Rede Vida no Trânsito busca mudar os índices negativos na capital do estado
Dados do Mapa da Violência no Trânsito de 2013, compilados pela vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, do Ministério da Saúde (Vigitel), indicam que Florianópolis tem o trânsito mais violento do Sul do Brasil. Por ano, quase uma centena de vidas termina em acidentes no município. A taxa de mortalidade relacionada ao trânsito é quase 30% superior a das maiores capitais do Sul-Sudeste, como São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, a cidade conta com o titulo da capital onde mais se dirige após beber, segundo a Vigitel/2012.
Para modificar essa realidade, foi lançado o projeto Rede Vida no Trânsito, uma rede intersetorial com apoio da Policia Militar (PMSC), Policia Rodoviária Federal (PRF), Guarda Municipal, Instituto Geral de Perícias (IGP), Detran, prefeitura e entidades da sociedade civil. Além da divulgação dos resultados de pesquisas, a ação deve gerar novas alternativas para trabalhos e campanhas de conscientização, no sentido de retirar a capital do topo da trágica tabela.
De acordo com o coordenador do projeto, Leandro Pereira Garcia, diretor da Vigilância em Saúde, o problema do trânsito é multifatorial. “Existem danos relacionados à bebida, à fiscalização, à estrutura viária, à cultura da população. Isso faz com que uma organização só não seja capaz de enfrentar o problema do trânsito de Florianópolis”. A formação de uma rede intersetorial é, em sua opinião, fundamental para avaliar e divulgar os riscos e as possibilidades e propor mudanças. O projeto busca tornar a cidade referência em educação, respeito, gentileza e paz no trânsito.
Utopia concreta
A meta do grupo é ousada e denominada utopia concreta. Eles esperam zerar o número de acidentes até o ano de 2020. “Nenhum lugar no mundo conseguiu zerar, mas a ideia de colocar essa meta é para que a gente entenda que qualquer morte no trânsito é inaceitável”, explica Leandro.
Hoje temos uma cultura de denominar essas mortes como causas de acidente, e os acidentes são inevitáveis. O alerta é para que se enxergue a preservação da vida como algo mais importante. “A ideia é colocar na cabeça de todos que é inadmissível qualquer óbito em razão de desastre no trânsito”, conclui o médico.
Principais causas de desastres
A passagem de vias rápidas no município, com tráfego de pessoas; a questão cultural; as falhas na fiscalização; o mau hábito de beber e dirigir colocam Florianópolis no topo do número de mortes no Brasil, com 22,6 para cada 100 mil habitantes. Índices muito acima dos aceitáveis se comparados a países de primeiro mundo, como a Inglaterra, Suécia e Holanda, que têm em torno de 3 a 5 mortes para cada 100 mil habitantes.
Um dos pontos cruciais refere-se ao modo de direção dos motociclistas. Muitos dos desastres que eles sofrem são causados por eles mesmos, segundo Murilo Vessling, instrutor de trânsito. “Um grande problema são as práticas dos motoristas. A maioria aprende a dirigir em motos de baixa cilindrada, os testes do Detran são feitos com este tipo de veículo e muitos adquirem veículos de cilindrada bem maiores, as quais não têm nenhuma familiaridade.”
Alguns perfis de motoristas são apontados como irresponsáveis pelo instrutor. “Tem o condutor recém habilitado que acha que já sabe tudo e tem o egocêntrico, que quer chegar antes e pensa que pode ultrapassar sem critérios”. Professor do Sest/Senat, Murilo alerta que o motociclista tem que estar consciente de que a moto é um veículo e deve ocupar o lugar de um veículo como qualquer outro. Outra informação do instrutor é de que as aulas na instituição são gratuitas e quem quiser se aperfeiçoar pode fazer a qualquer momento.
Como diminuir os índices alarmantes
Leandro aponta como estratégias de diminuição de desastres uma reestruturação da infraestrutura na cidade para que as pessoas não precisem se deslocar muito das proximidades de suas casas, reestruturação da velocidade das vias, fortalecimento da fiscalização e a conscientização da população, principalmente quanto à velocidade, e parar de beber e dirigir.
O cuidado, a conscientização e a certeza de que, em fração de segundos, a vida pode mudar ou acabar são destacados por Claudia Pacheco, que sentiu sua própria vida ser totalmente alterada, como essenciais para todos os motoristas e mesmo para os pedestres.
Socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Claudia passou de salva vidas à vitima de uma imprudência, em minutos. Tetraplégica, ela se locomove de cadeira de rodas, mas não desistiu de seu antigo sonho. Salvar vidas continua sendo, cada dia com mais força, sua meta. “Eu fui vítima e me liguei à rede para lutar para que outros não sejam.”
Sua história serve de exemplo para que os motoristas tenham cautela, não façam ultrapassagens indevidas, não dirijam em sentido contrário (razão de seu problema), não bebam e dirijam e tenham a clareza de que é melhor chegar atrasado do que não chegar ou permanecer o resto da vida com as limitações que ela vive.
Agência AL