Seminário em Imbituba aborda a inclusão do autismo e a sua socialização
Mais de 400 profissionais das áreas da saúde, educação e assistência social do Sul do Estado prestigiaram nesta sexta-feira (31), em Imbituba, o Seminário Autismo: Intervenção precoce, socialização e inclusão no mercado de trabalho, realizado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e pela Escola do Legislativo Deputado Licio Mauro da Silveira. O evento conta com apoio da Associação Catarinense de Autismo (Asca), da Associação dos Amigos dos Autistas de Imbituba (Amai) e da Fundação Catarinense de Educação Especial.
A abertura do evento, pela manhã, foi marcada pela palestra da escritora, blogueira e palestrante, Kenya Diehl, 36 anos, que foi diagnosticada ainda na infância, com nove anos, como autista. Tal condição, no entanto, não a impediu de trabalhar, viajando o mundo com a missão de conscientizar as pessoas sobre o autismo e ajudando milhares de familiares a saírem da dor para o amor.
Escritora do blog olhandonosolhos.blogspot.com.br, com mais de 1,3 milhão de acessos, Kenya trabalha na luta pela divulgação e conscientização do autismo. “Escrevo diariamente mensagens de incentivo para pessoas que precisam de ajuda para se sentir melhor e ter forças para seguirem adiante.”
Na palestra disse que nunca desistiu de ser ela mesma, não aceitava que as pessoas dissessem o que ela poderia vestir ou se comportar. Falou do seu casamento e de seu filho, que também tem autismo. “Para o autista as coisas têm que ter sentido, uma lógica para entender as coisas. A gente não precisa ser aceita e sim se adaptar a vida.” Relatou as dificuldades do seu relacionamento como jovem autista com as pessoas que não a entendiam e reforçou que as pessoas têm que se adaptar e que os autistas não gostam de surpresas. Salientou que se expõem nas redes sociais por não ter preconceito e busca relacionamento com todas as pessoas agora, sem se prender às condições sociais.
Para Kenya, as pessoas não podem parar de aprender e devem enxergar os autistas além da doença. Disse que quando jovem, mesmo sabendo falar, passou por uma fase que não conseguia se comunicar. “Queria falar algo e sai outra totalmente diferente. Isolei-me, não por que quis, mas por não entender o que ocorria.” Abordou ainda as dificuldades que ainda tem, mas que está sempre procurando se adaptar. “O autismo não é motivo para limitar o desenvolvimento da pessoa. É preciso entender que o autista, dentro do tempo dele, dá a resposta aos estímulos que ele recebe.”
Sobre o mercado de trabalho, Kenya falou que os autistas são funcionários fiéis e sinceros, além de dedicados. “Se derem um trabalho, ele vai cumprir até que esteja totalmente completo.”
A presidente da Associação Catarinense de Autismo (Asca), Cátia Cristiane Purnhhage, mãe de um filho com autismo, destacou na abertura do evento que é preciso acreditar nestas crianças e que elas podem ser inseridas na sociedade. Falou da importância do evento e do apoio que a Assembleia Legislativa tem dado ao promover eventos em todas as regiões desmitificando o preconceito. “Eventos como esse levam informação, desmitificando o preconceito e apoiando o trabalho das famílias e das pessoas com autismo.”
O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB), afirmou que a realização do seminário em Imbituba foi um pedido da comunidade regional e que mesmo com a forte chuva que atingiu a região, foi um sucesso de público. “A Assembleia Legislativa tem atuado em todo o Estado levando informação, que faz toda diferença e proporciona a real inclusão que a gente tanto fala e procura. Esse seminário vem para trazer conhecimento a todas as pessoas envolvidas com o autismo, como profissionais e familiares.”
Caropreso observou ainda que eventos promovidos pela Comissão buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência e, por consequência, a vida dos familiares e de todos aqueles que convivem com eles. Ele explicou que crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) já começam a demonstrar sinais nos primeiros meses de vida: elas não mantêm contato visual efetivo e não olham quando você chama. “O diagnóstico clínico é feito por meio de observação direta do comportamento e de uma entrevista com os pais ou responsáveis, que os sintomas costumam estarem presentes antes dos três anos, sendo possível fazer o diagnóstico por volta dos 18 meses.”
Linguagem
No período da tarde, a fonoaudióloga Simone Carla Echer Marchett, especialista em intervenções precoces no autismo pelo Instituto CBI of Miami (Child Behavior Institute), atuando nas áreas da linguagem, síndromes e transtornos do neurodesenvolvimento desde 2000, abordou o intervenção precoce do autismo. Com experiência de 20 anos no estudo do autismo, Simone enfatizou a importância da precocidade no reconhecimento do autismo para ajudar no desenvolvimento das crianças e das famílias.
Lembrou que no Brasil não há números oficiais, mas mundialmente há uma expectativa de um caso de autismo para cada 59 nascimentos, por isso defende a informação para ajudar essas pessoas e familiares. Para Simone, quanto mais cedo for diagnosticado os casos mais facilitará a vida dos autistas no envolvimento social e no mercado de trabalho.
“Frequentemente a criança apresentará sinais e prejuízos já no primeiro e segundo anos de vida. Até onde sabemos, através de estudos realizados, é que no Brasil a idade média da obtenção do diagnóstico ainda é tardio, variando de acordo com a forma de acesso aos serviços de saúde e de acordo com a região onde moram.”