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22/08/2013 - 17h35min

Recuperação de dependentes químicos requer ajuda especializada

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Psicóloga Alana Sieves, durante atendimento no centro terapêutico

Histórias de pessoas que tiveram suas vidas devastadas pelo uso de drogas não são raras na sociedade atual. Grande parte delas começa com o ato aparentemente inocente de experimentar um cigarro, ou de buscar num gole de cerveja a possibilidade de espantar a timidez e convergem para a instalação do vício e a busca de substâncias mais pesadas, como a maconha, a cocaína e o crack. A perda do autocontrole e o afastamento de amigos e familiares são o passo seguinte.

A poucos dias do lançamento da Rede Estadual de Atenção a Dependentes Químicos (Reviver), de iniciativa do governo do Estado com o apoio da Assembleia Legislativa, a Agência AL publica depoimentos de pessoas que encontram nas comunidades terapêuticas a ajuda necessária para deixar as drogas.

Para muitos dependentes químicos o desejo de abandonar o uso de drogas e retomar a vida pode não ser suficiente, sendo necessário apoio especializado.  Este foi o caso de Tiago Nivert Barbieri Feliciano, que tomou contato com as drogas aos 12 anos, por curiosidade e para ter aceitação de seu grupo de amigos, mas não teve forças para abandonar o vício. "Nesse processo a gente só vê o prazer, mas não sabe que ele está te levando para o caminho da morte. Essa é uma consciência que só adquire mais tarde, quando as perdas acontecem". Dos companheiros de drogas, disse, muitos foram presos, outros morreram ou foram internados. "Ninguém saiu dela sem pagar um preço alto".

O fato é confirmado pela mãe, Rosi Meri Barbieri Feliciano. "As drogas o transtornaram de tal forma que eu já não reconhecia mais meu filho. Ele estava sempre muito nervoso, estúpido. Foi um período triste, de muito sofrimento".

A gota d'água foi ver a esposa chorando sozinha, em um canto da casa. Só então se deu conta do sofrimento que causava a ela e aos pais. Mesmo após a decisão, Tiago só buscou tratamento pelas mãos do patrão, que o levou a uma comunidade terapêutica, onde ficou por seis meses até se sentir seguro para voltar pra casa e retomar a profissão de garçom. "Quem é dependente químico acha que vai conseguir largar as drogas quando quiser, mas pelas suas próprias forças não se consegue. É preciso de ajuda para isso", recorda.

Coordenador administrativo de um centro terapêutico, Ronaldo Pollheim também conhece de perto os perigos que se escondem por trás do uso de drogas. Há nove anos a mesma instituição em que hoje trabalha tratou da sua recuperação.

Procurando vencer problemas de timidez, Ronaldo fez uso de drogas pela primeira vez ainda durante a adolescência, ato que passou a fazer parte da sua rotina durante os 18 anos seguintes. Nos últimos, utilizando crack diariamente. "Falar disso é muito frustrante para mim, pois perdi meus pais em um período em que me drogava 24 horas por dia. Meu pai era cardíaco e acompanhava tudo isso. Tenho consciência que contribui para sua morte". Outra frustração que ficou da época foi o distanciamento da filha.  “Falo com muita vergonha, que aos três anos de idade, minha filha descobriu que tinha um pai dependente químico”.

Ronaldo foi hospitalizado e orientado a fazer uma escolha: se quisesse viver precisaria se tratar. O tratamento durou nove meses, período em que pôde redirecionar uma história que poderia ter terminado tragicamente. "O tratamento é para o dependente químico um momento para repensar sua vida, um espaço onde podemos respirar e nos inspirar a lutar para voltar a ter uma vida normal. Sem o acompanhamento o dependente químico demora mais a se curar. Ele precisa de guarida, de acompanhamento".

Recuperação envolve reinserção no mercado de trabalho
Psicóloga do centro terapêutico que atendeu Ronaldo, Alana Sieves ressalta que o sucesso de um tratamento depende em grande parte da aceitação por parte do paciente. Problemas de convivência com outros internos ou de adaptação ao tratamento podem impedir a recuperação. Em Santa Catarina, disse, cerca de 40% dos internados aderem ao tratamento, índice muito superior a média nacional, de 10%".

Ainda segundo Alana, apesar de contar com uma estrutura mais enxuta do que as clínicas de tratamento tradicionais, os centros terapêuticos vêm conseguindo apresentar bons resultados na recuperação de dependentes químicos. O fato, disse, está ligado ao método que utilizam, mais aberto aos residentes e com elementos como terapias laborais e apoio religioso. "Adotamos uma visão biopsicossocial,  buscando a desintoxicação, a mudança de pensamento e a interação social e espiritual. Durante a reabilitação é fundamental ainda recuperar o convívio saudável dos internos com a sociedade".

Nos casos mais graves, em que a dependência já se instalou profundamente na pessoa e desestruturou sua vida, explicou Alana, também deve ser incluído no tratamento a busca da reinserção profissional. "Muitos dependentes químicos, principalmente usuários de crack, chegam para se tratar em um estado de extrema gravidade, já em situação de rua, sem emprego e convivência familiar. Nesses casos é importante também a oferta de cursos profissionalizantes para que possam voltar ao mercado de trabalho".

Considerado um exemplo de recuperação, o administrador de empresas Yuri de Miranda, de 23 anos, lembra bem dos seis meses que passou em uma comunidade terapêutica. Levado à instituição em 2010 pelo pai, após se envolver com tráfico e quase morrer por usar cocaína durante quatro dias seguidos, hoje Yuri concilia a administração da empresa da família e sua agência de marketing. "Antes meus pais só esperavam duas coisas de mim: prisão ou morte. Isso mudou totalmente. Hoje nada me estimula a voltar àquela vida".

Programa Reviver
Outras pessoas também podem ter acesso a comunidades terapêuticas e retornar à vida familiar e ao mercado de trabalho. Na próxima terça-feira (27), às 10 horas, no Auditório Antonieta de Barros, com a presença do governador Raimundo Colombo, será lançado o Reviver - Programa Rede Estadual de Atenção a Dependentes Químicos. O projeto vai oferecer 1.200 vagas em comunidades terapêuticas do Estado, 900 para adultos e 300 para menores de idade, em convênio firmado entre o governo do estado e a Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina), com apoio da Assembleia Legislativa por intermédio da Comissão de Prevenção e Combate às Drogas. Em 2013, R$ 5,9 milhões serão investidos no Reviver.

Alexandre Back
Agência AL

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