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01/09/2014 - 11h00min

“Quero perguntar onde está o corpo do Paulo Wright”, diz Derlei sobre encontro com torturador

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Derlei de Luca aguarda encontro com torturador. FOTOS: Carlos Kilian/Agência AL

“Eu não consigo esquecer. Mas eles não esquecem também.” As palavras da ex-presa política da Ditadura Militar, Derlei Catarina de Luca, resumem o clima de expectativa para o início da tarde desta segunda-feira (1º), quando a catarinense deve se encontrar com um dos seus torturadores, 40 anos depois de sentir na pele os choques elétricos da cadeira do dragão e as dores do pau-de-arara. Homero Cesar Machado, coronel da reserva do Exército, confirmou o depoimento para a Comissão Nacional da Verdade, às 14 horas, no gabinete regional da Presidência da República, em São Paulo.

“Eu lembro direitinho do rosto dele. Mas nunca mais vi. Hoje deve estar velho. A idade chega para todos”, observou Derlei, que foi presa na capital paulista em novembro de 1969, na Operação Bandeirante. “Queria perguntar onde está o corpo do Paulo [Stuart] Wright.” Derlei e o ex-deputado estadual, desaparecido na época do regime militar, eram amigos e militantes da Ação Popular (PP).

Na manhã desta segunda, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) ouve presos políticos torturados pelo coronel Homero, dentre eles Derlei. À tarde, todos devem se encontrar com o algoz. “Quando soube do encontro [na última terça-feira], passei a noite acordada. Mas hoje estou tranquila. Também, 30 anos de tratamento psiquiátrico deixam a gente mais tranquila, né?!”, disse Derlei à Agencia AL.

Rosa Cardoso da Cunha, membro e ex- coordenadora da CNV, explica que há uma rede de comunicação entre os ex-militares, que orienta o silêncio durante os depoimentos à comissão. “Outros ainda enviam atestados médicos de hospitais do Exército e não comparecem às audiências”, disse Rosa.

A CNV deve concluir o relatório em dezembro deste ano, com a contribuição de várias comissões formadas nos estados, dentre elas a Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright, de Santa Catarina.

Trechos do depoimento de Derlei à Comissão Nacional da Verdade:
“Eu tinha muitas feridas nas costas, na cabeça, caiu uma parte do cabelo. Minhas mãos tinham uma crosta. Estava muito machucada. Acho que não me soltaram antes por isso, estava muito machucada. Cheguei a Santa Catarina na semana da Páscoa. Fui solta sem nenhum registro, sem nenhum papel. Só teve um registro do carcereiro que anotou o nome dos presos”.

“Eu ganhava tanta palmatória, que minha mão inchava e saia um pus fedido. Nem o feijão que traziam no fim da tarde eu conseguia comer porque não conseguia segurar a colher. A Elza Lobo [companheira de cela] que dava comida”.

“Eu era cristã, católica e continuo. Tenho muita proteção divina que me ajuda a não ter ódio, não consigo guardar raiva. Tenho pena desses torturadores que devem ter a alma negra, perturbada. Eles têm a alma pesada. Nós temos a alma leve. Não fizemos nada de errado. Não torturamos e não matamos ninguém. Nos reuníamos para ajudar”.

“Fui de ônibus para Florianópolis [depois de ser solta] e consegui descer no Estreito. Tinha medo de entrar na Ilha e ser presa de novo. Pedi dinheiro na rodoviária, uma senhora me deu a passagem e me deu comida. Fui para Tubarão”.

"Não tinha nada de ciência na tortura. Era tudo muito brutal".

Rony Ramos
Rádio AL

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