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13/04/2015 - 15h24min

Rio do Sul chega aos 84 anos em busca de crescimento equilibrado

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Rio do Sul é uma das principais cidades do Vale do Itajaí e referência em setores como o metal-mecânico e confecções. FOTO: Solon Soares/Agência AL

Criada com o objetivo de interligar o Vale do Itajaí à Serra Catarinense, Rio do Sul deve grande parte do seu desenvolvimento à sua localização, considerada estratégica. Situada na confluência que dá origem ao Itajaí-Açu, um dos maiores cursos d’água do estado e no encontro de importantes rodovias, a cidade também soube superar o histórico de cheias e atualmente destaca-se entre os locais com maior qualidade de vida do país.

Prestes a completar 84 anos de emancipação, o município de 67 mil habitantes, encontra-se agora diante do desafio de manter o crescimento econômico sem perder as características de cidade de pequeno porte.

A cada ano, destaca o prefeito Garibaldi Antônio Ayroso (PMDB), o Gariba, Rio do Sul recebe, em média, 1 mil novos moradores, que chegam em busca dos empregos abertos pelas empresas do setor metal-mecânico, de confecções e pelo comércio local.

O cenário era bem diferente até os anos 1950 quando o município, como tantos outros do interior catarinense, possuía uma economia baseada, quase que exclusivamente, no comércio de madeira e produtos agrícolas. O declínio do ciclo madeireiro e a instalação, ainda nos anos 1930, de uma estrada de ferro (hoje extinta), deram o impulso necessário para o desenvolvimento das indústrias. A diversificação, disse, foi uma aposta que se confirmou correta, tornando Rio do Sul cidade polo do Alto Vale do Itajaí, região atualmente composta por 28 municípios e 270 mil habitantes. Somente no ano passado, foram registradas a abertura de 121 novas empresas e a geração de 3,1 mil novos empregos. "Atualmente temos uma integração muito grande com as cidades do entorno, com grande circulação de pessoas em busca de emprego de serviços e educação e saúde."

Nova demanda por serviços
Reflexo do bom momento apresentado pela economia local, a nova onda migratória para o município vem alterando a composição da população local, formada principalmente por descendentes de alemães e italianos. Sotaques de outras regiões brasileiras, como o Nordeste, e até de outros países, como o Haiti, são cada vez mais ouvidos nas ruas do município. O lado negativo desta alta procura pela cidade, disse Gariba, tem sido o crescimento constante da demanda por serviços públicos, cujo ritmo a prefeitura tem dificuldades em acompanhar. "Assistimos a cidade crescer dia a dia e, infelizmente, nem sempre as estruturas públicas aumentam na mesma proporção, criando um desafio para nós, gestores."

Na área do saneamento básico, uma parceria com o governo do Estado e a Caixa Econômica Federal permitirá ao Executivo municipal aplicar R$ 60,6 milhões para a ampliação da rede local de esgoto sanitário. O problema maior, entretanto, destaca Gariba, será aumentar a oferta de serviços nas áreas da educação e saúde, nos quais a prefeitura já esbarra em questões de difícil resolução a curto prazo. Grande parte dos 7 mil alunos matriculados na rede pública local, nos níveis básico e fundamental, explica, frequentam escolas localizadas em prédios alugados, muitos sem as condições adequadas para este tipo de atividade. Já na saúde, a dificuldade tem sido manter médicos no município, mesmo diante da oferta de bons salários. "Hoje temos cerca de 20 profissionais para atender uma população de quase 70 mil pessoas, mas o que vai acontecer se uma parte deles resolver nos deixar?", questiona.

Além do esgotamento da oferta dos serviços públicos, a cidade, considerada de pequeno porte segundo classificação do IBGE, também já apresenta problemas típicos dos grandes aglomerados urbanos, como a falta de mobilidade. Em parte, devido a própria topografia, de relevo montanhoso e que tem sua parte central cortada por três rios (Itajaí do Oeste, Itajaí do Sul e a junção dos dois, o Itajaí-Açu) e uma rodovia federal.

Gariba, que já atuou na gestão do município em duas outras oportunidades, como vice-prefeito, afirma que faltam recursos para a construção de novas travessias sobre os rios, necessárias para dar mais fluidez ao escoamento de veículos. A alternativa, disse, foi privilegiar o trânsito dos meios de transportes coletivos, bicicletas e pedestres. Neste sentido, disse, vem sendo tomadas medidas como a melhoria do acesso ao terminal de ônibus, a retificação de calçadas e passeios públicos e a construção de acessos a cadeirantes.

O programa "Rio Sul Digital", com investimentos na área da tecnologia da informação é outra iniciativa tomada pela prefeitura visando tornar mais ágil a movimentação de veículos e pessoas.  Além da interligação de prédios e praças públicas por meio de fibras óticas, estão previstos o gerenciamento digital dos semáforos e a instalação de câmeras de monitoramento, remotamente controladas. "A questão da mobilidade não é uma coisa fácil de se resolver. Ainda que demande soluções diversas, o problema diz respeito, basicamente, a falta de infraestrutura", ressalta Gariba, que diz esperar o apoio do governo do Estado não só para a construção das pontes, mas também de um aeroporto para atender o Alto Vale. "Este investimento é fundamental para condições para a atração de novos investimentos e dar mais qualidade de vida a nossa população", argumenta.

Apesar dos problemas, lembra o prefeito, nos últimos dez anos a cidade subiu 14 posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ocupando a 36ª posição entre os municípios brasileiros. O levantamento, feito pela ONU e datado de 2010, leva em conta indicadores como renda, longevidade e educação. Gariba ressalta que, assim como há 65 anos, quando teve que mudar seu perfil econômico, Rio do Sul deve novamente decidir para que lado seguir nas próximas décadas. Para ele, a resposta é clara: "Não queremos crescer muito para não perdermos esse jeito característico de viver das pequenas comunidades. O que buscamos é uma cidade boa pra viver e um futuro melhor."

Esportes e máquinas
Terra de paisagens privilegiadas e inúmeros atrativos culturais, Rio do Sul também aposta no turismo para incrementar a economia local. Dede 1990 o município promove a Kegelfest, com o objetivo de resgatar e promover as tradições trazidas pelos imigrantes alemães ao Alto Vale do Itajaí. Ao longo das diversas edições, a festa, que tem como mote central os torneios de bolão, música e comida típica, passou a integrar o circuito das festas de outubro de Santa Catarina.

A partir da experiência exitosa com a Kegelfest, afirmou o secretário de Desenvolvimento Econômico e Empreendedorismo, Marco Aurélio Rosar, a prefeitura realizou um levantamento para identificar novos atrativos turísticos, que apontou as atividades físicas e esportivas como as com que mais atraem pessoas ao município. "Com base nisso, temos cada vez mais procurado apoiar a realização de eventos do tipo, como provas de ciclismo e voleibol, que tem apresentado grande aceitação por parte da população local e atraído muitos visitantes."

A prefeitura, disse, também está organizando a próxima edição do Motosul de forma a coincidir com os festejos do aniversário de emancipação do município. A festa teve sua primeira edição em 1999, a partir da proposta de integrantes de um clube de motociclistas de realizar um encontro de confraternização com outros grupos de amantes das máquinas de duas rodas. A grande quantidade de participantes, muito acima do esperado, surpreendeu até mesmo os organizadores, que resolveram tornar o Motosul um evento fixo no calendário oficial de Rio do Sul.

Ao longo de suas edições, disse Rosar, o Motosul cresceu, incorporando diversas outras atrações, como shows, feira de exposições e parque de diversões. Tanta variedade, disse, vem atraindo um público equivalente ao da população local, movimentando o setor hoteleiro e o comércio da região. "O Motosul é um dos maiores eventos do seu gênero no Sul do país, que atrai milhares de turistas de todo o país à região, gerando ocupação hoteleira até em municípios vizinhos como Presidente Getúlio e Taió."

Entre os índios e as águas
Outro atrativo do município, que completa no dia 15 de abril 84 anos de emancipação de Blumenau, é a sua própria história, que simboliza o processo de colonização de todo o Alto Vale, permeado por episódios de conflitos entre colonos e indígenas e a luta contra as cheias.

Rio do Sul, explica a historiadora Catia Dagnoni, surgiu da tentativa de se integrar as povoações do litoral com a região serrana. No começo, os primeiros tropeiros que se aventuraram pelas picadas construídas pelo engenheiro Emil Odebrecht precisavam esperar o período de estiagem para atravessar o rio. Para facilitar as comunicações, o colonizador Hermann Blumenau mandou construir, ainda em 1890, uma balsa para facilitar o acesso ao local. De acordo com registros e relatos orais, o balseiro Basílio Corrêa de Negredo destacou-se por enfrentar a hostilidade dos índios Xokleng e por construir aquela que seria a primeira habitação do novo núcleo populacional, servindo de incentivo para a vinda de novas correntes migratórias a partir de Blumenau.

Foi de Blumenau também que partiu, em 7 de setembro de 1892, o alemão Francisco Frankenberger, considerado o primeiro colonizador formal da localidade, mais tarde conhecida como "Suedarm", ou Braço do Sul. "Para Rio do Sul vieram os colonos dispostos a enfrentar todas as vicissitudes do meio ambiente, num isolamento quase total, devido as dificuldades de comunicação", afirma Catia.

Desde o início, destaca a historiadora, o rio Itajaí-Açu, desempenhou papel fundamental na fixação dos colonizadores na região, que, a partir de 1912, passaria a se chamar Bella Alliança. "Como entreposto entre Blumenau e Lages, o município se utilizou de sua geografia e localização para se consolidar, na década de 1930, como polo regional."

Foi por essa época também (1931) que o nome “Rio do Sul” foi adotado, coincidindo com uma nova onda de desenvolvimento e a intensificação do movimento migratório para o município. Em parte, devido à construção de uma estrada de ferro e o fim dos conflitos com os indígenas, que foram aldeados na região onde atualmente está localizado o município de José Boiteux.

Já as altas das águas, permanece um problema longe de ser solucionado pela cidade banhada por três rios. Presente nas narrativas dos seus primeiros colonizadores, as maiores cheias de que se tem registro, entretanto, são as dos anos de 1983, que atingiu 13,58 metros, e de 1984, com 12,80 metros. Uma cena que ilustra a dimensão do fenômeno, lembra o jornalista e professor Aurélio D’Ávila, que participou dos trabalhos dos trabalhos de recuperação da cidade em 1983, foi a chegada das águas ao último degrau da escadaria da catedral São João Batista. “Esse era um dos pontos mais altos do centro de Rio do Sul, que ficou quase que completamente debaixo d’água.” A cidade também ainda guarda os vestígios das cheias ocorridas em 2011 e 2013, nos quais o nível das águas chegou a 12,96 metros e 10,39 metros, respectivamente.

Como preparação em caso de repetição do evento climático, destaca o prefeito Gariba, o poder público municipal vem realizando uma série de ações na área da proteção civil. Além do desassoreamento do leito de rios e córregos, foi implementada recentemente uma nova legislação de ocupação do solo. Duas barragens, localizadas nos municípios de Taió e Ituporanga, também estão sendo elevadas pelo governo do Estado.

Apesar de trazerem um grau a mais de proteção, nenhuma destas iniciativas, reconhece o prefeito, deve ser capaz de trazer total segurança aos riosulenses. "Sabemos que sempre vamos ter que conviver com esse problema, mas aprendemos ao longo do tempo e estamos mais preparados para minimizar os prejuízos materiais e humanos que estes eventos climáticos ocasionam."

Alexandre Back
Agência AL

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