Seminários sobre gestão cultural têm início em São Miguel do Oeste
São Miguel do Oeste sediou, nesta segunda-feira (29), o primeiro Seminário Estadual sobre Gestão Cultural, com o objetivo de capacitar gestores e servidores da área da cultura, artistas, agentes e produtores culturais de Santa Catarina. O evento, na Câmara de Vereadores, é promovido pela Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira e pela Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Assembleia Legislativa. “Esse seminário surgiu justamente do Conselho dos Gestores de Cultura, que também recebia esse pedido dos produtores, dos artistas, de quem faz a cultura no município”, explicou a deputada Luciane Carminatti (PT), presidente da comissão e proponente da série de seminários.
De acordo com a parlamentar, os debates são essenciais porque o Estado já perdeu muito tempo. “Santa Catarina só teve sua lei do sistema (estadual de cultura) aprovada no ano passado. Nós temos um sistema nacional de cultura da década passada e que não chegou ao Estado. Nós perdemos recursos, perdemos a possibilidade de avançar, de aprimorar, de consolidar o sistema.”
Começar a série de debates por São Miguel do Oeste foi proposital. “No extremo-oeste catarinense, se produz muita cultura. Infelizmente o Estado nem sempre enxerga o que se produz aqui e as dificuldades que as regiões mais distantes têm na produção cultural, na implementação de seus projetos.”
O secretário municipal de Cultura e Turismo de São Miguel do Oeste, Carlos Magno Chaves, concorda e vê como um desafio diário a missão de desenvolver o setor nos municípios. “É bem difícil captar recursos para a cultura aqui na nossa região. Inclusive nossa secretaria já fez vários projetos, e até hoje não foi contemplada com nenhum deles”, lamentou o secretário. Mas ele mostrou-se animado com os temas abordados no encontro. “Hoje, a Assembleia traz pra nós o conhecimento para aprendermos e vermos se fizemos alguma coisa que não estava correta nos nossos projetos.”
Nesta terça-feira (30), será a vez de Chapecó sediar mais uma etapa, também na Câmara de Vereadores. O Seminário Estadual, que passará ainda por outros seis municípios – Caçador, Criciúma, Florianópolis, Itajaí, Lages e Joinville – é fruto de uma articulação com o Conselho de Gestores Municipais de Cultura (Congesc), colegiado vinculado à Federação Catarinense de Municípios (Fecam), e com a parceria do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Capacitar o ecossistema criativo
Em uma das palestras do dia no Seminário Estadual Sobre Gestão Cultural em São Miguel do Oeste, o consultor em projetos de impacto social Qiah Sala destacou que o principal foco dos encontros é trazer a relevância e importância da capacitação do ecossistema criativo no Estado e na gestão pública de modo geral. “A gente está falando de atingimento de direitos – e atingir direitos perpassa por uma gestão pública eficiente. E o que a gente tem às vezes é um desentendimento conceitual e técnico do que é cultura e como se faz o procedimento de produção cultural e produção artística”, afirmou.
Na visão do consultor, várias pastas do governo são impactadas pela decisão de investir em cultura. “O mais importante é a gente quebrar barreiras conceituais, entender que é estratégico investir em cultura, na formação cultural, na formação dos gestores públicos em cultura, nos artistas, porque esse setor movimenta 2,6% do PIB. Esse setor movimenta R$ 155 bilhões em produção anual, ativa os outros 68 setores da economia e gera qualidade de vida e saúde”, alertou Sala, revelando que dados da Organização das Nações Unidas mostram que a cada dólar investido nas áreas sociais significa a economia de três dólares nos sistemas públicos de saúde.
Qiah Sala identifica três momentos na vida de quem vive de arte e cultura, principalmente na área artística. O primeiro, quando a pessoa decide fazer uma atividade artística; o segundo, quando ela decide viver de arte, seja vinculado a uma instituição pública ou privada, seja na gestão pública; e o terceiro, quando resolve ser um empreendedor no setor. “É nesse momento que a gente precisa de formação de empreendimentos criativos, mas nosso Estado precisa ser formado para trabalhar com sistemas criativos.”
Para ele, a verdadeira mudança é sempre coletiva. “Uma classe sozinha, uma parte desse sistema sozinho não gera a transformação social que nós queremos. E atuar sozinho, além de não gerar esse resultado, é mais difícil, demora mais, custa mais para o governo do que a gente trabalhar a ideia de um plano integrado.”
Pouco corpo técnico
Na percepção pessoal do consultor, há muito pouco corpo técnico para executar todas as demandas da cultura e um desentendimento da alta gestão sobre o que é prioridade ao se tratar o setor – e a causa disso é uma concepção de vida sem repertório cultural, de um desenvolvimento estadual sem esse repertório criado. “Então o prefeito não entende ou tem um determinado entendimento e o gestor às vezes não consegue convencê-lo da importância que é investir na cultura para o desenvolvimento da cidade”, disse Sala.
Por isso, para ele, debates como esse são importantes. “Acho que a alta gestão se capacitar nesse lugar é muito importante, ouvindo pessoas da área, porque o papel de um gestor é ouvir as expertises de cada setor e que a tomada de decisão seja orientada por estas pessoas, e não apenas em opiniões próprias”, avaliou. “Porque a cultura é um campo científico, e assim como outros campos científicos, não podem ter suas políticas públicas definidas por opiniões pessoais de quem quer que seja, independente da posição em que esteja.”