Preocupação com água contaminada mobiliza Massaranduba
FOTO: Solon Soares/Agência AL
Os casos de contaminação do rio Sete de Janeiro, que abastece o município de Massaranduba, no Norte do estado, foram debatidos em audiência pública da Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, na noite de quarta-feira (23). Em duas ocasiões, nos meses de janeiro e abril deste ano, os mais de 17 mil habitantes tiveram o fornecimento de água comprometido diante da suspeita de contaminação pelo despejo de produtos químicos no rio.
A audiência foi realizada na Câmara de Vereadores de Massaranduba, a pedido de lideranças da comunidade, que manifestaram preocupação com a qualidade da água consumida pelos moradores. “O papel desse debate é mostrar para os órgãos de controle e para os responsáveis pela contaminação que estamos vigilantes quanto ao problema e queremos uma solução”, disse o presidente da Comissão de Turismo e Meio Ambiente, deputado Ivan Naatz (PL).
O primeiro caso de suspeita de contaminação aconteceu em janeiro deste ano, quando operadores da estação de tratamento notaram características da água fora do padrão, como espuma, cor vermelha e mau cheiro. A situação se repetiu em abril. Amostras coletadas pela Empresa Brasileira de Saneamento (EBS), contratada pela prefeitura para a operação do sistema de abastecimento de água, apontaram a presença de substâncias em quantidade acima do nível permitido pela legislação.
“A partir da constatação da presença de produtos químicos prejudiciais para o consumo, iniciamos de imediato o processo de despoluição da água. Acontece que os nossos reagentes não estavam funcionando de forma eficiente no combate à contaminação, por isso optamos pela suspensão do abastecimento”, explicou Ari César Gonçalves Júnior, gerente operacional da EBS.
Empresa responsável por aterro assume a culpa
De acordo com a secretária de Planejamento e Meio Ambiente de Massaranduba, Viviane Hafemann, a empresa Momento Engenharia, responsável pela gestão de um aterro sanitário na região, assumiu a responsabilidade pela contaminação ocorrida em abril. Sobre o caso de janeiro, a empresa não reconheceu a culpa, mas, segundo Viviane, os laudos da prefeitura constatam que a contaminação é semelhante.
“Nós fazemos o acompanhamento diário da situação do rio, com a ajuda da população que mora no entorno. São eles que percebem os primeiros sinais de contaminação e a nossa equipe vai pessoalmente ao local confirmar. A cada anormalidade, fazemos a coleta e encaminhamos para fazer as análises, para que não aconteça novamente na mesma proporção que aconteceu daquela outra vez”, afirmou a secretária.
“Nem para animal beber”
O rio Sete de Janeiro passa pelo terreno da moradora de Massaranduba, Patrícia Bevian. Ela diz que, desde que se mudou para o município, em outubro de 2020, nunca viu a água do rio pura e límpida.
“Como mãe e moradora, não quero mais essa água dentro do meu terreno. Ela não dá nem para animal beber, quanto mais uma pessoa. A contaminação é diária, não é esporádica. Não é uma vez ou outra, é todos os dias”, contesta.
Também morador de Massaranduba, Moacir Kasmirski reclama que os órgãos responsáveis aprovaram o licenciamento ambiental para a construção do aterro sanitário, sabendo dos riscos que poderia causar ao meio ambiente. “Mesmo tendo conhecimento que a coleta da água para o abastecimento da população ficava embaixo do aterro, os órgãos concederam a licença”.
MP e IMA acompanham o caso
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) e o Instituto do Meio Ambiente (IMA) abriram processos para investigar o caso. Conforme explicou o diretor de Engenharia e Qualidade Ambiental do IMA, Fábio Castagna da Silva, o órgão realizou, até agora, doze vistorias de fiscalização, emitiu seis notificações ambientais para regularização, melhorias e adequações de controle, além de três autos de infração ambiental destinados à Momento Engenharia.
“Existem muitos indícios, isso é fato. E a própria empresa admitiu problema com o extravasamento de lagoas de estabilização por falhas operacionais. Mas quero que saibam que os órgãos responsáveis não estão parados. Estamos adotando todas as medidas possíveis para tentar resolver o problema”, afirmou o diretor do IMA.
AGÊNCIA AL