Rio Uruguai enfrenta problemas com a baixa vazão e proliferação de algas
Para Pedro Melquior, representante do Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), os pescadores da Bacia do Rio Uruguai, foram rechaçados desde o inicio do movimento, há dez anos, quando as usinas começaram a ser construídas e continuam até hoje. O desenvolvimento não aconteceu de acordo com a necessidade das famílias da região. O rio tem uma vazão muito baixa que não permite a pesca.
"Um dos principais problemas é que, com a diminuição da vazão do rio (alguns trechos com apenas 20% do volume de água), os prejuízos à pesca intensificaram-se. Além disso, há questões legais envolvidas, como a proibição da pesca em parte do rio, o que inviabiliza os ganhos de muitas famílias ribeirinhas".
Além da dificuldade em encontrar o pescado, por causa da vazão do rio, o acúmulo de material orgânico e de nutrientes faz com que as redes de pesca fiquem com uma camada de “limo”. O resultado é proveniente do processo de eutrofização, quando há a decomposição de matéria orgânica em ambientes parados, como é o caso do lago, e favorece a proliferação de algas.
Helio Paulo, representante da Federação dos Pescadores do Estado, acredita que é preciso reconhecer o pescador como atingido pela barragem para definir uma política de indenização, além da definição de uma política de auxílio mensal, acesso aos estudos da vazão do rio, implementação do cultivo no lago, investimento dos royalties do governo em questões socioambientais; ações de infraestrutura na região e criação um grupo de trabalho para definir o ordenamento pesqueiro da Foz do Rio Chapecó.
"Os pescadores, hoje, estão em situação de desespero. Até que as águas estejam limpas, temos que esperar uns cinco anos para voltar a pescar".
Posição do governo federal
O superintendente do Ministério da Pesca e Aquicultura em Santa Catarina, Horst Doering, debateu sobre os impactos da construção da barragem no dia a dia dos pescadores da região. "Hoje os pescadores não são reconhecidos como prejudicados diretamente, mas o que vemos são seus direitos de sobrevivência feridos. Não podemos só discutir o pagamento do auxílio mensal sem discutir uma situação definitiva. Não temos um ordenamento pesqueiro da Bacia do Rio Uruguai”, declarou. Ele defendeu a criação de grupos para discutir o ordenamento pesqueiro da região.
Conforme Doering, estudo encomendado pela empresa que administra a usina diz que o rio tem vazão de águas e que não faltam peixes. "Os pescadores verificam o contrário. Nossa primeira providência é ter acesso a este estudo e contestar, se for o caso".
Problemas e mais problemas
Conforme os pescadores das regiões que vão de Águas de Chapeco a Itapiranga, não é mais possível navegar no rio Uruguai. O baixo nível da água impede a navegação das embarcações. Nas raras vezes onde as comportas da Usina são abertas, o nível chega a um metro e permite apenas uma hora dentro do rio. Depois disso, a água some e o barco fica preso.
No verão, hotéis e pousadas do Balneário de Pratas, em São Carlos, ficavam lotados. A diversão, com as inúmeras piscinas do Balneário e o Rio Uruguai como forma de atrair turistas, deixava os estabelecimentos lotados de segunda a segunda, durante os quatro meses da alta temporada. Passados alguns anos, que se vê hoje são estabelecimentos vazios, com placas de “Aluga-se”, “Vende-se” e “Aceitamos Propostas”. (Michelle Dias)
Consequências da construção das hidrelétricas, segundo os pescadores:
- dificuldades em encontrar pescados
- trecho do Rio Uruguai secou 100 quilômetros após a construção da barragem
- proibida pesca em seis quilômetros do rio
- mais de 100 pescadores divididos em três associações disputam seu sustento com o que resta