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08/05/2015 - 10h53min

Região serrana debate estratégias para controlar javalis e reduzir prejuízos

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Audiência Pública - Controle de Javalis em Santa Catarina. FOTO: Solon Soares/Agência AL

Os prejuízos causados pelo crescimento da população de javalis nos municípios do Planalto Serrano e a criação de mecanismos de controle dessa espécie exótica, que se tornou uma praga para a agricultura, foram debatidos em audiência pública, na quinta-feira (7), no auditório do Sindicato Rural de Lages. O evento foi promovido pela Comissão de Agricultura e Política Rural da Assembleia Legislativa, por proposição do deputado Gabriel Ribeiro (PSD).

Sem predador no ambiente natural, o javali se reproduz rapidamente (uma fêmea cria duas vezes por ano, até dez filhotes por vez). Os animais chegam a pesar 250 quilos, comem qualquer tipo de alimento disponível, destroem as plantações e pisoteiam o solo. Já foram vistas na região varas (grupos) de 70 animais. “Eles comem tudo que houver pela frente, plantações, pequenos animais, ovos, qualquer coisa”, conta o agricultor Ricardo Maurício Manfroi. O javali chega a desenterrar as sementes de milho e de soja recém plantadas. “O animal não come a semente de soja, mas arranca para comer o adubo no solo porque o adubo tem sal”, explica o produtor.

Estudo da Embrapa e do Instituto Caipora aponta uma população estimada de 35 mil javalis na Região Serrana. “Precisamos encontrar alternativas para, dentro da legalidade, controlar a população de animais porque essa praga está se espalhando por Santa Catarina”, disse Gabriel Ribeiro. O deputado Cesar Valduga (PCdoB) apontou que os javalis já representam problema também na Região Oeste, conforme relatos de agricultores do município de Ponte Serrada. Outro corredor de deslocamento da espécie aponta em direção ao Planalto Norte.

A caça ao javali é permitida em todo o país, em qualquer quantidade, mas existe uma exigência de cadastro do caçador como agente de manejo de espécies invasoras, além do registro da arma. Para evitar transmissão de doenças, o animal abatido não pode ser transportado para fora da propriedade, o que limita o consumo da carne. Esses foram alguns fatores apontados como entraves. O custo da arma e da munição no Brasil também foi citado. Conforme o caçador Giovani Pegorini, o abate de javalis exige munição de grosso calibre. “Um cartucho de rifle calibre 12 custa no mínimo 15 reais.”

Desde 2011, a Polícia Militar Ambiental emitiu 349 autorizações de caça de javali em propriedades da região e registrou o abate de 3.099 animais. “A Polícia Ambiental é totalmente favorável à eliminação da espécie, desde que de forma adequada e dentro da lei”, explicou o capitão Frederico Rambusch.

Risco sanitário e ambiental
Para o secretário adjunto de Agricultura, Ayrton Spies, combater a proliferação de javalis é uma questão econômica, sanitária e ambiental. Do ponto de vista sanitário, o javali representa uma ameaça para um estado que é o maior produtor de suínos do país e tem 60% de sua economia baseada em proteína animal, por ser potencial portador de febre aftosa, além de outras doenças como leptospirose, teníase e cisticercose. “No dia 28 de maio vamos receber o certificado de área livre de peste suína clássica, isso vai nos abrir mais mercado. Assumimos o compromisso com a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) e com o Ministério da Agricultura de que vamos controlar a população de suínos asselvajados e fazer o controle sorológico”, informou.

Na natureza, esses animais pressionam a sobrevivência de outras espécies nativas, são predadores de sementes, inclusive de araucárias, impedem a regeneração florestal, pelo pisoteio das plantas, causam erosão do solo, predação de ninhos e de artrópodes. Quando o javali cruza com o porco doméstico, ele gera o que a população da região chama de javaporco, que é tão nocivo quanto o javali e se reproduz ainda mais.

Ações
O prefeito de Campo Belo do Sul, Padre Edilson José de Souza, cobrou apoio das autoridades e soluções efetivas. “No nosso município, os prejuízos nas lavouras passam de 30%, tanto no plantio quanto na colheita. Somente caçar não será suficiente, é necessário controle efetivo”, pediu.  Padre Edilson sugeriu que o Exército contribua na caça à espécie.

“Sabemos que a eliminação total do javali é impossível, países mais ricos já tentaram e não conseguiram. Precisamos controlar e conviver com ele”, opina o presidente do Sindicato Rural de Lages, Márcio Pamplona. Ele enfatizou que é necessário disseminar outras técnicas, como a captura de animais com armadilhas e o uso de cães.

O secretário Ayrton Spies concordou que e as estratégias adotadas não são suficientes. “Vontade de controlar o problema existe, se as estratégias não dão conta, é preciso somar outras ações, quem sabe dar um incentivo financeiro aos caçadores, como se faz em outros países”, sinalizou. Spies alertou que o abate do animal não pode ocorrer de maneira cruel, pois dessa forma Santa Catarina perderá o certificado da OIE.

A Cidasc está distribuindo kits aos caçadores para realizar exames de sangue dos javalis abatidos, de modo a levantar dados sobre sanidade que serão importantes para a manutenção dos certificados internacionais. A informação sobre a sanidade também poderá orientar quanto à segurança para o consumo da carne.

Encaminhamentos
Um grupo de trabalho, composto por integrantes de diversas instituições presentes, sob a coordenação do deputado Gabriel, analisará todos os encaminhamentos da audiência para propor as soluções técnicas cabíveis. As principais sugestões apontadas incluem a simplificação da legalização da caça ao javali; a elaboração de um estudo de estimativa da população dessa espécie; o incentivo/indenização ao caçador; alternativas para o aproveitamento da carne dos animais; a publicação de uma normativa, pelo Ministério da Agricultura, que permita ao caçador transportar a carne para consumo próprio; um curso de abate de javalis e a realização de uma força-tarefa, com a participação do Exército e da Polícia Ambiental, para controlar mais rapidamente o alastramento da espécie.

“O comitê vai estudar quais sugestões são viáveis e as medidas necessárias. No prazo de 30 dias apresentaremos à Comissão de Agricultura a análise dos encaminhamentos”, disse o deputado Gabriel. O deputado Natalino Lázare, presidente da comissão, destacou a importância do assunto para a economia regional, comprovada pelo interesse e pela participação popular na audiência. Cerca de 200 pessoas compareceram ao debate.

Lisandrea Costa
Agência AL

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