Pesquisadores apresentam estudo sobre fosfoetanolamina
A Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa promoveu nesta quinta-feira (10), em parceria com a Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, o “Seminário catarinense fosfoetanolamina, uma esperança para a vida”, destinado a debater e esclarecer a eficácia da substância no tratamento do câncer. O evento, realizado no Auditório Antonieta de Barros, contou com a participação do coordenador da pesquisa sobre a substância na Universidade de São Paulo, Gilberto Orivaldo Chierice, e sua equipe, além de representantes de entidades da área da saúde, médicos oncologistas e pacientes que fazem uso da substância.
“O Brasil tem acompanhado com muita atenção o debate sobre a fosfoetanolamina, que trouxe uma esperança para os pacientes com câncer”, disse a presidente da comissão, deputada Ana Paula Lima (PT), na abertura do seminário. Ela informou que houve mais de 7,6 mil mortes em decorrência de câncer em Santa Catarina em 2014. Para 2016, a estimativa é de que 600 mil novos casos serão diagnosticados no Brasil. “Precisamos falar sobre esse tema e conhecer as possibilidades de cura”, defendeu Ana Paula.
O deputado Vicente Caropreso (PSDB), falando em nome de todos os parlamentares presentes no evento, parabenizou os pesquisadores e entidades participantes e desejou que o seminário cumpra sua função de levar às pessoas o direito à informação. “A gente torce para que essa medicação seja de uso comum, mas de uso seguro, respeitando a ética e o direito do paciente.”
A estudante Thalita Vergara Bautista, 25 anos, foi diagnosticada com leucemia mielóide aguda e tem ouvido falar sobre a eficácia da fosfoetanolamina no tratamento de tumores. “Eu vim ao seminário para saber mais sobre a substância e se serve apenas para o tratamento de um câncer que atinge um determinado órgão, ou se também posso utilizar. Também quero saber onde posso conseguir as pílulas”, disse.
Como a fosfoetanolamina funciona
Salvador Claro Neto, doutor em Química, único pesquisador da equipe de Gilberto Chierice que continua na USP de São Carlos produzindo a substância, fez uma apresentação técnica sobre o funcionamento da descoberta. “Se conseguirmos uma substância que cure pelo menos 50% dos tipos de câncer, se essa cura for possível, ela deve pertencer à humanidade”, adiantou.
O câncer surge de uma disfunção celular, de origem proteica ou lipídica, conforme o pesquisador. O caminho de atuação da fosfoetanolamina é a disfunção de origem lipídica. “Desde os anos 80 sabe-se que a mitocôndria da célula com câncer não funciona. A célula com câncer tem uma respiração anaeróbica, gera menos energia e é uma fonte poluidora, pois produz acidez. O excesso de acidez dentro da célula provoca uma mutação no DNA, gerando uma célula diferenciada, que ao se reproduzir gera o tumor. Qualquer célula de câncer tem essa característica”, ensinou.
Conforme a pesquisa, o gerador da disfunção celular é o mau funcionamento da mitocôndria, provavelmente provocado pela falta de ácido graxo. A partir da ingestão da fosfoetanolamina, associada a uma dieta rica em óleos essenciais, o fígado do paciente sintetiza a substância fosfatidiletanolamina, que vai atuar dentro da célula do câncer para recompor a membrana mitocondrial. Chegando à membrana da matriz, ela descarrega o ácido graxo e faz a mitocôndria voltar a fosforilar (produzir energia). Como o DNA da célula está modificado, o núcleo da célula não suporta aquela energia e manda a mitocôndria parar. Esse processo leva à morte da célula, e com isso o organismo começa a eliminar o tumor. Na prática, a substância sinaliza as células cancerosas para remoção pelo sistema imunológico. “Não tem truque e não tem veneno. Estamos apenas fazendo a mitocôndria voltar a funcionar. Nunca vamos curar o câncer se não for pelo nosso próprio metabolismo”, ressaltou Claro Neto.
Na opinião do pesquisador, o resultado derruba a tese de que o câncer é provocado por fatores genéticos. “Deixamos de olhar para o DNA como causador do câncer, isso é inédito na medicina. A alteração do DNA é uma consequência do câncer, não a causa.” Há 25 anos, quando a equipe do doutor Gilberto Chierice iniciou a pesquisa, não havia nenhum trabalho científico sobre uso da fosfoetanolamina no tratamento do câncer. Hoje são mais de 1,1 mil.
Como a substância é produzida
Outro pesquisador da equipe, o doutor em Ciências da Saúde Otaviano Mendonça informou que a fosfoetanolamina é sintetizada a partir do ácido fosfórico, além de etanol, hidrogênio e oxigênio. “São as substâncias mais abundantes que temos no nosso planeta, por isso a fosfoetanolamina é muito barata”, disse. A pílula é completamente segura, conforme o pesquisador. Ele revelou que há 25 anos alguns membros da equipe tomam duas pílulas por dia, dosagem calculada a partir da quantidade de ácido graxo que a pessoa tem no organismo.
O coordenador da equipe, Gilberto Chierice, complementou que a fosfoetanolamina é uma substância que o ser humano tem no organismo. Por isso a substância sintética não causa toxicidade nem interação medicamentosa. Ele explicou como a pesquisa foi realizada ao longo de mais de 20 anos com diversos grupos de pacientes com câncer. Citando as acusações e perguntas que lhe são dirigidas diariamente, disse que existe muito cinismo em relação às pessoas doentes e sugeriu que, por interesses financeiros, muitas instituições não estão interessadas em tornar a substância acessível. “É uma pílula muito barata. Até salário de professor aposentado pode financiar esse tratamento. Se Santa Catarina quiser a patente, podemos produzir aqui. Se não for aqui, será em qualquer lugar”, assegurou.
Chierice já recebeu propostas para produzir a fosfoetanolamina em outro país, mas acha que esse patrimônio científico deve ficar no Brasil. “A gente está falando muito, está fazendo muita política. Enquanto isso está morrendo gente. Vocês só ouviram falar de mim quando tentaram colocar a mão na fosfoetanolamina. Senão, vocês nunca teriam ouvido falar de mim porque ciência não é imagem, ciência você faz para o mundo, e a partir daí você não é mais dono.”
Discussão
A segunda parte do seminário foi dedicada ao debate com entidades ligadas à área da saúde e aos questionamentos dos participantes. Como ter acesso à substância foi a pergunta mais repetida durante o evento.
Agência AL