Prevenção a eventos climáticos é pauta de missão internacional no Japão
Buscar na experiência do Japão formas de lidar e, principalmente, monitorar a ocorrência de catástrofes naturais. Foi com esse propósito que a delegação catarinense em visita ao país se reuniu com representantes da Jica (Agência Japonesa de Cooperação Internacional). O órgão é o braço do governo japonês responsável pela implementação da assistência oficial aos países em desenvolvimento. As relações de cooperação técnica entre Brasil e Japão tiveram inicio em 1959, mas foi a partir de 1976,dois anos após a fundação, que a agência passou a atuar em território brasileiro.
Hoje, o órgão é um dos principais parceiros de Santa Catarina no enfrentamento de intempéries. A mais recente foi a passagem de tornados que atingiram as cidades de Ponte Serrada e Xanxerê, no oeste catarinense, deixando um rastro de destruição. De acordo com os laudos elaborados pela Defesa Civil, Xanxerê teve 38 empresas atingidas e 2.178 casas total ou parcialmente destruídas. Pelo levantamento, 4.275 pessoas ficaram desalojadas e 539 desabrigadas após os fortes ventos. Os prejuízos financeiros ultrapassaram a marca dos R$ 100 milhões. Durante a visita à sede da Agência, em Tóquio, o presidente da Assembleia Legislativa e chefe da delegação catarinense, deputado Gelson Merisio (PSD) mencionou estudos que apontam para novas ocorrências do gênero na região. O parlamentar destacou o fortalecimento dos laços com a Jica para investir na prevenção. “É muito importante nós nos prepararmos para outros eventos de magnitude maior, menor ou igual. Precisamos dar uma resposta que minimize o impacto de quando essas catástrofes ocorrem”, disse Merisio.
Outra frente em que a Agência tem sido importante parceira é em relação à prevenção das cheias que castigam o estado de forma cíclica. O histórico de Santa Catarina mostra que as maiores ocorrências registradas são enxurradas e deslizamentos e o Japão tem várias experiências no monitoramento dessas ocorrências. Foi a partir dessas semelhanças que surgiu em 2013, o projeto redes do Governo Federal. As ações envolvem os ministérios das Cidades, Integração Nacional e Planejamento, além dos estados do Rio de Janeiro e de Santa Catarina. O foco do trabalho é na prevenção de desastres naturais como os que aconteceram nos anos de 2008, 2011 e 2012. O secretário adjunto da Defesa Civil de Santa Catarina, Rodrigo Moratelli, que participa, em Tóquio, do Programa de Fortalecimento de Gestão Integrada de Desastres Naturais promovido pela Jica diz que “todo o trabalho feito no Japão visa conhecer a legislação nacional, buscar novas metodologias e principalmente aplicar um pouco daquilo que está sendo feito no Japão nas ações diárias de monitoramento e alerta e também de desenvolvimento e planejamento urbano nos municípios catarinenses”.
Em Santa Catarina, as ações da Rede se concentram em Blumenau, na Região do Vale. Segundo o diretor assistente da Divisão da América do Sul, América Latina e Caribe/Jica, Kobayashi Chiak, o projeto visa a elaboração de um plano diretor para a cidade voltado para a prevenção de enchentes: “nós escolhemos o município de Blumenau porque lá são registradas as maiores ocorrências de deslizamentos. A intenção é que o Estado de Santa Catarina também possa disseminar os conhecimentos que serão implementados em Blumenau para outros municípios”, disse o diretor.
Saneamento básico e segurança
Além do enfrentamento das catástrofes naturais, a Jica vem priorizando áreas específicas para colaborar com o governo brasileiro. Atualmente são dois os segmentos prioritários. O primeiro é a gestão dos problemas gerados pela urbanização. O segundo, acesso ao saneamento básico. De acordo com Chiak, Santa Catarina é um dos estados brasileiros com quem a Jica mantém relações de cooperação, através da Companhia de Águas. “Acabamos de receber uma solicitação da Casan para mudar o escopo do projeto”, disse o diretor. “O foco seria a implantação da estação de tratamento e a canalização do esgoto”. O próximo passo é realizar uma missão técnica para avaliar esse processo de mudança. A expectativa é que isso aconteça entre o final de julho e o início de agosto. “Se a análise for positiva, vamos viabilizar uma cooperação financeira para a Casan implementar as obras planejadas”, acrescentou Chiak.
O presidente da Assembleia destacou a parceria como uma forma de melhorar a condição do Estado nesse quesito, uma vez que, nos demais, Santa Catarina ostenta alguns dos melhores indicadores do país. O parlamentar disse que o Legislativo vai trabalhar com a Casan para que o pleito da Companhia junto à Jica seja atendido o mais breve possível. “O que temos aqui é um grande programa de financiamento em curso para as cidades balneárias que estão no foco dos investimentos da Jica e da Casan”, lembrou o presidente. “Por isso, estar próximos e valorizando o trabalho da Agência é importante para Santa Catarina e para as cidades que terão os recursos assegurados.”
Outro projeto que a Agência propõe implantar no Estado é o que cria as chamadas unidades de polícia comunitária. A ideia nasceu no Japão e foi implantada de forma inédita em São Paulo para reduzir os índices de criminalidade. A Secretaria Nacional de Segurança Pública que operacionaliza o projeto no Brasil estendeu a iniciativa para os estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Para a diretoria da Jica essa é uma forma não apenas de combater o crime, mas também de promover um clima de segurança que garante a tranqüilidade do cidadão e conquiste a confiança dos investidores. “Especialmente as empresas japonesas têm medo de investir no mercado brasileiro por causa do quesito segurança pública”, destacou Chiak. “Se houver uma melhora nesse sentido também pode aumentar a captação de investimentos do Japão”. O presidente do Legislativo manifestou interesse em incluir o Estado nesse circuito. “Nós queremos agora expandir essa atuação para Santa Catarina”, disse ele. “Por isso vamos levar esse pleito ao governador para que junto com o Ministério da Justiça possa – já na ida da Jica agora em julho – incluir Santa Catarina em um programa que desenvolva a polícia comunitária de forma eficiente e com os recursos necessários para que essa aplicação se efetive”, garantiu.