
Para ele, a tecnologia social pode diminuir os problemas de convivência harmoniosa com os recursos naturais. Citou como exemplos a reutilização da água da chuva como recurso hídrico, a utilização da biomassa residual, como dejetos de animais, para produção de biogás como fonte de energia.
Ponderou que na Alemanha, um terço do que é produzido em energia elétrica na usina de Itaipu é produzida por essa biomassa residual. “Nós somos um país tropical, a era do carvão e do petróleo está no fim. Nós temos que utilizar a tecnologia sustentável, disponível no nosso país, como a biomassa, a energia solar, eólica, para progredirmos”.
Mostrou que a região pode utilizar a energia solar e eólica. “A Alemanha é o país que mais tem utilizado energia solar e nós que temos o sol em todo território nacional agora que estamos investindo nesta tecnologia limpa.”
O professor afirmou que a água é indispensável ao ser humano, lembrando que o homem sobreviveu milhares de anos sem energia elétrica, mas sem a água suportaria apenas alguns dias. Defendeu que não basta apenas produzir energia, mas lembrar às pessoas de que é preciso um consumo consciente.
Experiências regionais
No período da tarde, o seminário abriu espaço para apresentações de projetos voltados ao meio ambiente e à sustentabilidade na região. Uma das fundadoras do Movimento Ambientalista Popular de Itapema (Mapi), Beatriz Kletke, falou da experiência do grupo que defende a reciclagem e a criação dos parques refúgio da vida silvestre e parque monumento natural da Praia Grossa e Ponta de Cabeço no município. Ela abordou a preocupação com a poluição dos rios Perequê e da Fita, que está gerando viroses na população local e turística, e divulgou ações promovidas pelo movimento em defesa do meio ambiente.
O catador de material reciclável e estudante de Direito Thomas Herman Sant’ana Maciel, representando a associação de catadores de Balneário Camboriú, a Coopermar BC Ambiental, defendeu mais investimentos na reciclagem e criticou as políticas públicas que valorizam mais a destinação dos materiais sólidos aos aterros sanitários. Afirmou que em Balneário Camboriú, onde são produzidas mais de 250 mil toneladas de lixo, se fosse investido em reciclagem geraria mais de 1,5 mil empregos direitos. Atualmente há 480 catadores de lixo no município.